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Coluna

O que a gente diz, quando a gente diz?

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"Estamos alinhados no mesmo projeto de país?" - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasília
Habitamos entre as contradições, vivemos num mundo capitalista!

A fala e a escrita são nossas maiores armas na comunicação e constituição enquanto seres humanos. Elas organizam nossas cognições e as ligações que fazemos conosco e com o mundo subjetivo, objetivo e social, ou seja, essa interação realiza uma ação comunicativa – teoria proposta pelo filósofo alemão Jurgen Habermas.

Para ele, essa construção da linguagem é a ferramenta mais adequada para se conseguir chegar a compreensão das pessoas nas suas relações sociais.

Trago para a reflexão da coluna de hoje, o fato de prestarmos atenção ao que o outro fala, seja ela de forma falada, escrita, corporal, pois somente assim, conseguiremos continuar avançando nos processos de transformação tão caros para a militância e o conjunto da esquerda. Acolher e saber lidar com as tantas diferenças simbólicas e complexas nas nossas experiências, que é o que nos constitui enquanto indivíduos, mas também enquanto sociedade e sobretudo enquanto militantes!

Para a psicanálise, dizemos que o primeiro passo para tentarmos iniciar as resoluções do problema, é quando falamos bastante sobre o mesmo. Sem fala, discurso, debate, escrita, leitura e interpretação, não há possibilidade de nem ao menos a tentativa de se compreender a questão, que dirá, buscar as transformações práticas e necessárias!

Mas a comunicação não é só usada por quem busca transformação do ser humano para a justiça social, ela também é instrumento do capital, que usa das contradições para tirar de nós, as possibilidades de leitura realista do mundo. Quem conhecia Nêgo Bispo para além de nós? E até mesmo na militância, quem fazia ecoar sua teoria da Contracolonização? Sua proposta era simples e objetiva: refazer os laços entre humanos e natureza!

Estamos alinhados no mesmo projeto de país?

Sabemos que temos muitas diferenças a vencer e saber lidar com os impasses, independente do ambiente é algo desafiador, desde a convivência familiar, no ambiente de trabalho, nos grupos de internet, no transporte ou numa vida inteira de militância, as relações são complexas!

Ouso dizer que no ambiente militante é mais desafiador ainda, porque temos a consciência de como deveria ser e sabemos como tem sido! Mas podemos reelaborar o como conviver com os incômodos, transformá-los em acolhimento - engajamento, invés de submetê-los a subserviência?

Trazendo Lélia Gonzalez para esse papo, ela já dizia: “É importante ressaltar que emoção, a subjetividade e outras atribuições dadas ao nosso discurso não implicam na renúncia à razão, mas, ao contrário, num modo de torná-la mais concreta, mais humana e menos abstrata e/ou metafísica. Trata-se, no nosso caso, de uma outra razão”.

É sobre novas racionalidades que estamos falando! Pois nossas questões, embora tenham raízes profundas no racismo, machismo e homofobias produzidas por esta sociedade capitalista que vivemos, elas também são temporais.

Em muitos momentos apenas não conseguimos responder no aplicativo de mensagem com a agilidade que as pulsões pedem. Às vezes nossos corpos pedem silêncio e é preciso prestar atenção a esse convívio, que mesmo diante das tragédias e violências cotidianas, merece sim ser festejado, celebrado e ser acolhido.

Não seremos iguais, enquanto vivermos nesse mundo de desigualdades, sabemos! Mas continuamos lutando por essa igualdade, porque temos coesão ideológica, embora em muitos momentos não exista coerência.

Habitamos entre as contradições, vivemos num mundo capitalista!

Mesmo assim, contamos uns com os outros! É o que temos! Avante!

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*Adriana Dantas é educadora popular e graduanda em Filosofia pela Universidade de Brasília.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

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Edição: Flávia Quirino