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justiça racial

Em frente ao Banco Central, UNEafro discute impacto da alta taxa de juros para população negra

Política monetária 'é racista porque agrava os mais pobres e a pobreza no Brasil tem cor', afirma professor Hélio Santos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Aula pública sobre taxa de juros promovida pela UNEafro com estudantes de cursinhos populares em frente ao Banco Central - Bianca Feifel

Em aula pública promovida pela UNEafro em frente ao Banco Central, em Brasília, nesta quarta (28), estudiosos e alunos discutiram o impacto da alta taxa de juros na vida da população negra. A economista Gabriela Chaves e o professor e sociólogo Hélio Santos explicaram como a política monetária afeta a geração de emprego, a renda e consumo das famílias. 

Na terça-feira (27), o Banco Central divulgou ata da última reunião do seu Comitê de Política Monetária (Copom) em que decidiu manter a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano.

A taxa é uma das mais altas do mundo. Governo, trabalhadores e empresários têm cobrado que a taxa seja reduzida porque ela inibe consumo e investimentos, atrapalhando assim o crescimento da economia.

Na aula pública, a economista do Nofront, Gabriela Chaves, explicou aos estudantes que a alta taxa de juros é uma política neoliberal que enfraquece o Estado e as políticas públicas. “Se faz um grande terrorismo dizendo que o Brasil está gastando demais, que está totalmente descontrolado e precisa ter limite. Só que, no final do dia, esse discurso enfraquece o Estado e favorece o capital”, detalhou. 


Economista Gabriela Chaves explica política monetária considerada 'neoliberal' para estudantes em aula pública da UNEAfro / Bianca Feifel

Segundo ela, a população negra é a mais afetada por essa política de austeridade, porque está na “base da pirâmide da sociedade”. 

“A gente sabe que enquanto população negra, nós somos os maiores usuários das políticas públicas deste país. É fundamental para a gente ter uma educação de qualidade, gratuita e pública, é fundamental  ter um sistema de saúde universal, gratuito e de qualidade. Só que tudo isso envolve custos e o que eles estão fazendo agora é dizer pra gente que está muito apertada essa conta, que não tem dinheiro para educação nem para saúde”, explicou. 

O sociólogo e professor Hélio Santos afirmou que a atual política monetária do Banco Central é uma forma de racismo: “a alta taxa de juros é racista por uma razão muito simples: ela agrava os mais pobres e a pobreza no Brasil tem cor”.

1ª Jornada Pela Equidade Racial na Educação

A aula pública desta quarta (28) faz parte da programação da 1ª Jornada Pela Equidade Racial na Educação, que acontece em Brasília entre os dias 28 e 30 de junho.

Mais de 130 estudantes e professores dos cursinhos populares organizados pela UNEafro no Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) se encontrarão com representantes do Ministério da Educação, Ministério do Meio Ambiente, Palácio do Planalto e Congresso Nacional para dialogar sobre as pautas do movimento negro em defesa da educação.


Estudantes protestam contra alta taxa de juros imposta pelo Banco Central / Bianca Feifel

De acordo com Júnior Rocha, coordenador da UNEafro, a aula foi pensada para tirar o conhecimento sobre a taxa de juros do “economicês” da academia e dos jornais “da burguesia” para torná-lo um assunto popularizado e acessível. 

“A taxa alta de juros é uma forma da burguesia financeirista usurpar o Estado brasileiro e a classe trabalhadora. A cada 1% a mais de juros, são bilhões e bilhões que o Estado deixa de investir em políticas sociais, em educação, em saúde, além de frear a indústria, a geração de empregos e o consumo dos setores médios e mais pobres da sociedade. Então, conversar sobre isso com o povo e trazer os nossos especialistas e nossos quadros intelectuais para conversar é fundamental”, afirma o coordenador da UNEafro.

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Edição: Flávia Quirino