Após ser suspensa por causa da Pandemia de Covid 19, a Mostra Competitiva de Cinema Negro Adélia Sampaio, está de volta a Brasília. A atividade acontece de 6 a 12 de novembro e vai exibir 22 filmes, um videoclipe e uma mostra infantil de cinema em escolas. Tudo de graça.
Em sua quinta edição, o evento recebeu 94 inscrições de todo o Brasil, e ainda do Caribe e da África. A curadoria composta por Edileuza Penha, Natasha Craveiro e Melina Bonfim, escolheu 22 obras que irão concorrer ao troféu Adélia Sampaio em nove categorias. Sendo elas: longa metragem, média metragem ou telefilme, curta metragem, júri popular, direção, direção de arte, fotografia, trilha sonora, montagem, roteiro e atriz.
A proposta surgiu em 2014 com um edital do Ministério da Educação e Cultura. “A UnB abriu edital interno e foi quando propusemos um encontro nacional de cineastas negras com a proposta de uma mostra competitiva de cinema negro feminino”, explica Edileuza Penha, uma das curadoras.
A curadoria se dedicou à produção de mulheres negras cis e trans com curtas, médias e longas metragens, e também documentários, ficções, animações e um videoclipe. As obras representam todas as regiões brasileiras, República Dominicana, Caribe e Cabo Verde, na África.
"Ainda em meu doutorado, em 2013, percebi a invisibilidade da mulheres cineastas. Foi quando descobri o trabalho de Adélia Sampaio e veio a ideia de homenagear uma cineasta viva - a primeira cineasta negra brasileira, que trabalhou com quase todas as figuras do cinema novo”, acrescenta Penha.
Programação
Na abertura, que aconteceu no domingo (6), foi exibido, no Sesc Presidente Dutra, o filme "AI-5 - O dia que nunca existiu", de Adelia Sampaio. A partir desta segunda-feira (7), tem início a mostra competitiva, no Anfiteatro 10 do ICC Sul, no Campus Universitário Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), de 14h às 21h. A programação conta ainda com oficinas, debates e apresentações musicais, tanto no Sesc quanto na UnB.
O Distrito Federal teve dois filmes selecionados, "Eu era o lobisomem da Cei", de Suéllen Batista, de Ceilândia, e "Me farei ouvir", de Bianca Novais e Flora Egécia, de Brasília. Ainda do Centro-Oeste concorre um filme de Mato Grosso. Do Nordeste, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Bahia têm produções selecionadas.
O Sul é representado pelo Paraná, enquanto o Sudeste, tem obras de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Do Norte, está o Amapá.
As obras concorrem ao Troféu Adélia Sampaio em nove categorias de Melhor: Longa Metragem, Média Metragem ou Telefilme, Curta metragem, Júri Popular, Direção, Direção de Arte, Fotografia, Trilha sonora, Montagem, Roteiro e Atriz.
Uma das novidades deste ano é o lançamento da Sessão Erê, com exibição de filmes infantis em escolas públicas do DF, em parceria com o Festival Internacional de Cinema Kilombinho – Audiovisual negro com crianças, crias e comunidades, criada por Melina Bonfim, com curadoria de Adelia Sampaio. O objetivo é formação de novos públicos, fomentando o interesse no cinema entre diferentes faixas etárias.
Protagonismo
O evento é o primeiro do gênero no Brasil e celebra o pioneirismo e o talento das diretoras e produtoras negras, além de reconhecer a importância delas para a história do cinema.
“De acordo com uma pesquisa da Ancine, o cinema brasileiro é financiado para homens brancos. O percentual de mulheres é pequeno e o de negras, até 2016, quando a pesquisa foi feita, o Estado Brasileiro não havia financiado nenhum filme roteirizado ou dirigido por mulheres negras”, afirma Edileuza Penha.
Vida e obra
Adelia Sampaio é a primeira cineasta negra da América Latina. Ela estreou em 1978 com o curta-metragem "Denúncia Vazia"; em 1984, lançou o primeiro longa, "Amor maldito", do qual também foi roteirista (com José Louzeiro) e produtora.
A película, baseada em fatos reais, inaugura a temática lésbica no cinema nacional, ao retratar a história de amor entre duas mulheres. Uma delas se suicida, em função da polêmica causada em torno do relacionamento e a outra é acusada de sua morte. A produção teve apoio negado pela Embrafilme, o que fez a cineasta realizá-lo de forma colaborativa, em um feito também inédito.
Em 1987, Sampaio dirigiu o documentário Fugindo do Passado: Um Drink para Tetéia e História Banal, sobre a Ditadura Militar no Brasil. Em 2001, dirigiu o longa AI-5 - O Dia Que Não Existiu, em parceria com o jornalista Paulo Markun. Em 2018, dirigiu O Mundo de Dentro, que estreou no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo.
Adelia Sampaio também vai participar do encerramento da mostra, quando também haverá apresentação da Mestra Martinha do Coco. Para Sampaio, “se levou cem anos para surgir uma cineasta negra, daqui para frente, serão milhões. A gente vai falar de nós de uma forma objetiva e, por certo, orgulhosa”.
Confira a programação completa aqui.
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Edição: Flávia Quirino