Ocupação temporária das vias públicas e do centro pelos foliões questiona as lógicas excludentes
O Carnaval é uma manifestação cultural que ecoa através dos tempos, desafiando fronteiras físicas e sociais, e reivindicando os espaços públicos como arenas democráticas para a expressão de nossa identidade coletiva.
Nesse sentido, o Carnaval se torna uma ferramenta vital na disputa pelos imaginários urbanos, na qual cada batida de tambor e cada passo de dança se transformam em narrativas de pertencimento e luta por uma cidade mais inclusiva e plural. Inspirados pelas palavras poéticas de Cecília Meireles, somos levados a refletir sobre a importância do Carnaval não apenas como uma celebração efêmera, mas como um ato de afirmação da nossa identidade cultural e da disputa dos imaginários urbanos.
Nos versos de Cecília, encontramos a imagem poderosa da máscara, do disfarce que nos permite transcender nossas próprias identidades e nos misturarmos anonimamente na multidão. Essa é uma metáfora rica para a experiência do Carnaval, onde os brasilienses se libertam das amarras do cotidiano e se permitem experimentar novas formas de ser e de se relacionar com o mundo ao seu redor, em uma cidade tão desigual.
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Em Brasília, essa celebração ganha contornos particulares, mesclando tradições locais com influências de todo o país. A cidade se enche de foliões de todas as idades e de todos os cantos, reunindo-se para celebrar a diversidade cultural que caracteriza a cidade.
Do Carnaval de rua, das fanfarras, do Menino da Ceilândia, das Escolas de Samba e dos blocos tradicionais da cidade, Brasília se transforma em um verdadeiro caldeirão de cores, ritmos e sabores.
No entanto, a defesa do Carnaval vai além da simples organização e viabilização dessa importante manifestação.
Trata-se também da luta pela democratização dos espaços públicos, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso à cidade. Em um contexto de crescente privatização do espaço urbano, o Carnaval se apresenta como um momento de resistência, onde a ocupação temporária das vias públicas e do centro pelos foliões questiona as lógicas excludentes que muitas vezes regem a gestão das cidades.
Assim como a voz que constrói apenas perguntas, o Carnaval nos convida a questionar as normas e convenções que regem nossa sociedade.
É um momento de reflexão sobre a nossa própria identidade e sobre o tipo de cidade que queremos construir coletivamente. Nesse sentido, as roupas encantadas que vestimos durante a festa não são apenas fantasias, mas sim símbolos de uma utopia coletiva, onde a diversidade é celebrada e as diferenças são respeitadas.
Por isso, é fundamental que defendamos o direito ao Carnaval e à cidade como espaços de encontro, de convívio e de celebração da vida.
É preciso resistir às tentativas de cerceamento e privatização desses espaços, garantindo que eles permaneçam abertos e acessíveis a todos. Afinal, como nos lembra Cecília Meireles, é na dança do Carnaval que encontramos o ritmo do tempo e a eternidade dos momentos fugazes.
Assim, que possamos modelar nossas máscaras, vestir nossas roupas encantadas e dançar pelas ruas das nossas cidades, celebrando a diversidade e reafirmando o direito de todos à cidade. Que o Carnaval seja sempre uma festa de resistência, de alegria e de democracia cultural.
Que assim seja, ao som do ritmo pulsante das nossas próprias vidas.
*Rafael Reis é coordenador do Instituto No Setor.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino