Festival amplia o alcance das narrativas negras
O Festival Latinidades, realizado anualmente em Brasília desde 2008, é um evento de grande relevância para a valorização e o empoderamento da cultura negra no Brasil e na América Latina. Com uma programação diversificada, o festival reúne artistas, intelectuais, ativistas e comunidades afrodescendentes em um espaço de reflexão, debate, expressão artística e celebração.
Ao longo dos anos, o Latinidades tem se consolidado como um ponto de encontro para a discussão sobre a afirmação da identidade negra, a celebração do 25 de julho “Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha”, a luta contra os racismos e a construção de estratégias antirracistas que se revertam em impacto real na vida das pessoas negras.
:: Festival Latinidades celebra a existência das mulheres negras e a promoção do Bem Viver ::
Idealizado em 2008, com o intuito de criar um espaço de visibilidade e protagonismo para mulheres negras no campo da cultura e das artes, tornou-se uma ação continuada de promoção de equidade racial e de gênero, e uma plataforma de impulsionamento de trajetórias de mulheres negras nos mais diversos campos de atuação. Hoje o Festival Latinidades é considerado o maior festival de mulheres negras da América Latina, envolvendo todas as regiões brasileiras e com crescente participação internacional. É um festival multilinguagens, que articula e se conecta com o poder público, organizações não-governamentais, movimentos sociais e culturais, universidades, redes, coletivos e outros grupos.
O evento busca criar um ambiente propício para o diálogo intercultural, o fortalecimento das identidades negras e a desconstrução de estereótipos e preconceitos. Durante o Festival Latinidades, uma ampla gama de atividades é oferecida aos participantes, incluindo mesas-redondas, debates, oficinas, exposições, performances artísticas, exibições de filmes, feiras de empreendedorismo afro e shows musicais. A diversidade de linguagens e formatos permite explorar diferentes perspectivas e discutir temas relevantes para a comunidade negra, como afrofuturismo, ancestralidade, identidade de gênero, feminismo negro, educação antirracista e políticas públicas.
Neste ano de 2023, o tema do Festival Latinidades é o Bem Viver, conceito referenciado nos povos originários Aymara e Kichwa da floresta e tradicionais da América Latina e que vem ganhando força e se consolidando entre as mulheres negras no Brasil. Confluindo com outras epistemologias, o Bem Viver vem cada vez mais confrontando o modelo vigente desenvolvimentista e exploratório da natureza e dos seres humanos.
O Festival Latinidades 2023 contará com uma programação que se estenderá por todo mês de julho, sendo de 06 a 09 em Brasília, 14 e 15 no Rio de Janeiro, de 21 a 25 em São Paulo e, 29 e 30 de julho terá sua finalização em Salvador. Em Brasília, as atividades serão realizadas no Museu Nacional da República (Plano Piloto) e no Ilê Axé Oyá Bagan (Paranoá).
É importante destacar que como demonstrado pela 5ª edição do Mapa das Desigualdades, lançado em abril pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos com apoio da Oxfam Brasil, o Distrito Federal é um território negro, com 57,4% da população assim autodeclarada.
:: Distrito Federal é território negro, aponta Mapa das Desigualdades ::
E mesmo com essa importante porcentagem de população negra, os dados levantados pelo estudo refletem a alta taxa de desigualdade vivenciada entre pessoas negras e brancas no saneamento básico, na segurança alimentar, na educação, no transporte e em outras áreas que diferenciam uma vida com dignidade garantida por políticas públicas, de uma que não tenha.
De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas 2023 sobre a concentração de riqueza no país, está no Lago Sul a parcela de super-ricos brasileiros, com média de renda por habitante de R$ 23.241,00, e a aproximadamente 15 km de distância está a Estrutural, com renda per capita média de R$ 485,97.
:: DF: Mulheres negras são as que mais utilizam transporte público para ir ao trabalho ::
Retomar esses dados de desigualdade é importante, pois reafirma a importância da existência e resistência de ações continuadas como o Festival Latinidades. Esse espaço que em mais uma edição irá promover diálogos desde o centro do poder, Brasília, debatendo com ministras de Estado o “Bem viver, políticas públicas e urgências sociais”; com as juventudes periféricas sobre as estratégias diante mapeamento das desigualdades vivenciadas nos territórios do DF; e que irá também celebrar com muita música, cultura e arte referenciada na afrodescendência e com tudo o que ela representa na construção histórica e subjetiva da sociedade brasileira.
Vida longa ao Festival Latinidades e sua importância na construção de novos referenciais, no letramento racial social e na convocação da sociedade para a importância da pauta racial.
Ao promover a cultura negra de forma inclusiva e acessível, o festival amplia o alcance das narrativas negras, desafiando estereótipos e contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, diversa e equitativa.
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*Cristiane Ribeiro é integrante do Colegiado de Gestão do Inesc
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Márcia Silva