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Coluna

Toda Luta, se faz da soma de razão e intuição!

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"Desejo que nossas lutas nos proporcionem abrir caminhos, não fechá-los em si mesmos, como algo uno e sem interferências da realidade que nos cerca e grita por atenção e visibilidade!" - Foto: Mídia Ninja
A história está sendo feita e escrita por nós a cada instante!

Essa coluna nasce inspirada na fala da jurista e magistrada Kenarik Boujikian, cofundadora e sócia da Associação de Juristas pela Democracia (ABJD) e Associação Juízes para a Democracia (AJD), que na ocasião da sua fala, durante o ato em comemoração dos 40 anos do MST, realizado no dia 27 de janeiro, disse sobre a criminalização do movimento: “Não era só uma questão da racionalidade da luta do MST […], além da racionalidade, está carregada de paixão, de afeto, de alguma coisa que soma a racionalidade. A composição dessas duas coisas é que ilumina essa luta”.

Essa fala é inspiradora no sentido de que somos sim seres pensantes, dotados de razão, mas também de “outras coisas”, que aqui, considero ser a intuição! E fazendo o uso destas faculdades mentais, vivemos na busca incessantemente de compreendermos a realidade na qual estamos inseridas, de sentirmos o meio ao nosso redor e das tomadas de decisões necessárias, sejam através da história, memórias, religiões e da ciência. Para além de uma só razão.

Corroborando com essa ideia, inúmeras são as vertentes que tem criticado e com “razão”, sobre essa tal racionalidade absoluta para explicar e responder a tudo, dando espaço para a intuição.

A transformação dessa virada de chave para enxergar tudo como verdadeiro a partir da sua quantificação, vem desde a revolução científica, ou seja, a partir dos séculos XVI e XVII, em que essa racionalidade passou a ser vista como totalidade e certeza dos resultados, deixando de lado tudo o que não era quantificável. A sociedade vista por um plano cartesiano e que nos influencia até os dias de hoje.

Mas o que seria essa intuição, então?

Tem a ver com as formas de como nos organizamos na realidade e que por isso, nem sempre as decisões e definições são tomadas a partir da linearidade da racionalidade. Nossa realidade não é programável, por mais que os números, códigos e empresas de inteligência artificial com seus robôs potentes queiram nos vender e convencer, nossas decisões precisam de múltiplas racionalidades e de intuição.

De acordo com o dicionário de filosofia, de Nicola Abbagnano, seguem-se alguns conceitos de intuição ao longo da história da filosofia:

“Relação direta (sem intermediários) com um objeto qualquer […], a começar por Plotino, que emprega esse termo para designar o conhecimento imediato e total que o Intelecto Divino tem de si e de seus próprios objetos […]. Mas a filosofia medieval empregou esse termo para indicar uma forma particular e privilegiada da consciência humana, em primeiro lugar o conhecimento empírico. Bacon dizia que ‘a alma não se acalma na intuição da verdade se não a encontrar por força da experiência’ […]. Duns Scot privilegiava como intuitivo o conhecimento que ‘se refere àquilo que existe ou àquilo que está presente em determinada existência atual’, distinguindo-o do conhecimento abstrativo […]. Bacon, identificava o conhecimento intuitivo com a experiência. A partir de então, até Kant, o significado específico desse termo é experiência. […]. Kant distingue a Intuição sensível e a Intuição intelectual. [...]” (ABBAGNANO, 2007, p 581,582).

O atrelamento da intuição ao teologismo e metafísica, deixam em grande parte de ser considerado pela filosofia. E em 1868 Peirce fez uma crítica do conceito de Intuição e afirmava a impossibilidade de pensar sem signos e de conhecer sem recorrer ao vínculo recíproco dos conhecimentos e Claude Bernard dizia:

‘’A Intuição ou sentimento gera a ideia ou a hipótese experimental, ou seja, a interpretação antecipada dos fenômenos da natureza. Toda a iniciativa experimental está na ideia, pois só ela provoca a experiência. A razão ou o raciocínio servem apenas para deduzir as consequências dessa ideia e para submetê-las à experiência" (ABBAGNANO, 2007, p. 583).

Com isso, desejo que nossas lutas nos proporcionem abrir caminhos, não fechá-los em si mesmos, como algo uno e sem interferências da realidade que nos cerca e grita por atenção e visibilidade! Que possamos cada vez mais somar e não subtrair!

Como proporcionar que nossa intuição esteja mais aguçada?

Tempo, reflexão, contemplação da arte, natureza, de nós mesmos e com quem nos relacionamos para que possamos produzir visões globais das coisas. Não é bobagem, essas relações nos ajudam e muito nas tomadas de decisões mais sérias que precisemos tomar. Acreditem!

A história está sendo feita e escrita por nós a cada instante!

Referência: Abbagnano, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução da I a edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da tradução e tradução dos novos textos Ivone Cas¬ tilho Benedetti. - 5 a ed. - São Paulo : Martins Fontes, 2007.

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*Adriana Dantas é educadora popular e graduanda em Filosofia pela Universidade de Brasília.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

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Edição: Márcia Silva