O avanço da chuva no Distrito Federal tem elevado o risco de proliferação do vírus da dengue em todas as regiões do Distrito Federal. Amostras positivas da doença aumentaram 215% nas últimas cinco semanas, de acordo com a Secretária de Saúde. Foram mais de dois mil infectados no território distrital apenas na primeira semana do ano.
De acordo com o primeiro Boletim Epidemiológico de janeiro, os dados de 2024 já representam “um aumento de 207% no número de casos prováveis de dengue em residentes no DF se comparado ao mesmo período de 2023, quando foram registrados 669 casos prováveis da doença no DF”.
Ao longo de 2023, a Secretaria marcou quase 50 mil casos suspeitos e nove ocorrências de óbito no distrito. De acordo com o último Boletim Epidemiológico de dezembro, houve “uma redução de 49,2% no número de casos prováveis de dengue em residentes no DF, se comparado ao mesmo período de 2022, quando foram registrados 69.991 casos prováveis da doença no DF”. Foi o único ano de regressão da doença na unidade distrital desde 2019. De acordo com os boletins anteriores, o nível ascendente de casos mais que triplicaram a cada ano até 2022.
Brazlândia liderou o crescimento da infecção transmitida pelo Aedes aegypti, registrando mais de 2.500 casos, o que representa um aumento de 51% em comparação com 2022 (927,43 casos por 100 mil habitantes). Com uma marca relativa de 516,93 casos por 100 mil habitantes, entrou para a classificação de Alta Incidência. Recanto das Emas também ocupa essa faixa de contaminação (370,26 casos por 100 mil habitantes).
Ceilândia, Vicente Pires, Taguatinga, Samambaia, Gama, Sobradinho, Lago Sul, Estrutural, Cruzeiro, Varjão e São Sebastião estão classificadas como incidência média, ou seja, com uma taxa de incidência entre 100 e 299,9 casos por 100 mil habitantes.
Plano de soluções do GDF
O Governo do Distrito Federal lançou na primeira semana do ano o Plano de Enfrentamento da dengue e outras arboviroses (2024-2027), que define o ideal estratégico de combate à doença por meio de ações estratégicas voltadas para a comunicação, mobilização e educação em saúde, "integrando a sociedade em um movimento informacional (utilidade pública/instrução), participativo (controle de criadouros/denúncia) e educacional (formação/cultura de prevenção)". Segundo o documento, objetivo principal é levar conhecimento à população e "torná-los aliados na prevenção e combate ao Aedes aegypti, gerando a corresponsabilização sanitária do cidadão”. Dentre as outras arboviroses, chikungunya e zika são as principais.
O coordenador de controle químico e biológico da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde do DF, Reginaldo Braga, explicou à Agência Brasília que o programa foi elaborado de acordo com “um itinerário baseado nas solicitações das administrações regionais, postos de saúde e hospitais das cidades que mais registraram casos prováveis ou confirmados de dengue". De acordo com ele, a estratégia é "a última válvula de escape para eliminar as fêmeas transmissoras do vírus”.
Dentre as estratégias contínuas implementadas pela saúde pública no Distrito Federal, destacam-se o uso de fumacê, a gestão ambiental, o controle químico, as inspeções domiciliares conduzidas por agentes de vigilância, e o investimento em tecnologias, como as armadilhas ovitrampas.
Atendimento à população
O professor do IFB de Taguatinga Lucas Barboza e a irmã Loiane, moradores de Santa Maria, foram contaminados com dengue na primeira semana de janeiro. Ele relatou a dificuldade em conseguir atendimento na unidade de saúde local. “O combate à dengue é ultra precário, na UBS 5 de Santa Maria não tem médico, na farmácia não tem todos os remédios que os próprios médicos receitam. O Hospital da Santa Maria está superlotado e já deu bandeira vermelha, então só é atendido quem está literalmente morrendo”, relata.
Diante da situação, Lucas Barboza se deslocou de Santa Maria para conseguir atendimento na UPA do Gama. “O atendimento foi rápido (mais ou menos uma hora pra médica fazer o primeiro atendimento). O problema é que a UPA apesar de ser nova, o número de cadeiras, tanto na recepção, como dentro, era insuficiente, muita gente esperando em pé ou no chão”, disse o professor.
Em resposta aos questionamentos do Brasil de Fato DF sobre as carências no Hospital Regional de Santa Maria, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IGES-DF) informou que “o pronto-socorro do HRSM está com bandeiramento vermelho somente para os pacientes que procuram a Clínica Médica". "Pacientes que buscam a especialidade e estão com classificação de risco azul, verde, amarelo e laranja estão sendo referenciados a procurarem atendimento nos serviços de referência para o perfil clínico, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), conforme delimitação e definição do Ministério da Saúde”, continua. Eles não responderam sobre os outros problemas relacionados à falta de médicos e estrutura precária para receber os enfermos.
Para Lucas Barboza, existe um atraso no plano estratégico do governo pelos anos seguidos de aumento da doença e pela falta de articulação do sistema de saúde e saneamento básico nas regiões administrativas do DF. “As equipes de vigilância sanitária estão reduzidas. Tem vários casos de dengue aqui na rua e tem muito lixo pela cidade. Se o governo funcionasse, as equipes de saúde seriam completas, desde a UBS até o hospital. O diagnóstico inicial da dengue poderia ser feito nas UBS, mas sem médico e sem medicamentos sobrecarrega as UPAs e os hospitais”.
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Edição: Flávia Quirino