Atendendo a uma demanda antiga dos movimentos sociais, a Universidade de Brasília (UnB) anunciou que o processo de seleção a partir do segundo semestre deste ano contará com cotas para quilombolas. De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), apenas cerca de 20% das universidades públicas brasileiras utilizam esse tipo de cota. Essa política vai beneficiar pessoas do Distrito Federal e estados vizinhos, sobretudo de Goiás e Minas Gerais que possuem muitas comunidades quilombolas próximas à Capital do país.
Para a professora e pesquisadora Givânia Silva a implementação das cotas para quilombolas na Universidade foi fruto de um trabalho de tensionamento e denúncias dos movimentos sociais para que a universidade, que é pioneira na política de cotas par pessoas negras, avançasse mais. “Para mim foi sempre um desafio pensar porquê a UnB não pensava os quilombolas como sujeitos específicos”, destacou Givânia, que já foi professora na UnB e atualmente coordena o Coletivo Nacional de Educação da Conaq.
“Essa decisão da UnB de receber vagas para quilombolas em seus cursos é o que eu chamaria de aperfeiçoamento das ações afirmativas nas universidades, por isso nossa luta é para que todas a universidades públicas do nosso país tenham essas cotas”, afirmou Givânia, acrescentando que “pessoas quilombolas não têm o mesmo nível de igualdade das outras pessoas negras dos centros urbanos, apesar de sabermos que todos nós, negros e negras no Brasil, temos menos oportunidades”.
Estados vizinhos
De acordo a primeira prévia do Censo de 2022, Minas Gerais é o segundo estado em número de quilombolas no Brasil, com mais de 36.700 pessoas (ficando atrás apenas da Bahia). Já Goiás aparece nesse mesmo levantamento com mais de 8.300 quilombolas, sendo o primeiro da região Centro-Oeste. No Distrito Federal 150 pessoas se identificaram como quilombolas de acordo com a prévia do Censo.
Segundo a vice-presidente da Federação Estadual dos Quilombolas de Minas Gerais, Lara Luísa, a região Noroeste do estado, onde estão os municípios mineiros do Entorno e outros muitos próximos têm uma grande população que poderá ser beneficiada essa política de cotas. “Só em Paracatu são 12 comunidades quilombolas e em todo Noroeste são muitas pessoas que poderão ter acesso a uma universidade de referência graças as cotas, que infelizmente ainda não tem no nosso estado”, relatou.
Lara Luísa que estudou sobre as comunidades quilombolas do Noroeste Mineiro em sua dissertação de mestrado conta da importância dessas pessoas para Brasília. “É uma questão de justiça social, emancipação e da valorização da população quilombola que ajudou a construir Brasília”, disse a pesquisadora, acrescentando que “Brasília já foi terra de quilombos de Paracatu e outras cidades da nossa região e tudo isso foi apagado”.
Maria Divina da liderança da Comunidade Kalunga Diadema, do município de Teresina de Goiás, chama atenção para a necessidade de cotas específicas para quilombolas e acredita que isso vai permitir que muitos estudantes dessas comunidades consigam entrar na universidade. “É importante que existam essas cotas para que tenhamos negros quilombolas, formados em todas as áreas, seja na medicina, no direito, na educação e que possam contribuir com suas comunidades”, acrescentou.
Seleção
De acordo com o edital publicado pela UnB o ingresso de novos alunos será por meio de notas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) do ano de 2022. As inscrições finalizam nesta quarta-feira (19). Os candidatos e candidatas mais bem classificadas/os na seleção vão preencher vagas em cursos de graduação presenciais.
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Edição: Flávia Quirino