Ao longo da campanha nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro usou um versículo bíblico situado em João 8:32 para servir como uma espécie de slogan: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Desde então, era previsível que os versos sagrados seriam distorcidos e usados para a manipulação dos eleitores.
Ao dizer que a esquerda buscava destruir as famílias, o então candidato despertou sentimentos de medo alimentando o terror nos lares, sobretudo os cristãos. A realidade mostrou que Bolsonaro nunca esteve preocupado em defender as famílias brasileiras, mas a si mesmo e a seus aliados.
No Evangelho de Mateus, capítulo 25, Jesus conta uma história, e nesse relato, algumas pessoas são elogiadas por cumprirem a vontade de Deus com suas ações. Jesus disse: “tive fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Era estrangeiro e me convidaram para sua casa. Estava nu e me vestiram. Estava doente e cuidaram de mim”. Logo em seguida, as pessoas atônitas, o questionaram sobre o momento em que agiram com atos de bondade para com Ele, e Jesus responde: “quando fizeram isso ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. Aqueles que negligenciaram seu semelhante no momento de aflição e necessidade ouviram: “fora daqui, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos".
“A prática é o critério da verdade”
O mesmo governo que usou a Bíblia para atrair o eleitorado evangélico, mostrou em suas atitudes posturas anti-cristãs ao longo do seu mandato. Sua fala abominável, dirigindo-se à deputada Maria do Rosário, evidencia isto: “eu só não te estupro porque você não merece”. Por trás de uma suposta tentativa de fazer o trocadilho com o seu nome “Messias”, Jair se revelou um anti-cristo.
Enquanto a pandemia avançava, o desemprego aumentava, milhares de famílias entraram em um quadro de insegurança alimentar. Partidos da oposição propuseram à época uma renda básica emergencial de 600 reais; Bolsonaro se opôs e quando foi possível, reduziu o auxílio emergencial para 300 reais.
Ao passo em que as eleições se aproximavam, Jair mentia dizendo ter sido a favor e criador do auxílio. Na bíblia bolsonarista o verso mais importante para sua práxis deve estar escrito: “conhecereis a mentira e a verdade manipulará”.
As famílias brasileiras estão com fome, compram ossos e o Presidente mentiu mais uma vez ao veicular que “não existe fome pra valer no Brasil”.
Na educação básica, o Presidente vetou o reajuste de acordo com a inflação para as merendas escolares em um contexto em que crianças e adolescentes têm na merenda a segurança de comer ao menos uma vez no dia. Aplicando o verso bíblico ao nosso contexto: tive fome, Bolsonaro, e não me deste de comer.
Em 2018, durante um evento militar, Bolsonaro foi xenofóbico com os refugiados venezuelanos ao dizer: “a criação de campos de refugiados, talvez, para atender aos venezuelanos que fogem da ditadura de seu país. Porque do jeito que estão fugindo da fome e da ditadura, tem gente também que nós não queremos no Brasil”.
A insensibilidade e a desumanização do Presidente não reflete o evangelho de Jesus. Atualmente, várias famílias refugiadas estão em situação de rua e desassistidas pelo Estado que na pessoa do seu presidente pouco se importou com a condição das irmãs e dos irmãos sem teto. E como uma denúncia profética, das páginas sagradas sai um grito condenatório: fui estrangeiro, Bolsonaro, e não me abrigaste.
Diante do caos pandêmico, famílias foram destruídas e crianças tornaram-se órfãs. A resposta do governo para o vírus foi negligenciar os cuidados básicos para conter a propagação, atrasar a compra das vacinas e fazer chacota com aqueles que sofriam com a falta de oxigênio.
Sobre as mortes dos brasileiros e das brasileiras, o Presidente respondeu aos jornalistas: “E daí, quer que eu faça o quê?” De acordo com a pesquisa do epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, 4 em cada 5 mortes em decorrência do vírus poderiam ser evitadas se o governo federal tivesse adotado outra postura. Quantas famílias seriam preservadas? E trazendo mais uma vez o texto bíblico para os nossos dias: estive doente, Bolsonaro, e não cuidaste de mim.
Jesus ensina que a postura do cristão com aqueles e aquelas que estão em situação de encarceramento é o acolhimento, é olharmos para aquela pessoa e, também, o enxergarmos em sua face.
Na mesa da ceia de Jesus há espaço para todos e todas, ninguém fica de fora.
Em Sua mesa não há espaço para “bandido bom é bandido morto”, que o presidente tanto defende, mas sim para a ressocialização e o retorno às famílias daqueles e daquelas que antes estiveram pagando pelos seus delitos. Jesus se faz presente em um abraço apertado de um médico ateu a uma mulher trans e não na frase que sustenta e alimenta um sentimento de justiceiro. Estive preso, Bolsonaro, e não me visitaste.
Em cada um desses exemplos, lá estava Jesus ao lado das famílias em situação de insegurança alimentar, refugiadas em situação de rua, enlutadas com as mortes em decorrência da COVID-19, daquelas que sofrem com as péssimas condições do encarceramento em que se encontram seus familiares.
Na última campanha, Bolsonaro disse aos eleitores que a esquerda queria acabar com as famílias. Agora em 2022, vemos a realidade. Ele que tanto disse ser a favor e defensor da família, pisou e destruiu vários lares brasileiros, sobretudo os mais pobres.
Enquanto Jesus diz que veio para que todos tivessem vida e vida em abundância, Bolsonaro promove uma política em que apenas alguns podem viver, a estes a vida é defendida e assegurada, essas pessoas têm um perfil: branca, rica e heterossexual. Já os outros corpos e famílias que fogem desse padrão, são vidas matáveis e que não merecem o luto.
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, a verdade está escancarada: Bolsonaro não tem compromisso com a verdade e nem com o Evangelho. As atitudes do Presidente ferem os ensinamentos de Jesus, e a defesa das famílias brasileiras não passou de uma falácia eleitoreira. Suas ações conduziram o povo ao sofrimento. Que a Verdade nos liberte desse governo anti-cristão de morte.
*Gabriel Sales é coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito - DF.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino