Às vésperas do aniversário do golpe militar de 1964, o Cine Brasília promove, nesta quinta-feira (30), sessão seguida de debate do documentário “Memória Sufocada”. O filme revisita os arquivos da ditadura militar, mostrando os reflexos atuais da impunidade e da falta de construção de uma memória coletiva sobre as atrocidades cometidas no período. A construção de falsas narrativas, muito utilizadas para encobrir os horrores do regime, segue viva como instrumento de manipulação política através das fake news.
O filme será exibido às 20h30. Em seguida, participam de debate com o público o diretor do documentário Gabriel Di Giacomo, a advogada Maria Isabel Abduch, o historiador Paulo E.C. Parucker e a jornalista e crítica de cinema, Cecília Barroso.
“Hoje, a informação e a desinformação estão ao alcance de todos. Muitos fatos são construídos nas redes sociais e a realidade é cada vez menos nítida. Este é o ponto central do filme, qual é a ‘verdade’ histórica e como os fatos podem ganhar novas narrativas com o passar dos anos. Na década de 60, setores da elite brasileira com o apoio da mídia plantaram diversas fake news sobre a situação do país para conseguir levar os militares ao poder, era urgente evitar ‘o avanço comunista no Brasil’, ‘proteger a pátria e a família’ e ‘acabar com a bagunça’”, conta o diretor em entrevista à Paula Ferraz.
O documentário foi produzido a partir de um mergulho em busca de vídeos e materiais sobre a ditadura na internet, único meio possível durante a pandemia do coronavírus. Nesse caminho, o diretor se deparou com um acervo vasto de imagens da Comissão Nacional da Verdade e do Arquivo Nacional.
A pesquisa para o filme terminou por render um material tão rico que Gabriel Di Giacomo decidiu expandir o projeto, disponibilizando as referências, recomendações de filmes e outros materiais para consulta de todos. O acervo pode ser acessado aqui.
“É um convite para as pessoas acessarem o material que serviu de base para construção do roteiro, para que cada espectador possa fazer a sua pesquisa e montar seu próprio filme, mesmo que seja dentro de sua mente”, explica o diretor.
Além disso, o documentário traz registros inéditos do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo, órgão de repressão da ditadura militar, onde foram cometidas várias violações e torturas. A equipe do filme foi a primeira a ter autorização para fazer filmagens no local em que atualmente funciona uma delegacia da Polícia Militar.
Paulo Parucker, historiador convidado para participar da mesa de debate no Cine Brasília nesta quinta, afirma que é necessário que as memórias da ditadura militar estejam vivas e presentes nas discussões contemporâneas.
“Graves violações de direitos humanos foram cometidas, por agentes públicos ou não, durante a ditadura, atingindo violentamente a comunidade universitária e, de modo peculiar, algumas pessoas, grupos e entidades. É preciso diversificar os meios de levar adiante essa história, evitando que ela se restrinja a notas repousadas numa estante remota. Trata-se de trazê-la viva para, sob as luzes e sombras do presente, enfrentar as inquietações e desafios que não cessam de nos confrontar no tempo”, afirma.
O filme fica em cartaz no Cine Brasília até 5 de abril.
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Edição: Flávia Quirino