O Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop, produzido pela Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop, está de volta ao formato presencial após a pandemia da Covid-19. O evento acontece nos dias 10 a 12 de março, em Brasília, e reúne militantes, dirigentes e mulheres da Cultura Hip Hop de todo o Brasil.
O Encontro existe desde 2010 e está em sua 8ª edição presencial. Os dois últimos encontros foram realizados em formato online. Nesta edição, estão previstas a realização de debates, oficinas, apresentações culturais, palestras, rodas de conversa, exposições, pocket shows, entre outras iniciativas. De acordo com a organização do Fórum, em dois dias foram realizadas 145 inscrições e por questões de logística já foram encerradas.
Nesta edição, o Fórum trata o tema “gênero, raça e afroturismo". Será discutido prioritariamente o turismo feito por mulheres negras e como isso impacta na carreira artística das agentes culturais do Hip Hop. As participantes terão a oportunidade de visitar monumentos turísticos do Distrito Federal, e não somente, também visitarão as periferias da capital com uma guia turística especializada em roteiros que priorizam a história negra da cidade.
“Quando a gente fala de turismo no DF muitas pessoas só pensam dentro do eixo, nas asas norte e sul e plano piloto. A gente tem um turismo que é de quebrada que acontece em Ceilândia e em Planaltina. Ele é produzido e gestado por pessoas negras”, conta a primeira rapper mulher do Distrito Federal, Vera Verônika, que também é a representante da Frente Nacional na capital do país.
Outra novidade do evento será o lançamento de um mapeamento de mulheres no Hip Hop no DF e no Entorno. “A expectativa é que o mapeamento seja lançado em julho, no Festival Latinidades, em versões impressa e online para que a gente possa mostrar o que essas mulheres estão fazendo, quem são, em qual região elas produzem cultura e afroturismo, como gestam seus projetos e o que acontece nas regiões que estão presentes. É imprescindível que as mulheres possam acessar seus direitos e saírem da invisibilidade", diz Vera.
São muitas as expectativas com a realização presencial do Fórum Nacional em Brasília, mas a maior delas, de acordo com Vera Verônika, é apresentar as demandas das mulheres no Hip Hop, que estão reprimidas há muito tempo. “Nós temos uma carta para entregar às autoridades com reivindicações que permeiam várias temáticas como o feminicídio, equidade de gênero, acesso a políticas públicas e editais”, conta.
Hip Hop Salva
"Talvez se não tivesse conhecido o rap na década de 90 não estaria hoje sendo a representante estadual do DF da Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop. O rap salvou a minha vida. Hoje, uma parte considerável dos jovens de todas as classes sociais têm acesso à informação, mas em uma época em que a gente nem sabia que um dia teríamos acesso a celular, computador e aconteceria essa globalização, e que ainda, o crime e a drogadição era o que tomava conta, o rap para essa geração foi libertador", salienta Vera.
Ela completa dizendo que cantar e contar através de letras de rap o que se passa na sociedade e principalmente com as mulheres é o que motiva a não desistir de um estilo musical que ainda traz muitos estigmas e preconceitos, mas que musicalmente domina o mundo.
Membro da Frente Nacional e agente cultural do DF, Ravena do Carmo, aponta que nos últimos tempos muitas mudanças ocorreram no cenário da cultura Hip Hop no país, pois o rap feminino tem sido visto na mídia e nas plataformas de música, mas ainda há muito o que avançar.
“As mulheres produzem com muita qualidade e ao mesmo tempo com várias limitações como jornadas duplas e triplas, maternidade e outros desafios. Esses impedimentos, bem como o mercado da música, se torna um fator de desistência. Ainda assim, elas insistem, pois o rap também é um espaço de mulheres. Mesmo que muitas vezes, ainda prevaleça o machismo e outras violências. Esses temas têm sido pauta constante, não ficaremos silenciadas jamais”, destaca.
Ravena afirma que "o rap é a voz coletiva que ecoa. Não tem como não lembrar da música do Sabotagem, 'Rap é compromisso'. Compromisso com a quebrada, com nossa história, memória e lutas. A cultura Hip Hop me encontrou ainda na infância. Sou uma apreciadora desse estilo musical que é mais que uma forma de produzir música, mas também produz denúncias, amores e política".
Tanto Ravena, quanto Vera reconhecem que a mulher hip hopper não é somente a que dança, canta, grafita, pensa e escreve, mas que ao longo destes cinquenta anos de cultura mundial contribuiu inclusive no cuidado com os filhos para que os companheiros sigam carreira, e essa função também é protagonista, porém pouco valorizada.
Em 2023, o Movimento Hip-Hop no Brasil completa 50 anos. "Neste ano de Cinquentenário é importante ressaltar que por trás dos palcos, exposições, livrarias, campeonatos e batalhas existem muitas mãos femininas. Em maioria, de mulheres pretas que são essenciais para o desenvolvimento da cultura", conclui Ravena.
O que diz a identidade visual do Fórum?
Para criar a identidade da 8ª edição do Fórum, as grafiteiras Caren Henrique, Iasmin Kali, Taynara e Yra, decidiram reunir em um grafite elementos do Cerrado. A arte liga a Caliandra, o Ipê amarelo, o lagarto, o céu que é tão famoso na capital e o Lobo-Guará, animal ameaçado de extinção típico do bioma predominante no Distrito Federal.
O lobo além de caracterizar o território, representa o vínculo da mulher com a natureza instintiva que possui. A figura feminina que segura um microfone e usa brincos de LP e tênis representa as mulheres do Hip Hop, que apesar de tantas barreiras continuam fazedoras de cultura seja no grafite, break, rap, discotecagem, poesia, produção cultural ou no cuidado das famílias. O mundo, simbolicamente posicionado na testa, representa as possibilidades futuras.
8º do Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop
10,11 e 12 de março
Sesc Presidente Dutra, Setor Comercial Sul, Brasília
Confira a programação completa na página do evento.
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Edição: Flávia Quirino