A Educação que queremos é diversa, plural, com qualidade, investimentos e socialmente referenciada.
Nos últimos anos, o discurso fascista proliferou no Brasil, sobretudo por meio da intensa mobilização nos aplicativos de mensagens, aliados à propagação de notícias e informações falsas, que circulam livremente em redes sociais.
Também não é de hoje que a disputa ideológica tomou contornos exacerbados na sociedade brasileira. No entanto, nas últimas semanas, o país ficou estarrecido com a onda fascista que se materializou na violência e ameaças que se propagam nas escolas e universidades brasileiras, a exemplo dos ataques que aconteceram na Escola Estadual Thomazia Montoro de São Paulo e na creche em Santa Catarina.
Intimidação de professores dentro de ambientes escolares e universitários, boatos, ameaças, violências, ataques foram alguns dos cenários observados nestas primeiras semanas do mês de abril.
Na Universidade de Brasília, a Reitoria informou, no dia 12 de abril, que um estudante foi preso, identificado como autor de mensagens ameaçadoras na Faculdade de Comunicação. Na Universidade Federal de Goiás, a professora da UnB, Renísia Garcia, coordenadora da Questão Negra da Universidade, sofreu ataques enquanto ministrava uma aula à convite da UFG e Universidade Estadual de Goiás. Em São Paulo, além do ataque que vitimou a professora Elisabeth Tenreiro, um outro professor da Rede Estadual de Ensino foi intimidado e violentado em sala de aula por estudantes.
São inúmeras as informações que circulam pela internet, principalmente em grupos de whatsapp, anunciando ataques que devem acontecer no futuro. Entretanto, as mensagens transparecem outro objetivo: instaurar o medo e o pânico em uma sociedade já adoecida, que enviesada nessa trama aponta para uma direção: militarizar os espaços de educação e reafirmar o controle de estudantes através da violência e repressão. Mas será mesmo essa a saída?
Como já reafirmamos outras vezes, o desmonte da da Educação brasileira, é um projeto político, orientado e encabeçado por um sistema político e econômico que menospreza a ampliação dos saberes. Militarizar escolas, universidades, é parte da estratégia. Cercear a liberdade é projeto político de poder, essências do Golpe Civil Militar de 1964, que ainda sombreia a sociedade brasileira.
A militarização de escolas públicas são sempre apontadas como saída para amenizar cenários de violências, contenção de indisciplina e quase sempre, são alocadas em espaços de periferia. Coincidência? Não, já que este projeto foi intensificado na gestão de Bolsonaro, o presidente, conhecido notoriamente como o inimigo número 1 da Educação Pública. A militarização das escolas é considerada um desrespeito à Constituição Federal e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), ela limita o aprendizado ao desejo de um grupo específico, militares.
“O não desenvolvimento da função da escola irá atingir toda a sociedade. Vivenciamos esse processo no Brasil, não só no ataque às escolas, mas por meio do extremismo espalhado para todos os lados. A escola que irá reverter esse cenário será aquela pautada no diálogo que debate os temas candentes da nossa sociedade que estão alimentando o extremismo. Na escola militarizada você não debaterá o racismo, o machismo, as questões de orientação sexual, de gênero. A lógica hierárquica da escola militarizada não possibilita que as questões da sociedade, da vida do estudante não possam ser debatidas lá. Porque no quartel não se faz isso e a lógica que passa a ser implementada é a lógica do quartel”, destacou a professora da Universidade de Brasília e doutora em educação, Catarina de Almeida Santos, em entrevista à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
Por falar no ex-presidente, é dele também a chancela do chamado Novo Ensino Médio, que tenta retirar o futuro da juventude brasileira e amplifica uma lógica mercantilista na Educação básica, com reflexos também no Ensino Superior.
Por todo esse enunciado, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind) repudia todos os ataques e ameaças às escolas, universidades e professores, e sobretudo, todos os projetos que tentam enfraquecer a Educação Pública no país. A ADUnB compreende que é necessário e urgente um debate profundo sobre as raízes dessa violência e ódio, que aterroriza a escola, mas que está sendo reproduzido na sociedade, nas mídias sociais e nos clubes de tiros. Essa é a materialização do fascismo.
O que fazer?
Pesquisadores e especialistas orientam que é importante não compartilhar as ameaças para evitar a crise, o colapso e o pânico na sociedade.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com a SaferNet Brasil, criou um canal exclusivo para recebimento de informações de casos suspeitos de ataques a instituições de ensino. O formulário para recebimento das denúncias já está disponível no endereço www.mj.gov.br/escolasegura. Todos os conteúdos enviados serão mantidos sob sigilo.
A plataforma criada permite que as denúncias sejam investigadas de forma mais rápida e eficiente. A criação do canal de denúncias é uma ação da Operação Escola Segura, uma mobilização em parceria com os estados para realizar ações preventivas e repressivas contra ataques nas instituições de ensino em todo o país.
A Educação que queremos é diversa, plural, com qualidade, investimentos e socialmente referenciada.
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*Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB - S. SInd. do ANDES-SN)
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Flávia Quirino