Distrito Federal

Cinema negro

Filme "Me Farei Ouvir" é abertura de diálogo sobre participação de mulheres negras na política

Documentário será exibido nesta sexta (25), às 19 horas, no Espaço Cultural Renato Russo

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
No início de novembro, o filme foi um dos únicos com produção no DF a ser exibido na Mostra Adélia Sampaio - Divulgação

As atividades do Novembro Negro no Distrito Federal continuam a acontecer. Nesta sexta-feira (25 de novembro), a partir das 19h, o Espaço Cultural Renato Russo exibe gratuitamente o documentário curta-metragem “Me Farei Ouvir". 

Após a exibição, haverá uma roda de conversa sobre a participação das mulheres negras na política com a presença de Ilka Teodoro, Keka Bagno, Roseli Faria e também das diretoras do filme, Flora Egécia e Bianca Novais e a roteirista Dandara de Lima com mediação da jornalista Mara Karina Silva.

O filme, que tem produção brasiliense, discorre sobre a participação da mulher na política brasileira e seus impactos. O roteiro defende maior participação feminina na governança e a paridade de gênero. 

A co-diretora, Flora Egécia, diz que a urgência em produzir um documentário com este tema está nos dados alarmantes sobre a representação das mulheres na política, que demonstram que a população feminina do país, que corresponde a mais da metade, está longe de ser representada pelo baixo número de candidaturas e cargos ocupados.

“O nosso país ocupa a 142˚ posição, entre 187 países, no ranking mundial de representação feminina na política. Na legislatura atual, somos apenas 15% na Câmara dos Deputados e apenas 11% no Senado. Se analisarmos a ocupação por mulheres negras e indígenas o dado é mais alarmante. Dentre os obstáculos encontrados por essas mulheres está a violência política de gênero, estrutura que é reforçada pela predominância de homens, em sua maioria brancos, no parlamento e nos partidos’, diz.

A roteirista do documentário, Dandara de Lima, acrescentou que após as eleições de 2018 muitas iniciativas foram lançadas no país, em busca de maior diversidade na política.

“Acho que tinha muita coisa para ser expressada. Foi um processo de luto coletivo que o país viveu e a que reagimos. Em um ano, tínhamos uma presidenta eleita, dois anos depois o país elegeu o pior exemplo de misoginia que poderíamos imaginar", diz.

Dandara diz ainda que um outro problema que assolou as eleições de 2018 foi que mais da metade das candidaturas indeferidas pela Justiça Eleitoral foi de mulheres e, em sua maioria, por falta de documentação. 

“Entendemos que nem o apoio mínimo era dado pelo partido. Por isso, o projeto surgiu primeiro com a ideia de lançamento de um "Manual para Candidatas" para dar a elas mais autonomia em relação aos partidos. Nos diálogos sobre esse manual surgiu a ideia do documentário como ferramenta mais interessante para disseminação da mensagem sobre mulheres na política. Fizemos os dois, o manual para instrumentalização das mulheres e o Documentário para conscientização por mais mulheres”, conta. A realização do documentário foi possível por meio de financiamento coletivo.

O grupo é uníssono em dizer que o fato de ser mulher já qualifica em algum nível a experiência de estar no mundo, independente do espectro político e ideológico da candidata, por este motivo  acreditam na candidatura de mulheres com diversos perfis. 

"Para que tenhamos um sistema de fato democrático é necessário que tenhamos representantes que contemplem essa diversidade, que tragam para os espaços de poder suas distintas experiências no mundo, demandas, medos e necessidades. Em especial mulheres negras, indígenas, periféricas, lésbicas, trans, entre outros grupos minorizados e, até então, sub-representados na política institucional", reflete uma das diretoras do filme, Bianca Novais. 

Negros e negras na política 

Os dados da participação de negros na política revela desigualdade principalmente quando falamos de mulheres - que já são subfinanciadas como um todo. O  maior grupo demográfico do país e a maior força eleitoreira é o menor em proporcionalidade no Congresso Nacional.

Segundo os principais dados da Pnad Contínua 2019, as mulheres negras representam cerca de 28% da população brasileira. O levantamento feito em 2018 pelo Instituto Pensamentos e Ações para a Defesa da Democracia (Ipad), coordenado pela pesquisadora Marta Costta, escancarava a sub-representação negra no Congresso: dos 513 deputados apenas 24 eram negros, e 4 estavam fora do exercício. Dos 81 senadores, havia apenas três negros. Há atualmente três governadoras negras: Fátima Bezerra (RN), Luciana Santos (PE) e Regina Souza (PI).

Dandara afirma que mesmo com a reserva de fundo eleitoral para mulheres e para pessoas negras, pessoas que sofrem com essas intersecções, ou seja, mulheres negras são as mais prejudicadas por falta de apoio ou dinheiro.

A pesquisa

O grupo realizou além do documentário, uma pesquisa em parceria com a ONG Elas no Poder. Nesta coleta de dados, obtiveram  mais de 4 mil respostas de mulheres que autodeclararam que se interessam por política. 

Os resultados demonstram que a ausência de mulheres é tanto cultural quanto uma posição ativa dos partidos. Ou seja, as mulheres não se veem na política, dizem que “não tem o perfil”.

Segundo Dandara está introjetado nas mulheres que as mesmas são perfeitas para as posições de bastidores, mas não para estar à vista. "Isso é cultural. Mulheres não são suficientemente incentivadas, tanto no ambiente privado quanto no público. Mas, além disso, aquelas que se decidiram por tomar a dianteira tem, via de regra, uma péssima relação com os partidos", explica.

A pesquisa demonstra ainda, que a participação feminina deve ser uma realização coletiva. "A primeira responsabilidade é uma questão ética dos partidos em recrutarem mais lideranças e apostarem nelas com incentivo tanto financeiro quanto moral," diz Dandara. 

Serviço: 

Filme Me Farei Ouvir e Rosa de Conversa

Sexta-feira, 25 de novembro

Horário: 19h

Local: Espaço Cultural Renato Russo

Entrada gratuita. 

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Edição: Flávia Quirino