O estudante de Geologia da Universidade de Brasília (UnB), Honestino Guimarães, que foi desaparecido em pela ditadura militar, 1973, será homenageado, com o diploma acadêmico post mortem. A ação faz parte de um processo de reparação histórica a Honestino e tantos outros vítimas de um regime autoritário e violento a partir do golpe de 29 de março de 1964.
A professora Betty Almeida, contemporânea de Honestino, lembra que o processo de expulsão do estudante da UnB em 1968 foi fraudulento e injusto. “Faltavam 11 créditos para ele completar o número de créditos necessários para concluir o seu curso. Então, a concessão do diploma de biólogo, postumamente, será um de memória, verdade, justiça e reparação para Honestino”, descreveu Betty, que estudou na UnB de 1967 a 1968, depois se transferiu para a Universidade Federal do Rio de Janeiro e concluiu o curso de licenciatura em Química.
“Honestino era um bom aluno. Ele passou em primeiro lugar no vestibular da UnB em 1965, mas colocou o seu projeto de lutar contra a ditadura militar no Brasil e pelo socialismo democrático acima de seus projetos pessoais”, contou Betty. Ela também comemora o fato da expulsão de Honestino da UnB está sendo revertida.
Betty Almeida é autora do livro Paixão de Honestino, um relato histórico, sobre a trajetória violentamente interrompida quando o estudante foi sequestrado, torturado e morto. Segundo a autora, o livro aborda as circunstâncias da morte de Honestino, a partir do histórico luta e a resistência dessa vítima da ditadura militar. “Sua memória está viva em todos nós que convivemos com ele e nas pessoas que também conhecem a história dele, que foi uma história de grande de luta e empenho pessoal na causa da democracia e do socialismo democrático no Brasil”, acrescentou Betty.
Diploma post mortem
Os tramites para a concessão do diploma acadêmico post mortem a Honestino Guimarães foram discutidos em um encontro, com dirigentes na UnB no dia 7 de março. Por sugestão da reitora da UnB, Márcia Abrahão, a entrega do título deve ser feito no aniversário da UnB, 21 de abril. “É muito importante o envolvimento do instituto também, porque na Universidade precisamos aprovar nos órgãos colegiados. Fico feliz com toda essa mobilização. Vamos fazer isso unidos, a UnB e a sociedade”, defendeu a reitora.
Para o ex-reitor, José Geraldo de Sousa Junior, o diploma a Honestino é um “ato de reparação”, em razão do dano ao projeto de vida. “Eu fiquei bastante tocado com a notícia da USP e de saber do movimento de amigos, familiares e da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB”, disse José Geraldo, ao citar a concessão de diplomas de graduação post mortem para estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mortos pela ditadura militar.
Já o diretor do Instituto de Geociências (IG), Welitom Borges, explicou que passará pelo conselho de sua unidade a proposta de concessão de diploma. “Honestino foi o primeiro colocado do primeiro vestibular para Geologia. Para nós, é uma alegria nos unirmos a esse ato e integrar o grupo. Vou levar ao conselho o quantos antes. Já solicitamos o histórico do Honestino no ano passado”, justificou.
Honestino Guimarães
O jovem desaparecido pela ditadura nasceu em 28 de março de 1947, em Itaberaí (GO). Em 1965 Honestino Guimarães foi aprovado em primeiro lugar no vestibular para Geologia da UnB. Em 1968 foi eleito presidente da Federação dos Estudantes da UnB – ano que foi preso a partir da invasão militar na Universidade e depois expulso da academia. Entre 1968 e 1973, Honestino viveu na clandestinidade, sendo sequestrado, aos 26 anos e não mais sendo mais visto. A confirmação pública só ocorreu em 1996, mas o corpo nunca foi encontrado.
Em entrevista ao Brasil de Fato DF em março de 2023 Mateus Guimarães, sobrinho de Honestino Guimarães falou sobre a importância da memória e as discussões atuais do Golpe de 1964.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Márcia Silva