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Coluna

De quem compramos e por que o poder de compra é essencial na reconstrução do país?

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"Individualmente escolhemos cotidianamente onde comprar" - Foto: Gabriel Remus
construir uma sociedade mais justa passa por essas decisões cotidianas

Vencemos as eleições após árduas batalhas, vivemos anos em que tememos por nossa existência e agora esperamos que se reconstrua muito em nosso país. Convidamos então, a pensar sobre o poder de compra que possuímos e o que iremos fortalecer para que esse momento tenha bases firmes. Falaremos de Economia solidária (Ecosol), segurança alimentar e nutricional e cultura de massas.

Esse ano em que o presidente Lula reinstala os Conselhos, importantes espaços de participação social, esperamos que também a Conselho Nacional de Economia Solidária seja revigorado. As atividades estão paralisadas desde edição da Medida Provisória (MP) 870 de janeiro de 2019. Ano seguinte à morte de Paul Singer, intelectual petista e precursor da Economia Solidária, criador e titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, de sua criação em 2004 até o golpe parlamentar de 2016.

E é inspirada na obra intelectual e política de Paul Singer que vamos fazer um chamado a refletir de quem compramos e como nosso poder de compra é também força essencial na reconstrução nacional. Nosso foco será o consumo, mas iremos também pensar a produção para nos ajudar a nortear decisões.

No livro “Introdução à Economia solidária”, cooperativa é a palavra-chave, para consumo e produção. “A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for organizada igualitariamente pelos que se associam para produzir, comerciar, consumir ou poupar". E é a experiência coletiva o maior desafio, na minha opinião, que enfrenta a Ecosol.

Dito isso dois pontos são importantes: a prática individual e um ser-coletivo não cooperado. Individualmente escolhemos cotidianamente onde comprar, não é intenção aqui falar sobre ida a redes comerciais que apoiaram publicamente e até financiaram a campanha e governo fascista. Mas animá-las a pensar em quem produz o lanche que irá levar para o trabalho ou na lancheira das crianças. E é claro há várias questões, tempo disponível, praticidade. Mas construir uma sociedade mais justa passa por essas decisões cotidianas.

Na feira, por exemplo, é possível comprar direto da produtora, os atravessadores empobrecem a classe campesina. Por isso entre tantas opções experimente-as para passar a entregar o resultado do seu trabalho diretamente a outras trabalhadoras. No DF temos as feiras, as Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), o Armazém do Campo do MST ou compra direta de agricultoras, grupos e até hortas comunitárias, como é o caso da nossa localizada em Santa Maria.

Há, no caso da alimentação, uma questão sobre alimentos industrializados ou minimamente processados, nesse caso a de se fazer algumas opções por marcas ou por locais de compra. É talvez o mais difícil, mas a quintada da esquina com trabalho familiar já me parece mais interessante que as condições de trabalho violentas e adoecedoras a qual a caixa de supermercado de uma grande loja é submetida.

Tenho uma cafeteria favorita, a proprietária comunica as 18:40 que é preciso acertar a conta, que será recolhida a louça pois o estabelecimento fecha as 19h e a equipe as 19h é liberada. Outro ponto que podemos considerar são as relações trabalhistas, a forma como são tratados e se possível como são contadas, quanto mais precárias as relações, mais evitável o estabelecimento. Se conseguir descobrir a posição política melhor.

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Alimentação é um tema vasto para pensar consumo, no entanto traremos apenas mais um, os quitutes. Docinhos, bolos, cachorro quente, churrasquinho, açaí, etc. As comidas na rua para momentos especiais. Há em geral alguém que você conhece ou pode pedir indicações. Compre de quem faz. Faça propaganda nas suas redes, fortalece o corre.

Similar aos quitutes são prestadoras/es de serviços, peça indicações, possibilite trabalho preferencialmente a quem conhecemos a história. E nessa parte deixo uma provocação resultado de uma conversa que tive outro dia com um amigo: “não deixe de pagar a diarista nas suas viagens, férias”. Valorizamos tanto as férias remuneradas, o 13° salário, mas por vezes não é repassado a quem nos presta serviço. E a escolha é sequer manter um acordo, a precariedade da diarista que na maioria são mulheres, pretas e periféricas é entristecedor.

Tenhamos um olhar solidário ao consumir, vamos buscar fortalecer com quem lutamos.

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*Suelen Gonçalves dos Anjos é membro do Coletivo Família Hip Hop.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino