O mês de março é marcado pelo dia internacional de luta das mulheres. Para celebrar e reafirmar as reivindicações de todas, movimentos sociais e populares, coletivos, organizações sindicais, partidos políticos organizam mobilizações em todo o país. Em Brasília, a Marcha das Mulheres 8M Unificadas DF e Entorno começa às 16h, no dia 8 de março, com concentração em frente ao Eixo Ibero Americano, próximo à Torre de TV (antiga Funarte), no Plano Piloto.
Com o mote “por democracia e pelo bem viver, contra a fome, o racismo e o machismo, sem anistia aos fascistas”, as mulheres caminharão até a Praça do Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, onde haverá um ato político com apresentações culturais e um espaço de autocuidado.
“Nós compreendemos esse 8 de março como importantíssimo para a luta das mulheres por seus direitos e por suas liberdades. As mulheres vão às ruas por todo o Brasil, colocando suas pautas, levando suas bandeiras, para que a gente, de fato, possa retomar a luta das mulheres. E sair desse lugar da resistência, que a gente ocupou durante os 6 anos pós-golpe e de governo fascista. Também estamos indo às ruas bem conscientes do papel que nós desempenhamos nesse processo de retomada e reconquista da democracia. Agora, nós precisamos, queremos e vamos participar da reconstrução do nosso país, muito em especial no que diz respeito ao direito das mulheres”, afirma Rita Andrade, ativista do Levante Feminista Contra o Feminicídio que participa da construção do 8M Unificadas DF Entorno.
Dentre as reivindicações do movimento, uma das mais importantes, especialmente na capital do país, diz respeito ao combate à violência contra as mulheres. O Distrito Federal tem registrado índices alarmantes de feminicídios. Segundo relatório recente da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), em 2022 ocorreram 64 tentativas de feminicídio, quase o dobro de 2021, quando foram registrados 34.
De acordo com a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaísa Magalhães, o governo do DF tem sido omisso e inoperante diante desse cenário violento.
“Nos últimos dois anos o DF entrou no ranking, liderando entre as unidades da Federação com o maior número de feminicídios em proporção com o número de habitantes. A Secretaria da Mulher do GDF teve verba, desde 2020 foi aprovada a construção de quatro Casas da Mulher Brasileira no DF, que deveriam ter sido entregues no ano passado, mas nenhuma delas foi inaugurada. A única que existe no DF, reaberta ano passado na Ceilândia, não oferece a rede integrada de assistência à mulher e aos filhos”, explica.
O feminicídio, caracterizado como assassinato de uma mulher motivado por sua condição de gênero, em muitos casos, é o ponto final de uma longa trajetória de diversas violências (físicas e psicológicas) e de abandono pelo Estado, que deveria garantir acolhimento e uma rede de amparo a essas mulheres.
"Sempre reforçamos que o feminicídio é o ápice da violência contra as mulheres. É fundamental o combate às violências que antecedem esse crime bárbaro e sempre cometido com requintes de crueldade. É preciso combater a cultura do assédio moral e sexual contra as mulheres e a cultura do estupro. Essas são questões contra as quais temos que agir imediatamente com políticas públicas transversais", evidencia Rita Andrade.
Marcha das Mulheres TaguaCei
A programação do 8M no DF e Entorno começa neste sábado (4), com a segunda edição da Marcha das Mulheres TaguaCei. A concentração para o ato será a partir das 8 horas, no estacionamento do TaguaCenter (CNG 02). De lá, a caminhada segue em sentido ao centro de Ceilândia, finalizando na Feira da Ceilândia. A Marcha será acompanhada por uma carreata.
“Estamos realizando a segunda edição da Marcha das Mulheres TaguaCei pela necessidade de dialogar com as mulheres negras periféricas, que vivem onde acontecem os maiores índices de casos de feminicídio. Então, é por isso que a gente vê a importância do 8M DF ter essa expansão para as regiões administrativas”, explica Aline Karina, uma das organizadoras da Marcha e integrante do Coletivo de Mulheres Negras Baobá.
Rita Andrade também destaca que a retomada da construção de políticas públicas para mulheres deve ser feita em uma perspectiva interseccional, de forma que atinja a diversidade de mulheres. “A ampliação da implementação e da execução dessas leis deve ocorrer em todas as camadas da sociedade, em uma perspectiva interseccional. É fundamental que os avanços se deem no que diz respeito às questões de raça, de classe e toda a diversidade do gênero feminino. É com essa perspectiva que estamos indo às ruas”, afirma.
Acampamento Pedagógico Mulheres Sem Terra do DFE
Como parte da Jornada de Lutas do 8 de Março do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as Mulheres Sem Terra do DF organizam um Acampamento Pedagógico, que acontece nos dias 7 e 8 de março. Com centralidade na luta pela terra, o encontro pretende discutir a transformação social e os desafios das mulheres sem terra e trabalhadoras.
O acampamento, construído pelas mulheres do MST DFE em parceria com várias outras organizações do campo popular, como o Levante Popular da Juventude e Movimento Mulheres Camponesas (MMC), aguarda de 150 a 200 mulheres.
“Nós construímos um acampamento pedagógico, pensando muito em levar consciência para a companheirada e discutir sobre vários temas que são transversais a nossa luta e a nossa atuação em nossos territórios e na sociedade de modo geral”, explica Alessandra Farias, advogada e militante do MST DF.
Na terça-feira (7), a programação do acampamento prevê uma série de debates. Haverá diálogos sobre a mulher, o trabalho e a militância; conservadorismo e liberdade religiosa, com participação de mulheres de diferentes religiosidades; enfrentamento às violências, principalmente a violência contra a mulher e o feminicídio; saúde da mulher, o autocuidado e o cuidado coletivo. À noite, as mulheres acampadas receberão representantes e parlamentares em um ato político.
Já no dia 8, a programação segue com uma manhã de formação, em que serão debatidos o combate ao agrotóxico e a produção de alimentos saudáveis. Além disso, está previsto um resgate das hortas das bruxas, que são as hortas medicinais do MST DF.
A partir das 11 horas, inicia a criação do Bosque da Resistência. O propósito é plantar cerca de 500 a 700 mudas de árvores do Cerrado em uma área de nascente localizada em frente ao Acampamento 8 de Março. No ano passado, o local foi criminosamente incendiado.
“A ideia é fazer o Bosque da Resistência como uma lembrança das companheiras que tombaram na luta pela terra, pela reforma agrária, pelos direitos das mulheres. E também das companheiras que sofreram violência doméstica e que por fim foram vítimas de feminicídio”, afirma Alessandra Farias.
Em seguida, na tarde do dia 8, haverá montagem de cestas verdes, com produtos orgânicos coletados nas áreas do MST DFE, que serão distribuídas para pessoas em situação de vulnerabilidade. Depois, as companheiras se unem à Marcha das Mulheres 8M Unificadas.
Segundo a militante do MST DF, a escolha do Acampamento 8 de Março, localizado em Planaltina, para sediar os dias da agenda de luta pelas mulheres decorre do simbolismo que ele representa.
“É uma acampamento bastante simbólico e que vai completar 11 anos no dia 8. Ele representa muita luta pela terra no DF e é um acampamento que fica em uma região bastante emblemática de preservação ambiental do cerrado, e em que nós denunciamos a grilagem de terras e os crimes ambientais cometidos pelos grileiros”, explica Alessandra Farias.
Após o acampamento, no sábado (11), acontecerá um ato público político no Armazém do Campo, com galinhada solidária e um breve debate sobre combate ao agrotóxico e ao trabalho escravo.
Festival de Lutas
Nos dias 24 e 25 de março, haverá um Festival de Lutas como forma de celebrar a possibilidade de reconstrução de políticas públicas para as mulheres. O evento contará com apresentações artísticas e culturais, espaços de formação, tendas de acolhimento, praça de alimentação e feira de artesanato. O local do Festival ainda será divulgado.
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Edição: Flávia Quirino