O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) realizou um ato público na manhã desta terça-feira (30) para exigir justiça completa para o crime ocorrido em 2004 que ficou conhecido como “Chacina de Unaí”. A manifestação reuniu mais de 70 funcionários da auditoria fiscal do trabalho e aconteceu em frente ao Ministério do Trabalho e Emprego, na Esplanada dos Ministérios.
O ato integra as atividades da Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo e o Dia do Auditor-Fiscal do Trabalho. Dentro desta agenda de mobilização, também está prevista a realização de uma reunião, nesta quarta-feira (31), do procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, com as presenças de dirigentes do Sinait, familiares das vítimas e advogados.
Para o presidente do sindicato, Bob Machado, a expectativa para essa reunião com a PGR é de que sejam finalmente cumpridos as prisões dos mandantes para que a justiça seja feita em nome dos colegas de trabalho e familiares das vítimas.
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Ele afirma que o objetivo é reforçar o pedido de justiça “às autoridades para que efetivamente localizem os foragidos e também para agradecer ao Ministério Público que ao longo desses 20 anos foi fundamental para que fosse elucidado o caso através do inquérito policial na época da Chacina de Unaí, da Polícia Federal. E depois para a prisão dos executores e para a condenação dos executores e dos mandantes”.
O ciclo de atividades da Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo também inclui o lançamento do primeiro episódio de “A Chacina de Unaí – ImpuneMENTE – A história sem fim”, um podcast, no estilo crime real narrativo. De acordo com o portal do sindicato, serão cinco episódios divulgados diariamente, ao longo desta semana, nos principais tocadores de podcast.
A Chacina de Unaí e a impunidade
A Chacina de Unaí completou 20 anos em 28 de janeiro. Nesta data, em 2004, quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego foram assassinados, enquanto faziam uma fiscalização de rotina contra a exploração de trabalho escravo em fazendas em Unaí, município localizado no noroeste de Minas Gerais, a 166 km de Brasília.
As vítimas, auditores do trabalho, Nelson José da Silva, João Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, além do motorista Ailton Pereira de Oliveira, foram fuzilados à queima-roupa. Em 2009, a data 28 de janeiro foi instituída como Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo.
Segundo as investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF), os responsáveis pelo crime foram identificados como Rogério Alan Rocha Rios e Erinaldo de Vasconcelos Silva.
O primeiro julgamento levou nove anos para ocorrer, em 31 de agosto de 2013, em Belo Horizonte. Na ocasião, três pistoleiros contratados foram considerados culpados por um júri popular. Entretanto, a prisão de outro grupo de acusados, incluindo os irmãos Antério e Norberto Mânica, apontados como mandantes da chacina, ainda não ocorreu, apesar de Antério ter se entregado à polícia em setembro de 2023.
Dois dos últimos condenados pela chacina ainda se encontram foragidos, Norberto Mânica e Hugo Alves Pimenta, mandante e intermediário do crime, respectivamente. De acordo com a página que o sindicato dedica à memória e justiça das vítimas, em “2022, Antério foi novamente julgado por júri popular, na Justiça Federal em Belo Horizonte, e condenado à pena de 64 anos de reclusão. No entanto, continua a recorrer em liberdade. Em setembro desse mesmo ano, Norberto Mânica, José Alberto de Castro e Hugo Alves Pimenta tiveram suas penas reduzidas”.
Para Bob Machado, a injustiça permanece, pois a Chacina de Unaí envolve “mandantes poderosos, com muito poder econômico, que se utilizaram de recursos intermináveis perante a justiça para permanecerem durante 20 anos soltos. Enquanto os familiares desses fiscais, os filhos dos nossos colegas cresceram sem os pais e as esposas sem os maridos. E depois desses quase 20 anos, em dezembro do ano passado, dois dos mandantes passaram a cumprir pena, que foi Antério Mânica e José Alberto Castro, mas dois dos mandantes ainda continuam foragidos”.
A diretora do Sinait do Goiás, Rosa Maria Campos Jorge, acrescenta que “a nossa luta por justiça só vai parar quando virmos todos os condenados por este crime bárbaro atrás das grades”.
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Edição: Márcia Silva