Os estados e municípios também precisam criar e garantir instrumentos que fomentem a cultura.
Para todas as linguagens artísticas encontramos uma expressão popular que na sua essência se relaciona com algo menor ou ruim: pintar o sete, fazer arte, fazer cena, bobeou dançou, botar a boca no trombone, parecer um circo, acabar com a palhaçada, carregar um piano nas costas, efeito sanfona, dar show e por aí vai.
E há quem leve isso ao pé da letra. Não é à toa que o Ministério da Cultura foi quase extinto em 2016 pelo governo golpista de Michel Temer e de fato extinto em 2019 quando Jair Bolsonaro tomou posse, de tudo. E assim como em outras pastas, foram quatro anos virando as costas para um direito garantido pela Constituição.
Desde muito cedo, somos apresentados às manifestações culturais como um hobby ou como agente terapêutico, raramente como uma possibilidade de profissão ou elemento fundamental na construção do ser saudável. Sua fruição é entendida como somente lazer, aos finais de semana e como produto, consumo. Comprar um picolé e o ingresso pro circo estão no mesmo pacote. É a exceção na rotina, um agrado, às vezes um prêmio.
E existem aquelas que nem isso, porque entende-se como não serem para todos. Todas. Todes. Tampouco para tudim. Ópera? Orquestra? Vernissage? Nem em português o danado está! Quando alguns destes eventos não são em um prédio suntuoso, exigem roupa de gala, ou pior, só dá pra chegar de carro. Né CCBB Brasília? Hein, MAB? É preciso muito projeto de formação de plateia para dar conta dessa demanda. Nós artistas temos que levar o público ou ir até ele, garantir gratuidade e mediar a obra. Ah, e fazer a obra, claro!
E fazemos tudo isso. Mas precisamos de políticas públicas para atender ao público.
Ao público, nós somos meros operários. Nosso interesse é o público.
Quando se faz uma música é para ser escutada, uma peça para ser assistida, uma escultura para ser contemplada. E isso só é possível com órgãos públicos como o Ministério da Cultura que voltou em 2023, com o governo Lula. O mesmo governo que em 2004 criou o Programa Cultura Viva, estimulando, fortalecendo e valorizando a cultura de todo o país de todas as formas.
Os estados e municípios também precisam criar e garantir instrumentos que fomentem a cultura. No Distrito Federal temos, ainda que com falhas, o Fundo de Apoio à Cultura que destina 0,3% da receita líquida do governo para a população em forma de espetáculos, livros, cursos, filmes, exposições, shows e uma infinidade de projetos que atendem a todas as regiões administrativas. O artista e sua obra chegam em tudim!
E assim outras expressões entram em cena: música pro meus ouvidos, eu sei de cor, pé de valsa, coisa de cinema, quem conta um conto aumenta um ponto, você é um espetáculo… Quem sabe até criam-se novas!
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*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino