Palhaço e política têm sido um binômio no mínimo interessante através dos tempos.
No dia 4 de março o secretário especial de Comunicação da Presidência da República sai do carro oficial e abre a porta para o Presidente. A figura sai carregando um cacho de bananas e as distribui aos jornalistas, agride verbalmente apoiadores, movimenta-se toscamente como um ogro troglodita de Neandertal de um lado para outro: "Não vão fazer perguntas? Não querem bananas? Você cala a boca, tá okey?" Depois de alguns minutos de constrangimento um jornalista grita: Não é o presidente, é um palhaço.
Mas antes que algum fanático no cercadinho "xingasse" o jornalista de comunista todos percebem que a caricatura realizada naquele momento pelo humorista Carioca foi tão violentamente afetada que ninguém percebeu se tratar de uma imitação.
Palhaço e política têm sido um binômio no mínimo interessante através dos tempos. Depois do monopólio do Tiririca durante uma década como palhaço protagonista na política, o Bozo tem, há pelo menos 4 anos, ofuscado o brilho do palhaço profissional. O que deve causar profunda inveja no Tiririca, ao ser desbancado por um amador que tem sido melhor palhaço do que presidente.
Segundo o querido Palhaço Pepino, candidato a Deputado Distrital nestas últimas eleições, Tiririca não cumpriu suas únicas duas promessas de campanha: a primeira que diria pra gente o que um deputado faz, sendo que ele não sabia apesar de candidato. Descumpriu, pois não nos disse, quando eleito; e a segunda tinha o bordão: Vote Tiririca, pior que está não fica. E ficou, inclusive, por contribuição dele próprio no golpe que implantou o programa Ponte Para o Fascismo.
A imagem do palhaço também é usada na política como forma de protesto,
Alguns manifestantes, se julgando criativos, artísticos e bem humorados, compram narizes de palhaço de plástico e correm para a porta de algum estabelecimento, provavelmente onde estão os patrões, governantes ou legisladores, e com cartazes e gritos de ordem verbalizam suas insatisfações.
Em algum lugar na história, se tornou senso comum, que estará sendo feito de palhaço qualquer pessoa que esteja sendo passada pra trás: "Estão nos tratando de palhaço" "Não seremos feitos de palhaço". Sem falar na piada mórbida quando as elites vestiram sua camiseta da corrupta CBF, colocaram um nariz de palhaço e foram para a Av. Paulista gritar: Não vamos pagar o pato. Deixando, obviamente implícita a continuação da frase: Os pobres que o paguem.
Em entrevista ao maior circo do país, um especialista em alegria e felicidade disse: 'O presidente parece um bobo da corte.' Essa expressão está mais do que correta.
O bobo da corte é alguém que tem acesso ao salão real, puxa o saco do imperador, as vezes come a sobra do prato de um duque, bebe a sobra da taça de vinho de um marquês e se orgulha de poder ser visto ao lado de um conde. Mas vai dormir no gueto, no chão úmido. Arrotando na cara dos plebeus iguais a ele, como se fosse um burguês. Ou seja, corre sangue de puxa saco de patrão nas veias do bobo da corte. O presidente é o bobo da corte, e o capitão do mato se identifica com ele.
Porém, o humor ultrajante que esse bobo da corte, destila em suas lives, programas de televisão tipo Ratinho e Siqueira JR, e entrevistas no cercadinho do Planalto, mostra que o tiozão do é-pavê-ou-pá-cumê não é um palhaço frustrado, mas sim um frustrado tentando se passar por palhaço. Não é um ser humano que falhou enquanto presidente e tenta acertar enquanto palhaço, mas alguém que falhou como ser humano e tenta se salvar enquanto boçal, e aí sim, com sucesso.
O palhaço Bozo, no passado, nos proporcionou muitas alegrias. Uma pena que sua imagem tenha se colado a imagem desse Bozo, que nos proporciona tragédias. Mas no presente, o Bozo original nos traumatizou também com algum constrangimento.
O ator que por anos interpretou o Bozo na televisão, aparece mandando uma mensagem para o bobo da corte/presidente dizendo que tem seu nome na calçada da fama, que ganhou cinco Troféus Imprensa e que foi considerado o melhor palhaço do mundo. Diz: A esquerda está elogiando o nosso presidente quando chama ele de Bozo, portanto, Bolsonaro, se orgulha de ser chamado de Bozo. O ator não vem a público pedir que não associem o nome da figura de um palhaço que representa alegria a figura de um sujeito tosco, tacanha e mórbido.
A pior gag de palhaço é quando tem mais de um palhaço sem graça. Aí não é gag, é gangue. O Bobo da Corte do Planalto está rodeado de bufões prontos para assumir o picadeiro. A primeira dama, por exemplo, em uma cena que provavelmente já foi realizada por algum palhaço de qualidade discutível, proferiu semanas atrás, ao que parece sem qualquer intenção de causar risos, aquela típica piada do tiozão do é-pavê-ou-pá-cumê: Os surdos desculpem, mas hoje estamos sem acessibilidade, tem algum surdo aqui? Quem é surdo levanta a mão. (Lágrimas).
E infelizmente não conseguimos esquecer disso: "É aquele pum produzido com talco espirrando do traseiro do palhaço...Fazendo a risadaria feliz da criançada? Cultura é assim, é feita de palhaçada!", disse a ex-atriz, ex-rainha da sucata, ex-namoradinha do Brasil e ex-secretária especial da Cultura ilustrando que o que sai do rabo do palhaço é pum de talco e não medidas provisórias e PECs desastrosas.
Um melodrama no qual os palhaços querem ver o circo pegar fogo. Quem vai tocar fogo no circo?
BolsoNero, isso, Nero é mais uma figura grotesca que entra pro imaginário burlesco da humanidade como um imbecil que mandou tocar fogo na própria cidade. O incêndio de Roma teve início (quem diria?) exatamente nas lonas do Circo Máximo e rapidamente se espalhou pela cidade. Nero estava na distante e fantástica Vila Imperial, e em um retorno midiático e político reconstrói a cidade. Como alguém que despreza o Bolsa Família a vida inteira, mas usa o Auxilio Brasil como plataforma de campanha, ou como alguém que despreza as vacinas, mas em véspera de eleição diz que as distribuiu a todo o país.
Somos palhaços nos orgulhamos disso. Seguimos provocando riso, alegrando e irritando. Lutando e trabalhando na construção de um Brasil que não precise mais ter medo de palhaços. Construindo um Brasil onde palhaço não seja xingamento, mas miliciano sim.
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*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino