Deputados distritais derrubaram nesta terça-feira (13) o veto do governador Ibaneis Rocha (MDB) que bloqueou a mudança de nome da Ponte Costa e Silva para Ponte Honestino Guimarães.
O texto é de autoria do deputado distrital Leandro Grass (PV) e havia sido aprovado em plenário em outubro do ano passado. A estrutura, uma via de ligação da área central de Brasília ao bairro do Lago Sul, passado sobre o Lago Paranoá, foi construída em 1976 e homenageou o governante responsável pela aprovação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), no ano de 1968, o mais grave da ditadura militar.
A votação contou com 17 votos favoráveis à derrubada do veto contra 4, pela manutenção. “O governador não apontou nenhum argumento razoável para vetar a lei. Nós cumprimos todas as exigências de tramitação e fizemos audiência pública para discutir a mudança”, explicou Grass.
A alteração do nome era uma reivindicação antiga de movimentos de luta pelos direitos humanos no Distrito Federal e tinha como objetivo impedir que a capital do país tivesse monumentos em homenagem a ditadores, como era o caso. Na época da aprovação, no ano passado, Grass destacou que a mudança é uma reparação histórica à memória da cidade.
“Fizemos uma correção civilizatória ao mudar o nome da Ponte Costa e Silva para Honestino Guimarães. A homenagem tem que ser a ideias, pessoas e eventos que estejam em sintonia com valores humanos. E o nome de Honestino representa isso”, afirmou, na ocasião.
Sobrinho do novo homenageado, Mateus Dounis Guimarães disse que a alteração é muito significativa. “É algo muito importante para estabelecer um novo paradigma, de uma sociedade que quer mais humanidade, mais compaixão e mais fraternidade”, afirmou.
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Em 2015, a ponte chegou a ter seu nome alterado para Honestino Guimarães, mas a troca foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) justamente por não ter havido uma audiência pública para discutir a proposta na época, o que foi observado desta vez, durante a tramitação da matéria.
Personagens
O estudante Honestino Guimarães entrou na UnB em 1964, no curso de Geologia. Passou em primeiro lugar no vestibular, na época. Em 1968, já na ditadura militar, o campus da UnB foi invadido por forças de segurança do regime para prender Honestino e outros líderes estudantis, que se opunham ao governo de exceção e militavam contra a ditadura. Ele foi preso e torturado. Após ser solto, e por ordens dos militares, foi expulso da UnB e passou a viver na clandestinidade.
Em 1971, Honestino é eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em outubro de 1973, foi preso novamente, dessa vez pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar), no Rio de Janeiro após cinco anos de clandestinidade. Após mais essa prisão, ele desapareceu.
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Em 1996, o Estado brasileiro reconheceu a responsabilidade por seu desaparecimento. Na ocasião, a família de Guimarães recebeu um atestado de óbito do estudante emitido pela Justiça do Rio de Janeiro, sem mencionar a causa da morte. Em abril de 2014, Honestino Guimarães foi oficialmente anistiado político post mortem pelo governo federal. O Ministério da Justiça determinou a retificação do atestado de óbito para que constasse como causa da morte “atos de violência praticados pelo Estado”.
Já o general Arthur da Costa e Silva foi ditador do Brasil entre 1967 e 1969, e responsável pela aprovação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), no ano de 1968, o mais grave da ditadura militar, que estabeleceu censura, fechou o Congresso, cassou mandatos e abriu caminho para o terrorismo de estado praticado contra opositores, com prisões, torturas e assassinatos de centenas de pessoas.
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Edição: Flávia Quirino