Distrito Federal

Promoção da Saúde

Mais de 100 organizações da sociedade civil manifestam apoio a diretor exonerado do Ministério da Saúde

Repercussão negativa de trecho de uma apresentação nas redes sociais motivou ataques a servidor de carreira da pasta

Brasil de Fato | Brasília (DF)  |
Apresentação cultural ocorreu durante 1º Encontro de Mobilização para Promoção da Saúde no Brasil - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Organizações ligadas aos direitos das pessoas LGBTQIAPN+ e da luta antirracista divulgaram uma nota conjunta de posicionamento em apoio ao servidor Andrey Lemos, que ocupava a direção do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde, do Ministério da Saúde (MS).

O documento com 136 assinaturas surge após a repercussão negativa nas redes sociais de um trecho de uma apresentação cultural realizada durante o 1º Encontro de Mobilização da Promoção da Saúde no Brasil, realizado em Brasília de 4 a 6 de outubro. A atividade foi organizada pela diretoria chefiada por Lemos e resultou em sua exoneração do cargo.

A nota da Coalizão Nacional LGBTI e suas entidades filiadas, por incidência da União Nacional LGBT destaca a trajetória de Andrey Lemos no trabalho de prevenção e promoção da saúde, principalmente entre as populações vulnerabilizadas.

“Uma enorme onda de comentários e reações vem cumprindo o papel de atacar, ridicularizar, criminalizar e escarnecer a trajetória de um dedicado servidor público negro, gay, nordestino, historiador, e Doutorando em Saúde Coletiva, militante da luta por uma sociedade com mais equidade e acesso direitos para todas as pessoas que, há décadas, pauta a importância da universalidade do SUS e da Saúde Pública brasileira”, ressalta trecho da nota.

Andrey é servidor de carreira do Ministério, concursado desde 2016, e a nota encabeçada pela Coalizão crítica o desfecho desse episódio ao optar-se por “criminalizar uma manifestação isolada” e tentar deturpar um biografia. “O que está posto é que existe um discurso orquestrado pelos setores de direita, que anseiam fragilizar o governo federal democraticamente eleito. Discurso este que, infelizmente, tem sido fortalecido por adesões abruptas de parcela do campo progressista”, considerou a nota.

A nota lamenta ainda que a performance tenha sido destacada ao invés das discussões políticas e os encaminhamentos realizados durante o I Encontro de Mobilização para a Promoção da Saúde no Brasil. "Um momento inédito e histórico, cujos objetivos foram apoiar a implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde, alicerçar a construção da atenção primária do futuro e fortalecer o SUS para cuidar mais e melhor da nossa gente, do povo do nosso país".

Cojira

A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF) também repudiou os ataques racistas e homofóbicos que Andrey Lemos vem sofrendo desde que houve sua identificação na imprensa e a exoneração do cargo de diretor. “Pedimos que as redações estejam atentas à forma como a a cobertura pode reforçar uma narrativa racista e trans/lesbo/homofóbica, não apenas em relação a determinadas expressões artísticas como em relação aos servidores públicos federais negros e gays”, alertou a Comissão. 

A entidade destaca ainda a necessidade de abordar o trabalho desenvolvido por Andrey ao longo de décadas para o aprimoramento das políticas públicas de atenção à saúde. “Apesar do evento ter contado com outros artistas e especialistas em atenção primária, apenas o vídeo da dançarina viralizou e reduziu uma iniciativa importante a um espetáculo 'erótico'”, ressaltou a Cojira. 

Ministério da Saúde

Em nota, o Ministério da Saúde, disse que a apresentação ocorrida durante o Encontro foi um episódio isolado que não reflete a política da pasta nem os propósitos do debate sobre a promoção à saúde. O MS classificou o episódio como “inadmissível” e informou que o diretor do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da pasta “assumiu integralmente a responsabilidade".

A exoneração de Andrey Lemos do cargo de diretor ocorreu “à pedido”. O Ministério da Saúde informou ainda que criou uma curadoria de eventos para avaliar as futuras propostas de participações dos eventos da pasta.

Entenda o caso

Durante o 1º Encontro de Mobilização para Promoção da Saúde no Brasil, promovido pelo Ministério da Saúde, foram realizadas apresentações culturais, contemplando a diversidade cultural do país. Em uma destas apresentações, viralizou nas redes sociais um trecho de uma das coreografias. O recorte do evento rapidamente ganhou os holofotes considerando a dança como 'erótica', 'sensual' e 'inapropriada' para um evento ministerial. Após a repercussão, o Ministério afastou o Diretor do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde, que pediu exoneração do cargo.

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::

Edição: Flávia Quirino