Distrito Federal

Coluna

Decifra-me ou te ignoro!

Imagem de perfil do Colunistaesd
"Quando um artista lança sua cria pro mundo, ele não tem nenhum controle sobre o que vão sentir e pensar sobre ela" - Foto: Wagner Wagner
Quem pode pintar um quadro? Quem pode tocar música? Quem pode ser ator? O cerne da questão é o poder

Uma obra de 43 fotografias de lixeiras do Centro Histórico da Cidade de Goiás (GO), feitas com câmera de celular, do artista Wagner Wagner me chamou a atenção. Para além do trabalho em si, carregado de beleza e sutileza indiscutíveis, foram as possibilidades de interpretações e subjetividades que ele provoca em quem a contempla que me fizeram escrever sobre.

Não que isso seja exclusivo de "Sem Título", título da obra sem título. O fenômeno das possibilidades acontece com a maioria das obras de qualquer manifestação artística.

Quando um artista lança sua cria pro mundo, ele não tem nenhum controle sobre o que vão sentir e pensar sobre ela. Ainda que exista um propósito inicial do autor, um objetivo com a feitura de seu trabalho, nem sempre, ou quase sempre, ele é atravessado de distintas formas. 

Mas não é sobre isso que quero tratar aqui.

É sobre o não sentir e pensar nada. Que muitas vezes é confundido com ignorância.

Uma lixeira, pode ser apenas uma lixeira, parafraseando Freud. Há quem veja, nas pequenas fotografias de Wagner Wagner, a pauta da limpeza urbana, da reciclagem ou dos diferentes estilos das lixeiras e seus materiais. Há quem veja sujeira, há quem veja beleza. Há aqueles que se emocionam e aqueles que não.


Wagner Wagner. Sem título. 2023. Fotografias montadas em molduras de madeira. 43 peças 18,5x16,5x4cm. / Foto: Luiz Augusto Castro Chagas de Sá

E quem vê apenas lixeiras? Será descartado do seleto grupo de apreciadores e profundos entendedores do mundo das artes? E com isso temos outro grupo mais exclusivo ainda, o de quem faz arte. Quem pode pintar um quadro? Quem pode tocar música? Quem pode ser ator? O cerne da questão é o poder.

Para Wagner Wagner, que já desenvolveu um projeto de autopublicação de livros por sujeitos diversos, sem formação acadêmica e até mesmo não alfabetizados, tudo se pode.

O autor não revela exatamente qual era seu objetivo com estas fotografias, e cabe a nós encontrar ou não esse objetivo. Me questiono se esta última frase seria uma afirmação ou uma interrogação. E se o objetivo era esse? E se tudo não é uma grande brincadeira? Até mesmo um convite para quem vê: fazer sua auto exposição de fotografias feitas com o que você tem na sua mão, seu celular, e mostrar o que você está vendo por aí. Fazer arte tem um pouco disso, deixar interrogações e convites por aí.

E por falar em convite, quem quiser ver com os próprios olhos, e descobrir o que a exposição gera em você (ou não), a obra está exposta na capital vizinha, Goiânia, até o dia 05 de agosto no Centro Cultural Octo Marques, compondo a exposição coletiva "Abrir Horizontes" com outros 24 jovens artistas da região e curadoria de Dalton Paula, Divino Sobral e Paulo Duarte-Feitosa.

:: Leia outros textos desta coluna ::

*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::

Edição: Flávia Quirino