Distrito Federal

luta por educação

Quilombolas da comunidade Kalunga cobram extensão da escola no território

Atualmente, muitos estudantes precisam enfrentar trajeto em condições precárias para ter acesso ao ensino

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
A luta pela abertura da extensão da escola no território kalunga Diadema/Ribeirão atravessa anos - Danilo Serafim

Moradores quilombolas da comunidade kalunga Diadema/Ribeirão, em Teresina de Goiás (GO), cobram a imediata abertura da extensão da escola na comunidade. A luta pela qualidade do ensino no território já atravessa anos. Uma mobilização está marcada para este sábado (28).

Atualmente, a escola da comunidade conta apenas com Ensino Fundamental I, ofertado pela Prefeitura municipal. De acordo com Maria Divina Faria dos Santos, uma das lideranças da comunidade, a extensão do colégio estadual para o território Kalunga foi aprovada em dezembro do ano passado. Participaram da reunião a subsecretaria de Educação do Estado de Goiás, vereadores, prefeito e vice, estudantes, professores, e a comunidade. 

Com a extensão, a escola da comunidade passaria a contar, também, com os segmentos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. As aulas estavam previstas para iniciar em janeiro deste ano. Entretanto, a extensão foi subitamente cancelada. 

“Agora em janeiro, uns 10 dias antes das aulas começarem, ficamos sabendo que a extensão tinha sido suspensa. Fizemos uma manifestação pedindo a extensão para comunidade, e após a divulgação do material, foi ofertada para a comunidade a modalidade de ensino Goiás Tec”, conta Maria Divina.

O Goiás Tec é um projeto do Governo de Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) que, segundo a Lei  Nº 20.802/20, tem o “objetivo de implantar o Ensino Médio por Mediação Tecnológica em distritos, zonas rurais e regiões de difícil acesso ou que possuam carência de professores habilitados por área de conhecimento”. Na prática, o programa consiste em aulas transmitidas via satélite, gravadas por professores em estúdios e assistidas pelos alunos em suas comunidades. A comunicação com os professores é feita por meio de chat. 

Segundo Carlos Pereira, presidente da Associação Quilombola Kalunga, esse modelo de ensino não atende às necessidades da comunidade kalunga de Diadema/Ribeirão, já que desconsidera a importância e a necessidade da educação contextualizada e do diálogo e da postura ativa dos estudantes para um verdadeiro processo de aprendizagem.

“Temos nas comunidades professoras e professores muito bem formados para ensinar com muita qualidade. Para um processo de ensino aprendizagem verdadeiramente eficiente, que fortaleça as comunidades, nós precisamos educadores que conheçam a nossa realidade. Não será com aulas gravadas por professores que nunca pisaram na comunidade que conseguiremos avançar. Com professores que conhecem a realidade haverá um o desenvolvimento de projetos na própria comunidade, respeitando os valores, a cultura, criando alternativas econômicas compatíveis aos interesses da comunidade a partir da capacitação dos estudantes”, explica.

De acordo com o Presidente da Associação, atualmente, crianças e adolescentes são transportadas em ônibus precários e em condições inseguras por longas distâncias para irem à escola. Por essas razões, a taxa de abandono já no ensino fundamental é alta, e muitos desistem de seguir com os estudos. 

“Todos os dias eles precisam sair de nossas casas cedinho e só voltam no final do dia, muitos chegam em casa 19h e relatam passar até fome. A alegria dos nossos estudantes e seus pais estava estampada no rosto, em poder estudar na própria comunidade, mas tudo mudou, eles não vão mais trazer a extensão para nós”, relatou uma mãe à Rede Kalunga Comunicações.

De acordo com  Luan Ramos Gouveia, militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e membro da Associação de Educação do Campo do Território Kalunga e Comunidades Rurais (Epotecampo), a importância da extensão do ensino não se restringe às crianças e aos adolescentes da comunidade.

“A presença da extensão na comunidade além de evitar o longo deslocamento dos estudantes da comunidade até a área urbana do município de Teresina de Goiás, vai possibilitar a retomada aos estudos de mães e pais que não concluíram o ensino, pela inexistência de sua oferta na comunidade”, explica.

Nova reunião da comunidade kalunga Diadema/Ribeirão para exigir o direito a uma educação de qualidade e que respeite a cultura do território está marcada para este sábado (28). 

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Edição: Flávia Quirino