O segundo dia do Acampamento Nacional da “Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular”, que acontece em Brasília até 17 de outubro, foi marcado por atividades formativas. Mais de 2 mil jovens que participaram de mais de 40 rodas de conversas com temas sobre feminismo camponês popular, diversidade sexual e de gênero, genocídio da população negra, agroecologia, soberania alimentar, comunicação, entre outros.
Pela manhã, a programação deste sábado (14) iniciou com uma mesa de debate sobre “Patriarcado, racismo e a construção de relações emancipadas”, com a participação de Symmy Larrat, secretária Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIAP+ do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, Giselle Florentino, coordenadora executiva da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial e Maria de Jesus, coordenadora do Movimento de Pequenos Agricultores e membro da Via Campesina Brasil.
“É um grande desafio superar o passado impossibilitando que o ódio e o retrocesso desconstruam os direitos conquistados. Assim, nossos algozes tentam impedir nossas existências diariamente, quando olhamos para a estrutura do Estado percebemos o quanto ela é patriarcal, racista e LGBTfóbica em seu DNA, impedindo que essa população acesse os locais de poder e os seus direitos”, destacou Symmy Larrat.
:: Começa em Brasília o Acampamento da Juventude, que reúne mais de 2 mil jovens de todo país ::
A Secretária apontou ainda que o processo de reconstrução da Política Nacional LGBTQIAP+ tem que levar em consideração a realidade da juventude brasileira.
“É exatamente na juventude, quando esse debate da sexualidade, das identidades ganha uma força ainda maior que as violências acontecem de uma maneira muito agressiva. Então construir as políticas que nós estamos construindo, que pensa o cuidado e o acolhimento, e o acesso ao direito da população LGBTQIA+ tem que levar em conta os territórios onde essa juventude está, por isso que é tão importante vir aqui no Acampamento para escutar essa juventude que também precisa ser atendida por essa política pública que precisa chegar a todos os territórios”, destacou.
Para Giselle Fiorentino, da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, construir um diálogos com jovens do campo sobre racismo é muito importante, principalmente, em razão do debate sobre as violações do Estado muito latente em relação ao combate às populações rurais e periféricas.
“A gente entende o genocídio não só pela ponta do fuzil da Polícia Militar, mas por ausência de saúde, de educação, de habitação. O debate sobre a soberania alimentar é muito importante para a gente e como Estado tem um projeto político para exterminar corpos pretos e favelados. Pensar a juventude nesses debates é estratégico para que a gente possa construir um projeto político emancipatório de luta social que tenha na centralidade os combates ao racismo, ao patriarcado e para além dos marcos do Capital”, observou.
Maria de Jesus do Movimento de Pequenos Agricultores / Foto: Dimas Souza
Coordenadora do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Maria de Jesus, apontou que a existência de uma sociedade emancipada depende da não existência do racismo e patriarcado. “Não dá para construirmos novas relações, mantendo essas elementos de opressão. Para ter uma transformação é necessário ter a participação dos povos do campo, das águas e das florestas e a juventude é necessária nessa construção, que precisa levar em consideração também o feminismo camponês e popular, a agroecologia e uma reforma agrária de fato popular”, destacou.
Rodas de Conversa
Mais de 40 rodas de conversas foram realizadas no período da tarde, uma delas ‘Genocídio da Juventude Negra e Violência Policial’ reuniu mais de 20 jovens, entre estes, Josafá Moreira, de 25 anos, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e assentado no interior da Bahia. “Escolhi participar da oficina porque esse tema tem um peso, tem uma importância, porque nós não conseguimos fazer esse debate em nossa base, dentro de nossas áreas. Eu gostei da roda porque teve uma participação dos manos e das minas pretas que estão no rolê. Às vezes a gente tem medo de falar, de falar e de expressar as nossas dores”, observou.
Rodas de conversas fizeram parte da programação da tarde deste sábado (14) / Foto: Mykesio Max
A venezuelana, Ana Sepulveda, participou da roda de conversa sobre ‘Mecanização e Tecnologia no Campo’, ela é uma das jovens que integram a delegação internacional que acompanha o Acampamento Nacional. “É importante destacar que esses espaços, onde se aglomeram a juventude, onde está esse fervor juvenil, onde se discutem quais são as necessidades dos jovens atualmente, é de grande importância para nós que viemos de outros países poder levar essa experiência aos nossos territórios, ao nosso país, para que possam existir os mesmos encontros com jovens de diferentes territórios, também discutindo os diferentes problemas que existem em nosso país”, disse.
Além da Venezuela, também participam do Acampamento jovens da Argentina, Cuba, Colômbia e Guatemala.
Programação
No domingo (15), a juventude da Via Campesina participa de debates sobre “Juventude, arte e cultura na batalha das ideias” e 45 oficinas, que tratam desde produção audiovisual a defesa pessoal. O dia finaliza com o Festival da Juventude, com shows de Boi Mangá, Cantos da Amazônia, Trio pé de serra dona flor e As Fulô do Cerrado.
:: Diversidade: Acampamento Nacional 'Juventude em Luta' divulga programação cultural ::
Acampamento Nacional
Encontro reúne jovens de todas as regiões do país / Foto: Mykesio Max
O segundo Acampamento Nacional da juventude da Via Campesina iniciou na sexta-feira (13) e reúne mais de 2 mil jovens de 22 estados do país. Um dos objetivos do encontro é potencializar a plataforma de lutas da juventude do campo, das águas e das florestas.
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Edição: Flávia Quirino