A profissional de Relações Internacionais Samay Gomes se formou na Universidade de Brasília (UnB) e trabalha atualmente num projeto que defende equidade racial na Educação, pelo Instituto de Referência Negra Peregum. A egressa é muito feliz por sua trajetória na universidade e com o programa de cotas que possibilitou seu acesso.
Neste 25 de julho - Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, a história de Samay é exemplo para muitas mulheres negras que atualmente são maioria entre estudantes cotistas da UnB.
"Eu entrei por cotas e não foi um processo muito fácil. Para entrar por cotas, eu estudei muito e precisei me esforçar muito também", contou Samay Gomes. Segundo ela, primeiro entrou na universidade para fazer Engenharia Mecatrônica, mas por ser a única aluna negra da turma não se sentia muito motivada. Então ela fez outro vestibular, também por cotas, para Ciências Sociais e depois de dois anos conseguiu uma transferência interna para Relações Internacionais.
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"Eu me senti acolhida em Relações Internacionais, por ser uma área que eu gosto muito e hoje trabalho com isso na sociedade civil", acrescentou Samay. A ex-aluna conta que durante a graduação em Ciências Sociais e Relações Internacionais existiam outras pessoas negras e isso foi importante para seu acolhimento, tanto que passou a atuar no Laboratório de Estudos Afrocentrados em Relações Internacionais (LACRI).
A professora e pesquisadora da Universidade de Brasília, Dione Moura, destaca o papel das mulheres negras na universidade em seu livro: "Va no Seu Tempo - mulheres negras cotistas no marco dos 60 anos da UnB". "A mulher negra tem uma dinâmica coletiva, baseada no espírito da coletividade que se hermana para o apoio, crescimento e transformação mútua", disse Dione ao justificar a importância das cotas raciais no sentido de criar um ambiente melhor para as alunas negras.
Mais mulheres negras
Pioneira na implementação de contas raciais dentre as universidades federais, a UnB comemorou em junho os 20 anos de uma política afirmativa que deu certo e atualmente é utilizada por toda rede federal de ensino superior do país.
Dados do último Anuário Estatístico da UnB mostram que as mulheres negras são a maioria entre os alunos cotistas.
De acordo com o Anuário de 2022, dentre os alunos que acessaram a universidade por cota étnica, 52% são mulheres e 48% homens. Dentre os cotistas de escolas públicas (em que a maioria são pretos e pardos) eram 54,2% de mulheres e 45,8% de homens. "Embora a diferença seja tímida ela é relevante, porque o impacto da formação de uma mulher preta e parda no ensino superior causa um impacto maior na sociedade", destaca Dione Moura.
"A mulher quando estuda ela provoca todo um movimento de outras pessoas envolvidas, seja seu núcleo familiar, no círculo de amizade", observa a professora, acrescentando que "essas mulheres pretas e pardas no ensino superior darão um grande resultado lá na frente, porque as mulheres que estudam falam, incentivam outras mulheres pretas e pardas, que são o grupo com menor acesso na nossa sociedade".
Ainda segundo o Anuário Estatístico, na Universidade de Brasília havia um pequeno percentual maior de mulheres na comparação aos homens, mas isso em razão das mulheres negras - pardas e pretas. No geral dos estudantes (sem especificar as cotas) eram 50,8% de mulheres e 49,2% de homens. Isso porque entre os estudantes pardos 51,6% eram do sexo feminino e 48,4% do masculino. Entre os pretos, foram 51,7% de mulheres e 48,4% de homens. Por outro lado, entre os estudantes brancos 51,7% eram do sexo masculino e 48,3% do feminino. Entre indígenas 60,8% de homens e 39,2% de mulheres.
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Edição: Flávia Quirino