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RAP

Rappers lançam segunda parte da música “A Luta Continua”

Estreia acontece com a participação de mais mulheres e artistas LGBTQIAP+

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Música está disponível no youtube - Reprodução/YouTube

Está no ar a segunda parte da música-manifesto “A Luta Continua”, que reuniu artistas do Hip-Hop de todo o DF e Entorno em apoio à candidatura de Lula neste segundo turno.

Na música, os rappers denunciam a corrupção do governo Bolsonaro: “O orçamento é secreto, mas ‘né’ segredo. Você só tem a oferecer ódio e medo. 30 milhões com fome, 100 milhões na miséria. 3 ‘veiz’ a população da Venezuela”. 

Segundo GOG, poeta e cantor, as vozes das duas músicas foram gravadas em apenas 2 dias, com a participação de 54 grupos, “cada um doando seu trabalho para que as coisas acontecessem”.

A faixa reúne artistas ‘das antigas', que já fizeram escola, como GOG, Dr. Zumba e Afro Ragga, responsáveis pela escrita da letra, e novos talentos. Amaro, um dos artistas convidados da nova geração, disse que receber o convite de GOG para participar da faixa foi uma grande honra.

“Uma galera dessa geração com certeza me influenciou para que hoje eu pudesse fazer Rap. Fiquei muito feliz do meu trabalho ter sido lembrado como uma potência, como uma possível colaboração dentro desse projeto”, conta.

:: Rappers do DF lançam música-manifesto em apoio a Lula ::

A música perpassa grande parte dos temas cruciais nas eleições, como a fome, a má gestão da pandemia e a devastação da Amazônia, e dos escândalos que surgiram durante o governo Bolsonaro. “700 mil mortos, imóveis em dinheiro vivo. Pra investigar 89 mil motivos. Falta PF na mesa do povo. Olha só, ‘cê’ interferiu na PF de novo. Assim é fácil dizer que a corrupção zera. De rachadinha em rachadinha no Brasil faz cratera. Ministro da educação pedindo barra de ouro. A honestidade era lenda, era mito ouro de tolo”, diz um dos trechos da música.

“Se faltou alguma coisa, foi porque essa coisa aconteceu durante a semana que a gente estava gravando. Se não a gente teria colocado essa fita da pedofilia, de sentir o clima, mas a gente falou de homofobia, sexismo, misoginia, racismo”, conta GOG.

Segundo ele, outra questão importante na produção foi a equidade de gênero. “A gente queria ter grande participação de artistas mulheres, pra gente ir quebrando pelo menos simbolicamente essa cena do machismo no rap”, explica. Ao todo, nas duas faixas de “A Luta Continua”, 13 vozes femininas estão presentes. 

A questão de gênero é destaque também na letra da parte dois da canção, quando são citadas falas machistas e racistas que Bolsonaro proferiu ao longo de sua carreira política.

Dree-K, uma das rappers que participam da faixa, explica que seu posicionamento contra Bolsonaro nessas eleições advém do fato deste candidato ser uma ameaça à existência de pessoas como ela.

“Diante dos fatos desses últimos quatro anos, inúmeros mortos, casos de racismo e de violência contra pessoas LGBTQIAP+,  seria omissão da minha parte, como mulher, rapper e lésbica que pouco performa feminilidade, que já sofreu lesbofobia, ficar em silêncio diante desses horrores, vendo pessoas que dizem me amar apoiando quem deseja a minha morte e quem fala com orgulho que é homofóbico sim”, explica a artista.  

Amaro, artista que também representa a comunidade LGBTQIAP+ na cena do Rap no DF, falou da importância da presença de pessoas queer no projeto de “A Luta Continua” como um recado para aqueles que ainda insistem no apagamento desse grupo dentro do movimento Hip-Hop. 

“Ter a presença de pessoas que são LGBTQIAP+ dentro desse projeto traz a certeza de que o Rap, aos poucos, está se movimentando também e permitindo uma adesão maior a nossa comunidade, que sempre existiu dentro do movimento Hip-Hop, mas que tem sua existência sistematicamente negada”, explica. 

