As residências chefiadas por mulheres negras no Distrito Federal apresentam um índice quase três vezes maior de insegurança alimentar que aqueles em capitaneadas por homens não-negros. Esses dados fazem parte do estudo “Segurança Alimentar no Distrito Federal: um panorama socio-demográfico”, apresentado nesta sexta-feira (21) pelo Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF) do Distrito Federal.
O estudo que tem por base os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD/2021) aponta que 21% das residências do DF apresentam algum grau de insegurança alimentar. Porém, nas casas em que a mulher negra é a provedora esse índice sobe para 31,9%; nos domicílios chefiados por homens não-negros o número é de 11,5%; nos capitaneados por homens negros 19,1% e por mulheres não-negras 19,2%.
“A variável de raça cor não atua sozinha, até porque a população negra é a menos escolarizada, que tem menos acesso a postos de trabalho, que tem maiores proporções no mercado informal de trabalho e todos esses fatores interagem”, afirmou a diretora de Estudos e Políticas Sociais do IPEDF, Daiane Machado. Durante a apresentação do estudo foram apresentadas algumas recomendações para o combate à insegurança alimentar no DF, mas nenhuma relacionada à questão racial.
“Se a gente tem um dado que mostra que raça é um fator e na conclusão de um estudo isso não aparece é muito preocupante, porque essa diferença não vai ser olhada e não vamos ter ações específicas”, destacou a nutricionista Beatriz Blackman, que participou da apresentação do estudos e questionou a falta de uma recomendação específica para insegurança alimentar da população negra. “A ausência disso é propriamente a ausência de políticas que vão combater o racismo no Distrito Federal”, acrescentou.
O estudo do IPEDF considerou como “Segurança Alimentar” o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade. Por outro lado, “Insegurança Alimentar Leve” a preocupação ou incerteza quanto ao acesso a alimentos no futuro e qualidade inadequada de alimentos. Já como “Insegurança Alimentar Moderada” a redução quantitativa de alimentos entre adultos e por fim “Insegurança Alimentar Grave” a redução quantitativa de alimentos também entre as crianças.
Em números totais, os 21% dos domicílios que apresentaram algum grau de insegurança chegam ao número de 196.362 domicílios. Considerando os moradores, 76% se encontravam em segurança alimentar e 24% em algum grau de insegurança, sendo 15,42% “Leve” (451.965); 4,56% “Moderada” (133.599) e 4,59% “Grave” (134.459).
Outros recortes
Nas residências de alta renda 3,4% apresentaram algum grau de insegurança alimentar, enquanto nos de baixa renda esse índice chega a 35,7%. Também observou-se uma maior prevalência de insegurança alimentar em domicílios com arranjo familiar monoparental feminino, com 17,8% deles em grau leve e 7,1% em graus moderado e grave.
Dentre as regiões administrativas de alta renda (Águas Claras, Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way, Plano Piloto e Sudoeste/Octogonal), cuja renda domiciliar média era de R$ 15 mil, cerca de 4% dos domicílios e moradores estavam em insegurança alimentar.
Por outro lado, nas RAs de baixa renda (Brazlândia, Fercal, Itapoã, Paranoá, Planaltina, Recanto das Emas, Riacho Fundo II, Sol Nascente/Pôr do Sol, São Sebastião, SCIA/Estrutural e Varjão), cuja renda era de R$ 2.800, o percentual de insegurança alimentar ficou em torno 35%.
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Edição: Flávia Quirino