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Série| Caminho das Águas: Na busca por justiça, Atingidos são engolidos pela injustiça

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"A luta em defesa da água abrange pelo menos dois patamares: Socioambiental [o rasgo na terra] e Direitos Humanos" - Nane Camargo / MAB
Em todas as lutas dos movimentos populares está contido o sentido e busca por justiça

Uma luta, nunca está isolada das demais. O que ela precisa é ser compreendida e o mais difícil: interpretada. Sabemos que isso não é tarefa fácil e nem simples, principalmente na conjuntura diante de nós, em que o econômico define o político de maneira muito escrachada e direta.

O desmantelamento da governabilidade não é de hoje, sabemos, ele tem agido fortemente através da financeirização/investimentos, na esfera econômica, controlando e comandando a quebra dos acordos firmados na política, que claro, respinga nas relações entre os movimentos populares também!

Tenho usado o caso da voçoroca do Maranhão para comparar com a política mundial e brasileira. Quem é da área ambiental e agrária, sabe que antes de uma voçoroca alcançar níveis devastadores e sem “cura”, como a da proporção que chegou no Maranhão, leva-se anos e ela é decorrente do descaso e mau uso da terra e erosão por exposição às intempéries da natureza (sol, vento e chuva). O “rasgo na terra” é profundo e não há correções, as prevenções deveriam ocorrer antes. O desastre, ou melhor dizendo, o crime está feito e como já sabemos, os atingidos são as populações mais vulneráveis!

Mas o que isso tem a ver com a luta pela água?

Bom, entender o significado das lutas passa a ser primordial à medida que o buraco aumenta e caímos todos nele!

A luta em defesa da água abrange pelo menos dois patamares: Socioambiental [o rasgo na terra] e Direitos Humanos, distribuição e acesso às populações atingidas por todos os lados no nosso país [justiça].

No dicionário, Justiça é a qualidade ou caráter do que é justo e direito.

Em todas as lutas dos movimentos populares, está contido o sentido e busca por justiça, mesmo que dentro de um sistema de contradições vigente. Justiça essa que se entrelaça com a significação de moral e ética!

O filósofo John Stuart Mill muito bem explorou essa relação, na defesa da ética utilitarista e das liberdades individuais, desta forma, a busca da maior felicidade para o maior número de pessoas deveria ser fundamento para julgar as ações e caso fosse impossível atingir essa felicidade completa, como criticado à época, ele disse que se não fosse pela maior felicidade, deveria ser pela mitigação dos sofrimentos. De mitigar sofrimentos, vivemos todos! Mas isso já não basta!

Ora, se justiça decorre de acordo firmado entre os homens, seu resultado pode ser a injustiça sem penalidades. Isso nos faz lembrar de algum crime que segue sendo mitigado e sem responsabilidades aos responsáveis?

Bom, esse pode ser considerado um resumo da luta dos atingidos e atingidas do nosso país, pois segue caminhando mais sobre as injustiças do que sobre a justiça! É um desafio constante, justamente por isso, estar sempre tentando tirar as pessoas do buraco, da lama, da inundação […]. Lidando com temas sensíveis e sofridos da sociedade.

As leis da natureza diferem das leis dos homens. O que podemos aprender e apreender de uma para a outra e assim guiar melhor as nossas lutas?

Companheirada, essa é a última coluna da Série Caminho das Águas e minha última coluna enquanto MAB, espero continuar criando e escrevendo, pois é o que me faz feliz!

Boas lutas para toda a esquerda, boas lutas ao Movimento dos Atingidos por Barragens!

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*Adriana Dantas é educadora popular e graduanda em Filosofia pela Universidade de Brasília.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

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Edição: Márcia Silva