Solução nenhuma mudará o quadro climático que vivenciamos, se não for por uma transformação radical
No início do ano passado (2022), o texto Violento é o rio ou as margens do capital que o comprimem? relatou as inúmeras enchentes que ocorreram em vários estados no Brasil, ocasionadas não apenas pelas chuvas, mas principalmente pela crescente destruição da natureza pela sociedade burguesa, principal responsável pela crise climática que ano após ano, acelera e se intensifica.
O real motivo já sabemos, o rolo compressor de pobres, pretos e favelados pelo capital. É lamentável iniciar mais um ano desta forma e sinto muito, mas nossa solidariedade e caridade, já não nos basta! A repetição dos acontecimentos e nossa impotência frente aos desastres, que são sempre repetidos nos telejornais que era uma “tragédia” já anunciada”, não é possível mais ser engolida a seco, sem reflexão e apenas lamentando e chorando.
:: Violento é o rio ou as margens do capital que o comprimem? ::
Tudo isso, só nos confirma o que li dias atrás no livro "Novo esclarecimento radical" da filósofa espanhola Marina Garcés, que vivemos na era da guerra contra o antiesclarecimento e da impotência de sabermos tanto e podermos tão pouco.
Que projeto emancipatório tem avançado no mundo a não ser o do liberalismo e necropolítica? E o pior, muitos de nós vivenciamos o nascimento de todo esse avanço através das globalizações, dos grandes debates fomentados pela ONU, dos tantos acordos firmados nas conferências mundiais, por um mundo mais “verde”, mas só no papel e na farsa, pois por trás avançava-se as mercantilizações das nossas vidas e da natureza, muitos desses avanços foram possíveis através das privatizações e “solucionismos” que de solução, não traz nada de novo, apenas a ilusão de que solucionamos algo, dentro de um sistema que esgota todas as possibilidades de avanços reais para a humanidade e a vida na terra, e novamente nos frustramos em ver os crimes se repetirem!
Quem é mais antigo, percebe que o que antes era construção de projeto de nação, hoje virou assistência e não que isso não seja necessário e importante, é, principalmente num país de tantos desiguais, mas não basta só olharmos para nossas pautas específicas, não apenas para nossas quebradas, bairros e rodas de conversas.
O que fazer e como fazer nós já sabemos, mas a pergunta é para onde vamos com o que adquirimos de saberes tantas vezes compartilhados e vivenciados por décadas?
Nisso, Marina Garcés também traz a realidade de que vivemos num tempo em que tudo se acaba: florestas, mananciais, relações humanas, ou seja, a vida. E não se trata de nostalgia, mas de como chegamos nesse caminho, quase que sem volta, e que solução nenhuma mudará o quadro climático que vivenciamos, se não for por uma transformação radical de tudo que está posto aí.
O Brasil é um ponto no meio disso tudo e mundialmente só nos cobram para mantermos a Amazônia em pé e eles? O que fazem? Mais consumismo, mais armas e mais guerras.
Nossa tarefa específica para desfazer os acordos fechados no governo passado, é urgente, mas se também nos mantivermos focados apenas em buscar soluções para o que não tem solução, só nos garante um fim, o do futuro que se esvai na nossa frente.
Qual a maior credulidade do nosso tempo? Achar que o capitalismo é o único sistema possível? Que nos rendemos a ele? Quais outras credulidades estamos carregando e alimentando nos nossos celulares?
Bom, reafirmo que essa coluna foi inspirada no livro: Novo Esclarecimento Radical da Marina Garcés, que busca nos mostrar como autoritarismo, fanatismo, catastrofismo, terrorismo são algumas das facetas de uma poderosa reação anti-ilustração que domina as histórias do nosso presente.
Em face da crise atual da civilização, parece haver apenas duas saídas: condenação ou salvação. O que esse dilema esconde é uma rendição: nossa renúncia à liberdade, isto é, a melhorar, juntos, nossas condições de vida.
Por que acreditamos nessas histórias apocalípticas?
Que medos e oportunismo os alimentam?
Este livro está comprometido com uma nova ilustração radical, uma atitude de combate contra as credulidades do nosso tempo e suas formas de opressão.
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*Adriana Dantas é educadora popular, militante do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, atualmente contribui no Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino