Um dos últimos cinemas de rua do Brasil, o Cine Brasília encerrou suas atividades no início de fevereiro e de acordo com informações do governo do Distrito Federal (GDF) o prédio passará por uma obra para reforma e ficará fechado por no mínimo 90 dias. No entanto, a falta de um cronograma para a obra e a ausência de participação da sociedade civil no processo causou preocupação entre os frequentadores, cineastas e demais produtores de cinema no DF.
A última exibição foi o filme nacional Ó Paí, Ó 2, protagonizado pelo ator Lázaro Ramos, no dia 7 de fevereiro. A estudante Lorena Paiva esteve presente na sessão e só descobriu que o cinema seria fechado quando estava no local, o que a deixou bastante emocionada, pois tem preocupação do Cine Brasília ficar muito tempo fechado.
“Primeiro me causa estranheza essa reforma, porque não foi feito uma divulgação adequada. Em sempre vou no Cine Brasília e só fiquei sabendo no último dia, o que me deixou ainda mais preocupada”, narrou Lorena, destacando que o Cine Brasília é um dos únicos cinemas em Brasília que apresenta filmes alternativos, com um valor acessível para a população do DF.
Para o cineasta Adirley Queirós, do coletivo Cine em Ceilândia, o Cine Brasília é um aparelho público de Estado e deveria receber melhor atenção do poder público. “O Cine Brasília é fundamental para a produção, divulgação e potencializar o lazer. Ele é um centro catalizador de qualquer possibilidade de política publica de cinema”, descreveu Adirley elencando que existe um tripé para a produção de cinema no DF, formado pelo Fundo de Apoio a Cultura, a Escola de Cine e o Cine Brasília.
“Não se pode fazer uma reforma via Estado, sem divulgar o planejamento. A gente precisa saber que planejamento é esse, quanto tempo vai ficar, de onde vem o recurso, como esse recurso vai ser aplicado”, questionou o cineasta, destacando a falta de participação da sociedade civil em todo esse processo de reforma. “A reforma é importante, mas precisamos de prazos e mais diálogo”, acrescentou o diretor do premiado 'Mato Seco em Chamas'.
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Já o produtor executivo de Cinema, Vittor Pinheiro, lembrou que Cine Brasília tem um papel importante não apenas para o DF, mas para o Brasil uma vez que é a sede do principal e mais antigo festival de cinema brasileiro do país, o FBCB - Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “Ele é fundamental para realização de festivais de cinema brasileiro e estrangeiro, para a estreia dos filmes dos cineastas brasilienses, serve para eventos, serve para testes técnicos de exibição, é um imóvel do estado com utilidade imprescindível”, acrescentou Pinheiro.
“Para minha carreira o Cine Brasília foi de super importância, foi nessa casa do cinema brasileiro que eu com 16 anos, em 2017, ganhei o prêmio de melhor diretor e uma bolsa de estudos para estudar cinema gratuitamente em uma universidade privada do DF”, contou Vittor Pinheiro, que hoje é produtor da Rovit Filmes. O produtor reconhece que o Cine Brasília necessitava de reforma, mas tem receio sobre em relação aos prazos e citou as reformas do Teatro Nacional, que está fechado para reforma desde 2014.
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Desde 2022, o Cine Brasília era gerido de forma compartilhada, entre a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal (SECEC/GDF) e a Organização da Sociedade Civil (OSC) Box Cultural. O contrato foi encerrado no dia 7 de fevereiro, mas até o momento não houve divulgação de um novo edital para a continuidade do contrato ou seleção de uma nova gestão compartilhada do cinema.
Reforma do Cine Brasília
O prédio do Cine Brasília, localizado na entrequadra 106/107 da Asa Sul, foi projetado por Oscar Niemeyer, dispõe de capacidade para 607 lugares e foi inaugurado no dia 22 de abril de 1960, um dia após a entrega de Brasília. Trata-se de um dos mais importantes equipamentos de projeção cinematográfica da América Latina e recebeu em 1987 o título de “Patrimônio Mundial da Humanidade”. É também um dos poucos cinemas de rua que restam no país.
De acordo com informações do GDF, a reforma inclui a criação da acessibilidade dos banheiros, substituição das partes elétrica e hidráulica, impermeabilização do telhado, reparos nas caixas de luz na área externa e restauros na obra Candango, que fica exposta na entrada do cinema. A previsão da obra é de que os trabalhos durem até 90 dias, com investimento de R$ 1,5 milhão provenientes da Lei Paulo Gustavo e de recursos próprios da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
O Brasil de Fato DF entrou em contatar com a Secec para ter mais informações sobre a reforma e para responder as críticas da sociedade civil sobre falta de transparência e participação no processo. Mas até o fechamento dessa matéria não respondeu aos questionamentos.
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Edição: Márcia Silva