Finalidade de uma avaliação não é e nem pode ser comercial ou dentro de uma lógica competitiva
Nós, que somos da Educação, sabemos bem que a avaliação é uma ferramenta importante, que pode contribuir para a formulação de um diagnóstico onde se encontram fragilidades e fortalezas, e indicativos de ações a serem tomadas para melhorar. É por isso que o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) não é uma avaliação relevante, aliás, mal pode ser chamado de avaliação.
Em primeiro lugar, trata-se apenas de uma prova de desempenho aplicada em estudantes a cada três anos, desconsiderando todos os demais ângulos do fenômeno educacional. Quem realiza o exame é a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que, por ser uma entidade da economia, tem padrões próprios a partir dos quais entende e analisa a educação.
Além disso, é praticamente impossível estabelecer uma referência única para 80 países, conjunto que apresenta uma ampla diversidade econômica, cultural, religiosa, social e política. Comparar esses países tão diversos (e desiguais) entre si não ajuda em nada, porque é óbvio que um estudante de um país rico se sairá melhor que um estudantes de um país pobre - e o problema aí não é educacional, mas socioeconômico.
Ou seja, o resultado do Pisa não necessariamente expõe a qualidade da educação. Avaliações são processos bem-vindos porque efetivamente podem ajudar. No entanto, o Pisa vende gato por lebre, porque se trata de um exame de desempenho muito mais próximo de um vestibular que de uma avaliação institucional.
Por tudo isso, quem acredita no importante papel que ferramentas de avaliação institucional podem cumprir não se ilude com o Pisa. E adicionalmente, é importante ficarmos atentos para que não se criem distorções como premiações a escolas e professores, afinal, a finalidade de uma avaliação não é e nem pode ser comercial ou dentro de uma lógica competitiva - isso comprometeria frontalmente o processo e o resultado.
Uma avaliação de verdade envolve o próprio objeto em avaliação, é construída democraticamente e tem padrões claros e resultados objetivos, de preferência em relatório, para que possa efetivamente ser instrumento de melhorias.
Fora disso, a chance maior é de tornar-se apenas um grande recurso ideológico ou de marketing.
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*Letícia Montandon é coordenadora da Secretaria de Imprensa do Sinpro-DF.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Márcia Silva