Uma forte chuva deixou várias regiões administrativas do Distrito Federal alagadas na noite desta sexta-feira (9). Na Asa Norte, região do Plano Piloto, quadras ficaram debaixo d’água, entre os locais atingidos está a Universidade de Brasília (UnB). Ceilândia e Sol Nascente também foram impactadas.
A situação do alagamento nas regiões administrativas no Distrito Federal não é uma novidade, as enxurradas são recorrentes. Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, Benny Schvarsberg, o problema dos alagamentos está na Asa Norte como um todo e a bacia de detenção, ainda em construção para receber todo o volume de água das chuvas da região, não resolverá o problema.
“É necessário, a meu ver, um plano integrado de drenagem de toda a Asa Norte, com várias pequenas bacias, canais de infiltração e armazenamento de água e muitos jardins de chuva”, observa Benny Schvarsberg.
Nas redes sociais, algumas pessoas apontaram que a construção do Noroeste, bairro de classe média alta inaugurado no final de 2012, é uma das responsáveis pelos alagamentos. Na avaliação do professor Benny Schvarsberg, o bairro do Plano Piloto contribui com o volume de água pluvial, mas não é determinante para as enxurradas e alagamentos. “O problema é a Asa Norte como um todo como disse acima. Avalio que a solução estrutural está no plano e ações integradas”, pontua.
Para o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no DF (IAB-DF) e especialista em Reabilitação Urbana e Arquitetônica Sustentável pela UnB, Luiz Sarmento, a situação também não é nova. “Tem pelo menos 10 anos que vem acontecendo com mais importância, com mais danos e pouca coisa foi feita”.
O cenário de emergência climática também é um dos fatores a ser observado, com chuvas mais concentradas e longos períodos de estiagem. “ Se já existia um problema de alagamento, com a emergência climática a tendência é piorar”, observa Luiz Sarmento, que acrescenta: “isso deveria ser uma agenda prioritária”.
Outro fator apontado por Samento é a pouca ação governamental diante da situação. “Tem essa grande obra do Drenar DF, mas a gente sabe que para lidar com as chuvas não bastam essas grandes obras. É como a mobilidade, você não resolve a mobilidade urbana só com metrô, você precisa de ciclovia, precisa de calçadas bem feitas, é preciso de uma gama de possibilidades que tudo precisa estar funcionando juntos”, ressalta.
:: DF: janeiro está entre os mais chuvosos dos últimos 60 anos e áreas periféricas são as mais afetadas ::
O presidente do IAB/DF também pontua as possíveis soluções para a drenagem e contenção de águas pluviais no DF. “O que a gente viu ontem é uma velocidade absurda de água que não tem contenção. O que a gente precisa fazer é aprender com a natureza. Criar pequenas lagoas de retenção nas quadras, Brasília tem muita área verde, então isso é fundamental, a gente consegue fazer pequenas lagoas de retenção. E em caso de uma chuva muito forte, vão acolher essa água que não vai simplesmente cair no sistema de drenagem pluvial, de uma vez, saturando tudo e causando alagamentos”, aponta Luiz Sarmento.
“Cada vez mais áreas verdes são substituídas por estacionamentos, as vias são duplicadas, triplicadas, quadruplicadas, crescendo a área impermeabilizada que aumenta a velocidade da chuva, diminui a área de absorção e é esse tipo de problema que a gente está vendo hoje. Então, é fundamental que a gente volte a olhar com atenção para as áreas verdes, que a gente não permita que áreas verdes urbanas sejam transformadas em mais estacionamento, em mais área pavimentada, que a pressão do mercado imobiliário não afete áreas sensíveis do nosso espaço urbano”, conclui o presidente do IAB-DF.
UnB debaixo d’água
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o estrago no subsolo do Instituto de Ciências Central (ICC centro) da universidade. A reitora da universidade Márcia Abrahão e o vice-reitor Enrique Huelva estiveram, ainda na noite desta sexta, no Campus Darcy Ribeiro para avaliar os impactos da chuva na UnB.
Em nota, a universidade informou que o Instituto de Física foi o mais prejudicado com o alagamento, que provocou danos em equipamentos, documentos, livros e mobiliário.
A instituição também apontou que a deficiência no sistema de drenagem de águas da Asa Norte e a topografia da região “propiciaram o alagamento”, que atingiu também o auditório do departamento de Engenharia Florestal, localizado na Faculdade de Tecnologia (FT).
Ainda na nota, a UnB destaca que “apesar das graves dificuldades orçamentárias, a Universidade de Brasília executou obras de contenção abrangendo todas as unidades situadas no subsolo do ICC, edificação com mais de 50 anos”.
“O parque tecnológico do Instituto de Física foi bastante afetado e o prejuízo é milionário. Nos próximos dias vamos mobilizar todos os esforços possíveis para recompor o que foi perdido”, afirmou o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Leandro Grass,em uma rede social.
Repercussão
Nas redes sociais, parlamentares e organizações se manifestaram sobre a situação.
O Levante Popular da Juventude no DF, pontuou que “ao invés de investir no combate à epidemia de dengue e na drenagem das cidades, o Ibaneis segue metendo obras pelas cidades sem planejamento algum, gerando diversos transtornos aos trabalhadores. A população do Distrito Federal merece viver com dignidade!”.
Para o deputado distrital Gabriel Magno (PT) a situação é uma tragédia. “As chuvas durante o período de carnaval transformam o DF em um caos, mas sabe o que mais contribui para isso? O descaso, a negligência e a falta de planejamento do GDF. Queremos providências para os prejuízos causados em nosso espaço universitário, casas, ruas e segurança da população”, apontou em uma rede social.
“A falta de planejamento do atual governo é assustadora, e leva a cidade inteira ao colapso, porque mesmo com anos de aviso não investe o suficiente em drenagem urbana. Os alagamentos são provocados pela especulação imobiliária e sua construção voraz, que não leva em consideração em nenhum momento os impactos ambientais que as grandes obras trazem”, observou o deputado Max Maciel (PSOL), que visitou na noite desta sexta o hospital de campanha para atender pessoas com dengue, localizado em Ceilândia, que também foi afetado pelos alagamentos.
O GDF informou que foi feita uma intervenção no terreno do Hospital com escavação para conter a força da água. Além disso, o hospital também foi limpo e a água retirada das instalações.
Situação de emergência
Desde o dia 2 de janeiro as chuvas fortes em várias regiões do Distrito Federal têm retomado problemas de alagamentos e causado transtornos graves de moradia, transporte e saúde pública. O Decreto Nº 45.382, que declara estado de alerta no DF, foi publicado no Diário Oficial do DF no dia 3 de janeiro.
:: Chuvas fortes causam alagamentos e deixam pessoas desabrigadas em vários pontos do Distrito Federal ::
O Governo do DF divulgou neste sábado (10) que uma força-tarefa foi realizada para reparar e minimizar o impacto das chuvas nas regiões administrativas.
O Brasil de Fato DF entrou em contato com a Defesa Civil do Distrito Federal para saber das ações de contenção e emergenciais que estão previstas, mas até o fechamento desta matéria não houve resposta.
Chuvas continuam
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta laranja (perigo), com previsão de temporais e chuvas intensas no DF neste fim de semana.
De acordo com o órgão, em janeiro o Distrito Federal teve chuva acima da média. O total de chuva registrado foi de 389,7 milímetros, o que representa 89% acima da Normal Climatológica, que é de 206 mm.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino