Dois dias depois de realizar o despejo da ocupação da Casa de Referência Ieda Santos Delgado, antiga Casa de Cultura do Guará, o governo do Distrito Federal determinou a inutilização do imóvel, que havia sido parcialmente revitalizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário ao longo dos últimos meses.
"Após a desocupação das mulheres, funcionários de obras da Administração do Guará começaram a tirar as telhas da Casa Ieda. Ao final da tarde a Casa já tinha sua metade descoberta, refém da chuva e intemperes que causarão mais desgaste. O que eles estão fazendo é inutilizando e destruindo o imóvel que há 10 anos se encontrava abandonado e estava sendo revitalizado pelas mulheres de lá", diz um comunicado do movimento nas redes sociais publicado nesta sexta-feira (23).
:: Governo do DF realiza despejo de ocupação que acolhia vítimas de violência ::
O imóvel havia sido ocupado em outubro pelo movimento, que transformou o lugar em um espaço de acolhimento e apoio para mulheres em situação de violência doméstica, interrompendo um abandono de mais de 10 anos da área, que é pública e pertence do Governo do DF. A operação de desocupação mobilizou um grande contingente de agentes públicos e forças de segurança na última quarta-feira (21).
A Administração Regional do Guará informou que a casa atualmente é objeto de parceria público-privada para a instalação do novo Centro de Convivência do Idoso (CCI), em fase de licitação. O órgão, no entanto, não informou quando esse novo equipamento público será disponibilizado. Retomado, o imóvel deverá ser fechado por tempo indeterminado, até sua destinação, sujeito à degradação que vinha consumindo a área há décadas até a revitalização promovida pelo coletivo de mulheres.
"Ibaneis e Administrição evidentemente inimigos da mulher, o esforço que estão tendo pra derrubar o espaço é maior do que o necessário para deixar a casa em ótimas condições pras mulheres lá abrigadas", acrescentou o Movimento Olga Benário nas redes sociais.
Saiba mais
A ocupação era a 13ª do Movimento Olga Benário no país, sendo a primeira no Centro-Oeste, foi batizada de Casa Ieda Santos Delgado, em homenagem à militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) durante a ditadura militar, estudante que se formou em ciências jurídicas e sociais pela Universidade de Brasília (UnB), em 1969. Devido à sua atuação política, que se iniciou ainda no movimento estudantil, foi presa pelo regime em abril de 1974, quando desapareceu. A Comissão Nacional da Verdade concluiu que Ieda foi torturada, morta e enterrada pelos militares.
Segundo as organizadoras da ocupação, o espaço surgiu no vácuo de assistência deixado pelo fechamento da Casa da Mulher Brasileira e da necessidade de acolher as vítimas de violência doméstica no DF. Diariamente, a Casa Ieda realizava programação de oficinas culturais e práticas oferecidas por profissionais voluntários. Até uma horta orgânica comunitária foi plantada na área externa da casa, para assegurar as soberania alimentar das mulheres atendidas no local.
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Edição: Flávia Quirino