Distrito Federal

Dia Nacional

Sem regularização, assentamento Canaã é exemplo de agroecologia no DF

Famílias que integram MST ocuparam área de monocultura de eucalipto que voltou a ser Cerrado

Brasil de Fato | Brasília (DF)  |
Antes área de monocultura de eucalipto, agora é exemplo de transição agroecológica - Arquivo pessoal

Em abril de 2011 centenas de famílias que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam uma área de monocultura de eucalipto na bacia do Rio Descoberto e transformaram o local num exemplo de transição agroecológica, na região administrativa de Brazlândia. Neste dia 3 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Agroecologia e exemplos como este apontam caminhos sustentáveis para a preservação dos rios e mananciais no Cerrado. 

Esse grupo de famílias atualmente faz parte do pré-assentamento Canaã e já transformou por completo a paisagem antes tomada por eucaliptos, por plantas típicas do Cerrado. Este processo, denominado de transição ecológica, é importante para a fauna e a flora do bioma, que é o mais ameaçado pelo desmatamento e avanço do agronegócio. 

“O monocultivo de eucalipto impedia até mesmo a presença de pássaros, porque não dialogava com a cultura. Hoje é diferente, pois tirou o eucalipto e o cerradinho está voltado, os animais estão voltando e a gente tá contribuindo com a biodiversidade”, afirma Flavão Cerratense, militante do MST, ambientalista e agrofloresteiro, como se denomina.

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“Se a gente continuar com esse projeto, vamos contribuir cada vez mais com as nascentes, porque a água que cai aqui está infiltrando aqui e abastecendo as nascentes do Descoberto, que garante a maior parte da água utilizada no Distrito Federal”, explicou Flavão. Segundo ele, antes da transição agroecológica, realizada pelos assentados do Canaã, o local coberto de eucalipto tinha uma terra ácida que pouco contribui para a infiltração das águas das chuvas e por consequência comprometia o Reservatório do Descoberto, que chegou a um volume morto em 2018. 

Flavão também destacou a importância da reforma agrária para a preservação do Cerrado, pois segundo ele a agricultura familiar já faz um trabalho fundamental de agroecologia, que precisa ser ampliado. “O Cerrado do DF está em risco, porque tudo vira especulação imobiliária para condomínio. E se não tiver a reforma agrária, com prática embasada na agroecologia não teremos água no Distrito Federal e o Cerrado é o berço das águas”, analisou. 


 

Assentamento Canaã

Apesar do importante trabalho de agroecologia que já realizam, os moradores do pré-assentamento Canaã ainda não estão regularizados. “Mesmo sem a regularização, já somos o assentamento que mais tem agrofloresta no DF e não tivemos acesso às políticas públicas da reforma agrária, mas esperamos que com o novo governo essa situação possa mudar”, avaliou Flavão Cerratense.


Canaã é o assentamento com mais água floresta no Distrito Federal / Arquivo pessoal

O Brasil de Fato DF entrou em contato com a Superintendência do Incra-DF para saber sobre o andamento do processo de regularização do pré-assentamento Canaã, a instituição informou que aguarda parecer ambiental do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM).

Dia Nacional da Agroecologia

O Dia Nacional da Agroecologia foi oficializado em 2017 pelo Congresso Nacional, como uma data que marca a defesa da vida, que se materializa na produção, comercialização e no acesso a alimentos saudáveis, sem a utilização de agrotóxicos. A agroecologia é uma forma de agricultura baseada em princípios ecológicos que estão em harmonia e equilíbrio com a natureza. Não utiliza nenhum tipo de fertilizante sintético, agrotóxico e semente geneticamente modificada (transgênica).

*Matéria atualizada em 04/10 às 09:16

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Edição: Márcia Silva