Moradores quilombolas da comunidade kalunga Diadema/Ribeirão, em Teresina de Goiás (GO), cobram a imediata abertura da extensão da escola na comunidade. A luta pela qualidade do ensino no território já atravessa anos. Uma mobilização está marcada para este sábado (28).
Atualmente, a escola da comunidade conta apenas com Ensino Fundamental I, ofertado pela Prefeitura municipal. De acordo com Maria Divina Faria dos Santos, uma das lideranças da comunidade, a extensão do colégio estadual para o território Kalunga foi aprovada em dezembro do ano passado. Participaram da reunião a subsecretaria de Educação do Estado de Goiás, vereadores, prefeito e vice, estudantes, professores, e a comunidade.
Com a extensão, a escola da comunidade passaria a contar, também, com os segmentos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. As aulas estavam previstas para iniciar em janeiro deste ano. Entretanto, a extensão foi subitamente cancelada.
“Agora em janeiro, uns 10 dias antes das aulas começarem, ficamos sabendo que a extensão tinha sido suspensa. Fizemos uma manifestação pedindo a extensão para comunidade, e após a divulgação do material, foi ofertada para a comunidade a modalidade de ensino Goiás Tec”, conta Maria Divina.
O Goiás Tec é um projeto do Governo de Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) que, segundo a Lei Nº 20.802/20, tem o “objetivo de implantar o Ensino Médio por Mediação Tecnológica em distritos, zonas rurais e regiões de difícil acesso ou que possuam carência de professores habilitados por área de conhecimento”. Na prática, o programa consiste em aulas transmitidas via satélite, gravadas por professores em estúdios e assistidas pelos alunos em suas comunidades. A comunicação com os professores é feita por meio de chat.
Segundo Carlos Pereira, presidente da Associação Quilombola Kalunga, esse modelo de ensino não atende às necessidades da comunidade kalunga de Diadema/Ribeirão, já que desconsidera a importância e a necessidade da educação contextualizada e do diálogo e da postura ativa dos estudantes para um verdadeiro processo de aprendizagem.
“Temos nas comunidades professoras e professores muito bem formados para ensinar com muita qualidade. Para um processo de ensino aprendizagem verdadeiramente eficiente, que fortaleça as comunidades, nós precisamos educadores que conheçam a nossa realidade. Não será com aulas gravadas por professores que nunca pisaram na comunidade que conseguiremos avançar. Com professores que conhecem a realidade haverá um o desenvolvimento de projetos na própria comunidade, respeitando os valores, a cultura, criando alternativas econômicas compatíveis aos interesses da comunidade a partir da capacitação dos estudantes”, explica.
De acordo com o Presidente da Associação, atualmente, crianças e adolescentes são transportadas em ônibus precários e em condições inseguras por longas distâncias para irem à escola. Por essas razões, a taxa de abandono já no ensino fundamental é alta, e muitos desistem de seguir com os estudos.
“Todos os dias eles precisam sair de nossas casas cedinho e só voltam no final do dia, muitos chegam em casa 19h e relatam passar até fome. A alegria dos nossos estudantes e seus pais estava estampada no rosto, em poder estudar na própria comunidade, mas tudo mudou, eles não vão mais trazer a extensão para nós”, relatou uma mãe à Rede Kalunga Comunicações.
De acordo com Luan Ramos Gouveia, militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e membro da Associação de Educação do Campo do Território Kalunga e Comunidades Rurais (Epotecampo), a importância da extensão do ensino não se restringe às crianças e aos adolescentes da comunidade.
“A presença da extensão na comunidade além de evitar o longo deslocamento dos estudantes da comunidade até a área urbana do município de Teresina de Goiás, vai possibilitar a retomada aos estudos de mães e pais que não concluíram o ensino, pela inexistência de sua oferta na comunidade”, explica.
Nova reunião da comunidade kalunga Diadema/Ribeirão para exigir o direito a uma educação de qualidade e que respeite a cultura do território está marcada para este sábado (28).
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Edição: Flávia Quirino