Durante seu depoimento na CPI dos atos antidemocráticos nesta quinta-feira (16) o tenente-coronel da Polícia Militar Jorge Henrique da Silva Pinto disse que todas as informações de inteligência que previam as ações golpistas no dia 8 de janeiro foram repassadas a cúpula da segurança publica do DF.
O militar que estava a frente da Coordenação de Assuntos Institucionais da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP/DF) disse ter tido acesso a um documento sobre um grupo de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) no WhatsApp que tramava a tomada de poder e garantiu que essas informações chegaram à cúpula decisória.
Questionado pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), se a cúpula da segurança do DF falhou no dia 8 de janeiro o depoimento disse que “houve uma falha”. “Não sei dizer de quem foi a falha, isso precisa ser apurado por todos os envolvidos, mas uma coisa é certa, a Polícia Militar não estava sozinha no ambiente”, disse Jorge Henrique reforçando que a Coordenação de Inteligência da SPP fez o trabalho e repassou aos superiores.
Segundo o depoente, no dia 5 de janeiro ele teve acesso a um documento de inteligência que tratava da possibilidade da tentativa de golpe e nos dias 5 e 6 seguiram o trabalho de apuração e repassaram todos os dados aos superiores da SSP. “Todos os dados coletados chegaram aos agentes envolvidos e é bem provável que tenham aos decisores”, disse Jorge Henrique destacando que o relatório não foi enviado a PM.
O deputado Chico Vigilante lembrou que no dia 8, às 14 horas, Jorge Henrique enviou uma mensagem no grupo de um WhatsApp da SSP dizendo que o ato aumentava gradativamente em número de participantes, que a situação era alarmante, que já teriam chegado ao DF 125 ônibus e mais de 2,5 mil pessoais. O deputado questionou o depoente se seus alertas tivessem sido levados a sério os atos de depredação poderiam ter sido evitados e o tenente-coronel disse que “muito provavelmente, mas eu não sei de que forma os decisores entenderam os meus alertas”.
Segundo Vigilante ficou claro que alguém não quis tomar providências, uma vez que foram disparados alertas pelo chefe da Coordenação de Inteligência horas antes das invasões. “Cada vez fica mais claro que aquilo [depredação dos prédios públicos] poderia ter sido evitado. Todos nós aqui sabemos que isso poderia ter sido evitado”, disse Vigilante, reforçando questionamentos ao depoente sobre quem foi o responsável, mas mesmo se limitou a dizer que não houve erro da Inteligência da SSP.
O deputado Fábio Félix (PSOL) questionou sobre os episódios de vandalismo no dia 12 de dezembro em Brasília (data da diplomação do presidente Lula). “Se queimou ônibus, se espalhou botijão de gás pela cidade, explodiu carros, atacou das delegacias, porque o alerta da Inteligência era baixo”. O deputado ainda questionou porquê o nível de risco da manifestação prevista para o dia 8 era baixo, enquanto manifestações estudantis em Brasília normalmente são consideradas médias. O depoente disse que os alertas anteriores aos episódios do dia 12 de dezembro e 8 de janeiro foram considerados baixos, em razão das informações que a Coordenação de Inteligência tinha previamente.
Relação de hóspedes e presos
Além do depoimento, a CPI também aprovou diversos requerimentos, entre estes um que vai solicitar o registro de todas as pessoas que chegaram de ônibus a Brasília entre os dias 1º e 8 de janeiro, e também a relação de hóspedes alojados em hotéis entre os dias 6 a 9 do mesmo mês. Outro requerimento aprovado solicita à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal a listagem nominal com todos que foram presos devido a depredação ao patrimônio público no dia 08 de janeiro de 2023.
Na próxima quinta-feira (06) não haverá oitivas, será realizada uma reunião administrativa que vai definir o calendário da CPI para o mês de abril.
Outros depoimentos
Já foram ouvidos o ex-secretário de Segurança Pública Júlio de Souza Danilo, o ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime, o ex-secretário Executivo da SSP/DF Fernando de Sousa Oliveira e a a ex-subsecretária de Inteligência da SSP/DF Marília Ferreira Alencar. O ex-secretário Anderson Torres já foi convocado, mas por estar preso suspeito de colaboração com os atos não pode ser conduzido coercitivamente e até o momento não aceitou participar de uma oitiva da CPI.
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Edição: Flávia Quirino