A segunda manifestação pelo fim do apartheid de Israel contra o povo palestino no Distrito Federal reuniu cerca de 300 pessoas em solidariedade à Palestina nesta sexta-feira, 20 de outubro, no espaço que divide a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional da República.
“Não é um conflito, é um massacre”, disse Gabriel Charbel, militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto DF (MTST-DF), ao comentar que “o que está acontecendo em Gaza hoje é parte de um processo mais amplo de colonização e limpeza étnica que assola também a Cisjordânia”, que data de 1948. Desde então, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental são o que restam do território palestino ocupado pelo estado de Israel.
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Charbel afirmou ainda que é preciso tomar cuidado com o uso das palavras ao se referir à situação na Palestina. “Palavras estão sendo usadas para criar um falso entendimento do que está acontecendo. Esta não é uma resposta de Israel, este não é um conflito do Hamas”. Ele também clamou pelo fortalecimento do movimento BDS, da sociedade civil palestina, que pede o boicote, desinvestimento e sanções contra Israel.
O encontro, convocado pelo Comitê de Solidariedade à Palestina, teve início às 17h30 e contou com a participação de partidos políticos, movimentos sociais, entidades e independentes. Estiveram presentes ainda os deputados distritais Fábio Félix (PSOL) e Gabriel Magno (PT).
“O massacre que hoje acontece na Faixa de Gaza é reflexo de uma agenda política bancada e financiada pelos Estados Unidos naquele território”, declarou o parlamentar petista, acrescentando que a única solução possível para o fim do massacre é a “constituição de um estado soberano do povo palestino”.
Ele ainda afirmou que está articulando junto com o PSOL na Câmara Legislativa do Distrito Federal uma Frente de Solidariedade ao Povo Palestino, que ainda precisa ser aprovada pela atual legislatura.
A ex-deputada distrital e federal Maria José Maninha, presidente da Associação de Solidariedade com o povo do Sahara Ocidental, criticou a postura imperialista dos Estados Unidos que financia o estado de Israel e afirmou que “nosso foco é a luta pela autodeterminação e contra a barbárie, pela sobrevivência do povo palestino”.
Maninha, como é conhecida, é médica e comentou que em 1988 esteve na Faixa de Gaza em uma missão humanitária organizada pela Representação Palestina no Brasil e pelo Crescente Vermelho. Na ocasião, um grupo de médicos e enfermeiros, do qual fazia parte, permaneceu atuando algumas semanas entre Gaza e Cisjordânia.
"De acordo com nossas especialidades, fomos distribuídos em hospitais e centros de saúde. Fizemos atendimentos, visitamos famílias de presos políticos e elaboramos um extenso relatório com depoimentos e fotos que foi enviado à ONU", comentou ela, acrescentando que os cirurgiões da equipe participaram diretamente no atendimento dos feridos pelo exército de Israel.
Maria José também disse que esteve no hospital Al-Ahli, que foi bombardeado no último dia 17 de outubro, deixando centenas de mortos que usavam o local como abrigo. "Lá atrás a gente já presenciava o massacre de Israel contra o povo palestino."
Membro da comunidade palestina do Distrito Federal, o refugiado palestino Farouk Mansour esteve presente no ato e contou que há 13 dias não dorme e nem dorme direito, desde o dia 7 de outubro – quando o grupo político Hamas liderou uma contraofensiva armada contra Israel no entorno da Faixa de Gaza. Desde então, ele perdeu o contato com seus irmãos e familiares e não sabe se estão bem ou vivos.
Israel, que mantém a região sob ocupação e cerco militar há 15 anos, intensificou o ataque contra a região desde então. Resultado disso é possível ver nos dados. O Ministério da Saúde em Gaza divulgou que mais de 3 mil pessoas foram mortas na Palestina e outras 12.500 ficaram feridas em Gaza.
Na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, pelo menos 61 palestinos foram mortos desde 7 de outubro e pelo menos 1.230 estão feridos. Em Israel, o número de pessoas mortas é de 1.300, com pelo menos 4.229 feridos.
Farouk Mansour nasceu em Khan Younis, no sul da Faixa, e mora no Brasil há 16 anos. Anda com dificuldade, com o apoio de uma bengala, e conta que o motivo é porque foi ferido na perna por um explosivo de Israel quando ainda vivia em seu território. Na manifestação ele alertou sobre os bombardeios israelenses e a morte de mulheres e crianças palestinas.
O ato terminou por volta de 19h40 sob chuva, que fez o trajeto da vigília ser reduzido – inicialmente a intenção era caminhar até o Itamaraty, mas terminou pouco antes de chegar na Catedral de Brasília.
Comitê
Composto por cerca de 30 entidades, entre partidos políticos e movimentos sociais, o Comitê de Solidariedade à Palestina foi criado em 13 de outubro em uma reunião no Sindicato dos Bancários.
Segundo Sayid Tenório, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), o Comitê é um instrumento de mobilização de forças e pessoas “que querem justiça, direitos e reparação para os palestinos, bem como um cessar-fogo que abra caminhos humanitários para o atendimento das vítimas civis em Gaza”.
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Edição: Flávia Quirino