Rap é compromisso

Dentre as motivações citadas pelos artistas que aceitaram o convite para a música-manifesto que apoia a candidatura de Lula, estão, as posturas fascistas do atual presidente Jair Bolsonaro, mas, também, os avanços positivos que as quebradas tiveram durante o governo do petista. 

Fugazzi MC, mulher preta, moradora de periferia e produtora cultural, conta que escolheu se posicionar a favor de Lula levando em consideração a mudança positiva que o candidato representa para sua comunidade.

“Escutei as melhores propostas para as pessoas que moram na minha comunidade, que passam fome, que morrem nas filas de assistências sociais, que morrem nas filas dos hospitais. Sou portadora de doença crônica e dependo da Farmácia Popular do SUS. Então, levei em consideração a mudança pelo povo pobre, preto, do gueto”, explica. 

Entretanto, essa visão não é homogênea na quebrada, nem na própria cena do Rap. São frequentes os comentários, por exemplo, nas redes sociais de GOG, de fãs que se dizem decepcionados com o posicionamento do artista.  

“O Rap sempre foi antissistema, mas o sistema que esteve aí secularmente no Brasil é um sistema de direita. Já o sistema de oposição esteve muito mais ligado a uma visão de esquerda. Então, o Rap sempre teve uma maior proximidade com a esquerda. Só que, agora, tem aquele debate, principalmente por parte de quem não é politizado, que acha que a esquerda e a direita são duas asas do mesmo pássaro, o que não é verdade. São pássaros diferentes com suas asas e suas garras”, explica GOG. 

Conquistando votos

Apesar dessas discordâncias, o artista acredita que o projeto musical obteve um resultado muito positivo, principalmente entre as pessoas que estavam indecisas ou que se abstiveram no primeiro turno. Segundo ele, isso aconteceu devido à credibilidade que os artistas do Rap têm em suas comunidades. 

“Mesmo os artistas que não tem tanta reverberação nacional, mas que nas suas quebradas fazem trabalho de base, têm muita credibilidade. Então, aquela pessoa que estava indecisa, toma a decisão. Eu atendi não foi um, nem dois, nem três, nem quatro, foram dezenas de pessoas que chegaram com dúvidas, querendo desabafar, trocar ideia. E você tem que ter aquela paciência pra virar o voto. Na realidade, eu virei dois votos só, mas o que eu convenci de pessoas que se abstiveram, que votaram nulo, que votaram em branco, essa quantidade foi expressiva”, conta o poeta. 

Essa credibilidade dos artistas do Rap com o povo e as quebradas evidencia a importância de “A Luta Continua”. Ainda assim, GOG denuncia a dificuldade enfrentada para conseguir vincular a música em páginas e perfis para divulgação, mesmo dentro da própria esquerda, enquanto artistas com maior espaço no mainstream conseguem emplacar músicas com facilidade, mas que não tocam, de fato, o povo. 

“A gente fica muito chateado porque sabemos que a disputa maior não está na classe média, mas, sim, na periferia. E aí chegam com músicas bonitinhas, gravadas por exemplo pelo pessoal da MPB, mas com linguagens que não atingem a periferia. E vem daí a necessidade, foi por isso que nós criamos a luta continua”, explica. 

Participação

No Rap, assim como na periferia, a união faz a força. A parte dois da música-manifesto contou com a participação de mais de 30 artistas do DF e Entorno:  DJ Tiago, GOG, Dr Zumba (MOVNI), Xandy (Mente Consciente), Fugazzi, Lio (Liberdade Condicional), Dona Rayla, Mano Dé (Filosofia Negra), Marquin (Tropa de Elite), Nego Wallace (Brookly000n 61), Loyd (Natiruts), Afro Ragga (MOVNI), Lirys Cristina, OG Kefa, Gabriel (Coktel Molotov), Neem (Coktel Molotov), Larissa, Flávio 3D, Babi, Chamas (Voz Sem Medo), Figuret, Negro Sim (Disparo Verbal), Paula Hosana, Markão (Baseado nas Ruas), Negra Eve, Cristyle, Cahegi, Tarcísio Pinheiro, Kliff, Amaro, Josh e Dree-K.

A parte dois de “A Luta Continua” está disponível no link

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Edição: Flávia Quirino