Distrito Federal

descaso público

Governo do DF inicia demolição de imóvel para impedir ocupação social

Casa Ieda Santos Delgado, inciativa de movimento de mulheres que atendia vítimas de violência, foi fechada

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Casa que estava sendo revitalizada foi desocupada por determinação do GDF - Reprodução/Instagram

Dois dias depois de realizar o despejo da ocupação da Casa de Referência Ieda Santos Delgado, antiga Casa de Cultura do Guará, o governo do Distrito Federal determinou a inutilização do imóvel, que havia sido parcialmente revitalizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário ao longo dos últimos meses.

"Após a desocupação das mulheres, funcionários de obras da Administração do Guará começaram a tirar as telhas da Casa Ieda. Ao final da tarde a Casa já tinha sua metade descoberta, refém da chuva e intemperes que causarão mais desgaste. O que eles estão fazendo é inutilizando e destruindo o imóvel que há 10 anos se encontrava abandonado e estava sendo revitalizado pelas mulheres de lá", diz um comunicado do movimento nas redes sociais publicado nesta sexta-feira (23). 

:: Governo do DF realiza despejo de ocupação que acolhia vítimas de violência ::

O imóvel havia sido ocupado em outubro pelo movimento, que transformou o lugar em um espaço de acolhimento e apoio para mulheres em situação de violência doméstica, interrompendo um abandono de mais de 10 anos da área, que é pública e pertence do Governo do DF. A operação de desocupação mobilizou um grande contingente de agentes públicos e forças de segurança na última quarta-feira (21). 


Ocupação nasceu em um prédio abandonado há mais de 10 anos, que passou por limpeza e vem sendo revitalizado pelo Movimento, que pretende recuperar sua função social. / Foto: André Ribeiro

A Administração Regional do Guará informou que a casa atualmente é objeto de parceria público-privada para a instalação do novo Centro de Convivência do Idoso (CCI), em fase de licitação. O órgão, no entanto, não informou quando esse novo equipamento público será disponibilizado. Retomado, o imóvel deverá ser fechado por tempo indeterminado, até sua destinação, sujeito à degradação que vinha consumindo a área há décadas até a revitalização promovida pelo coletivo de mulheres.

"Ibaneis e Administrição evidentemente inimigos da mulher, o esforço que estão tendo pra derrubar o espaço é maior do que o necessário para deixar a casa em ótimas condições pras mulheres lá abrigadas", acrescentou o Movimento Olga Benário nas redes sociais.

Saiba mais

A ocupação era a 13ª do Movimento Olga Benário no país, sendo a primeira no Centro-Oeste, foi batizada de Casa Ieda Santos Delgado, em homenagem à militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) durante a ditadura militar, estudante que se formou em ciências jurídicas e sociais pela Universidade de Brasília (UnB), em 1969. Devido à sua atuação política, que se iniciou ainda no movimento estudantil, foi presa pelo regime em abril de 1974, quando desapareceu. A Comissão Nacional da Verdade concluiu que Ieda foi torturada, morta e enterrada pelos militares.

:: Prédio abandonado é transformado em lugar de acolhimento para mulheres em situação de violência ::

Segundo as organizadoras da ocupação, o espaço surgiu no vácuo de assistência deixado pelo fechamento da Casa da Mulher Brasileira e da necessidade de acolher as vítimas de violência doméstica no DF. Diariamente, a Casa Ieda realizava programação de oficinas culturais e práticas oferecidas por profissionais voluntários. Até uma horta orgânica comunitária foi plantada na área externa da casa, para assegurar as soberania alimentar das mulheres atendidas no local. 

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Edição: Flávia Quirino