A forma de conduzir a luta de hoje rememora uma decisão acertada do movimento contra o governo Arruda e toda sua máfia: a de trazer a luta política ao terreno econômico.
Ibaneis não possui condições de governar o Distrito Federal. Seja por incompetência, leniência ou colaboração ele permitiu que fosse realizado um tipo de ataque aos Três Poderes sem precedentes na história.
Se foi por incompetência, ela é fruto de sua arrogância e foi algo repetido: já havíamos experimentado no Distrito Federal atos semelhantes no dia 12 de dezembro de 2022, quando aconteceram os atentados à bomba na Capital. Se foi por leniência, ele prevaricou sobre seus poderes em nome de um jogo político, possivelmente buscando algum ganho político da tensão permanente da extrema-direita sobre o governo Federal. Se foi, como tudo indica, por colaboração, ele é parte do projeto fascista de Bolsonaro, com o qual colaborou durante seu governo e principalmente no período eleitoral.
Mas ele não está sozinho. Houve participação decisiva pelo menos do seu então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, que, dia antes dos ataques de domingo (8), encontrava-se com Bolsonaro nos Estados Unidos.
Quem mais está vinculado a este processo no DF? Quais milícias? Quais empresas? Quais setores das forças armadas e polícias? Quais outros agentes públicos? Como ficará sua sucessão?
Em 2009 passamos por uma situação com dilema parecido, quando estourou a Caixa de Pandora do Arruda, um escândalo de propinas, lavagem de dinheiro, compra de votos na Câmara e ampla articulação burguesa para ampliação da especulação imobiliária do Distrito Federal - o foco todo ficou voltado às pornográficas imagens do ex-governador recebendo bolos de dinheiro.
À época, o dilema presente nos movimentos sociais de rua era: não se trata de um caso de desvio de corrupção individual, mas sim de um amplo sistema político e econômico com projeto específico contra os trabalhadores, população negra, indígena, mulheres e meio ambiente. Era uma estrutura política de governador, vice, presidente da câmara, deputados, membros do judiciário, empresários, agentes midiáticos. Após longo debate, definimos que nossa luta teria um nome amplo de "movimento fora Arruda e toda Máfia". A luta era contra a especulação imobiliária e reformas neoliberais no Cerrado [1].
Trata-se agora de compreender que a luta é contra Ibaneis e toda sua máfia bolsonarista. Trata-se de um conjunto de organizações do mercado imobiliário local em contato com as elites financeiras do país, protegido pelo judiciário local que ele tão bem domina e com estreita relação com a extrema-direita nacional. Esta relação está explícita, em parte, na disputa pela indicação do secretário de Segurança que colaborou com o capitólio brasileiro. Em outra, principal, é na consolidação da chapa do governo com a bolsonarista Celina Leão, ex-vice-governadora e atual ocupante do cargo principal do GDF.
Esta agente política é uma importante linha de articulação de Ibaneis com o bolsonarismo e, por isso, com o golpismo. Foi apoiadora de toda hora do Bolsonaro no último mandato do presidente genocida. Fez ações políticas negacionistas durante o período mais crítico da pandemia de COVID-19. Quando deputada distrital, em 2016, foi afastada de seu cargo por suspeita de desvio de verbas da saúde. Articulou com Michelle Bolsonaro a campanha de 2022 com o público feminino na tentativa de reduzir a rejeição do desgoverno. Defensora de Bolsonaro e Ibaneis até agora, repudiou os atos golpistas na antessala de se tornar Governadora.
Se com o governo Ibaneis - que oscilou e teve crises com o Bolsonarismo em relação à política pandêmica - tivemos reorganização do bolsonarismo permitida até o limite da insurreição fascista, o que deveríamos esperar da Celina Leão, membro orgânico do grupo?
A despeito de oportunismos comuns de políticos carreiristas, prevejo uma continuidade do colaboracionismo com o projeto da extrema-direita, quando não sua própria elaboração.
Se a tarefa é expurgar o bolsonarismo golpista do Distrito Federal e Entorno, o movimento Fora Ibaneis e toda máfia é mais que necessário. Um projeto de especulação imobiliária, ataque ao meio ambiente, privatização de empresas públicas, destruição do funcionalismo e colaboração com milícias, aparelhamento ideológico da polícia e subelevação fascista.
Corrijo-me: Ibaneis já tende a ser carta fora do baralho. É necessário o Movimento Fora Celina Leão e Toda Máfia.
[1] Sobre este tema escrevi em 2009, a seguinte reflexão: Derrubar arruda, tarefa que vem de baixo!
*Paíque Duques Santarém (Nigganark) é antropólogo, urbanista e militante do Movimento Passe Livre do Distrito Federal e Entorno.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino