Por ser uma data simbólica, o 13 de maio é um momento importante para pensar a emancipação pós-escravidão da população negra brasileira nos diversos territórios, inclusive naqueles que vieram a ser formados depois, como o Distrito Federal.
A Capital brasileira foi inaugurada 72 anos após a assinatura da Lei Áurea, que garantiu, oficialmente, o fim do escravagismo no Brasil, mas ainda assim carrega marcas da exclusão da população negra com piores condições de vida e dificuldade de acesso a trabalho digno, educação, saúde, moradia e lazer.
No Distrito Federal, a região administrativa com o maior percentual de pessoas negras é a Estrutural, que tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a menor renda per capita da Capital. No outro extremo, temos o Lago Sul, com a menor população preta ou parda do DF e o maior IDH e renda per capital. Os dados que expõem essa realidade são do Mapa das Desigualdades, lançado em abril de 2023, com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD).
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De acordo com o Mapa 57,4% dos brasilienses se declaram negros, 40,9% brancos, 1,4% amarelos e 0,3 indígenas. A população negra é majoritária na maioria das grandes regiões administrativas do DF: Estrutural (75%), São Sebastião (74%), Paranoá (71%), Sol Nascente/Pôr do Sol (68), Santa Maria (65%), Planaltina (63%), Samambaia (61%), Sobradinho (60%), Ceilândia (60%), Gama (57%) e Taguatinga (56%). Por outro lado, pretos e partos são minorias em Águas Claras (44%), Plano Piloto (37%) e Lago Sul (33%).
As regiões de maioria negra são as que mais têm problemas com esgoto a céu aberto, mais trabalhadores formais e onde há os maiores índices de jovens de 18 a 29 anos que não estudam.
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Para a professora e doutora pela Universidade de Brasília (UnB) Andressa Marques da Silva a estrutura de Brasília exclui a população negra dos melhores serviços públicos, como partes e ciclovias bem como o acesso a educação superior.
“As dificuldades da nossa vida vêm do deslocamento cotidiano, de um engarrafamento e tudo que a gente tem que enfrentar pra poder ter acesso a coisas que são direitos sociais como uma universidade pública”, destaca Andressa, que cresceu e estudou em Taguatinga, mas passou a frequentar mais o Plano Piloto quando foi aprovada por políticas afirmativas na UnB e disse que passou a perceber de forma mais nítida o "racismo ambiental" da cidade.
“A questão dessa territorialidade sempre me marcou como mulher negra em Brasília, porque eu sempre observei essa configuração racial da cidade, pois tinha muitos negros em Taguatinga e principalmente em Ceilândia, onde minha avó morava”, descreve a professora, acrescentando: “Meu pai gostava de trazer a gente pra andar de bicicleta no Parque da Cidade [Plano Piloto] e era bem diferente de Taguatinga, que era menos arborizada, tinha menos espaços de parque e onde minha avó morava [Ceilandia] tinha menos ainda".
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Presença Negra na História do DF
Ainda quando cursava o Doutorado em Literatura e Práticas Sociais na UNB, a professora Andressa Marques da Silva integrou um grupo de pesquisa de estudantes negros no Arquivo Público do DF que percebeu que havia uma presença grande de pretos nas fotografias de trabalhadores que atuaram no DF desde a construção.
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“A gente tinha ali uma história a ser contada e isso surgiu na ausência, porque nas fotografias não tinha a identificação de quem eram aqueles trabalhadores”, disse ao explicar sobre o surgimento da exposição ‘Relevância da População Negra da história do DF’.
A exposição foi inaugurada em 2019 no Museu da República e foi reeditada em vários locais da cidade como no Restaurante Universitário da UNB, na Câmara Legislativa do DF e depois seguiu para um formato diferente que segue até a atualidade nas paradas de ônibus do Setor Comercial Sul.
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“Nosso intuito foi o evidenciar essa história negra que não está no nosso imaginário como moradores, nem das pessoas dos outros estados. Não se pensa em comunidade e cultura negra quando se pensa em Brasília e as pessoas negras foram fundamentais para essa cidade”, explicou Andressa.
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Edição: Flávia Quirino