Distrito Federal

Teatro político

Mamulengo e reforma agrária popular no aniversário de um ano do Latera

Encontro contou com apresentação de teatro de bonecos, debate sobre reforma agrária popular e análise de conjuntura

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Atores do Laboratório de Teatro Político e Reforma Agrária - Camila Araujo

“Não sei com quantos quilos de medo se faz uma tradição. O que quero saber é: com quantos quilos de coragem se faz a revolução?”, questionou o Laboratório de Teatro Político e Reforma Agrária (Latera) em uma cena teatral apresentada na sede do Distrito Drag na noite de quinta-feira, 21 de março. 

A apresentação, chamada de “Ocupação de Bonecos”, contou com teatro de mamulengo – uma forma popular e tradicional de teatro no Brasil, e faz parte da aula inaugural do Latera que dá início às atividades de 2024 do grupo. O encontro também tem objetivo de comemorar um ano do Latera.  

“A gente enxerga o teatro como construção de um projeto de mundo que a gente acredita e a reforma agrária popular é um dos pilares dessa construção”, declarou Cintia Isla, integrante do Laboratório e militante do Levante Popular da Juventude no DF. 


Teatro de bonecos, ou mamulengo, é uma forma tradicional e popular de teatro / Camila Araujo

O comunicador Mateus Quevedo, do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), apresentou uma análise de conjuntura relacionada ao campesinato brasileiro, e a assentada no Ceará e integrante do setor de produção do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Antônia Ivoneide, conhecida como Neném, apresentou o debate sobre Reforma Agrária Popular. 

“Se a gente quer construir um sistema alimentar novo, a gente precisa democratizar o acesso à terra”, declarou Mateus, defendendo um sistema alimentar “com alimento saudável perto das pessoas e sem desigualdade social”. 

Ele também destacou que a agroecologia, um campo de estudo e uma forma ecológica de fazer agricultura, é o caminho para conquistar soberania alimentar. 

“O ano de organização da casa já passou e agora vamos precisar de uma cobrança maior”, disse Mateus, em relação ao atual governo Lula, defendendo que é preciso ter orçamento para proporcionar melhorias ao campesinato brasileiro, com terra para quem quer produzir comida saudável e com incentivo à permanência da juventude rural no campo. 

Neném, do MST, comentou a necessidade de debater reforma agrária junto a população, para que “o povo brasileiro saiba o que é e para que serve”, passando assim também a defendê-la. 

Essa é a perspectiva do conceito de reforma agrária popular, dirigida e apropriada pela população. “Não existe problema junto ao povo que o próprio povo não saiba a saída”, declarou. 

Ela comentou sobre a necessidade de avançar na construção de bancos de sementes – estruturas organizativas que possibilitam o acesso a sementes de qualidade na hora certa para o plantio, sem depender de grandes empresas –, sobre produção cooperada e a necessidade de agroindustrialização da produção rural – para que os produtos possam durar mais tempo e ser vendido pelo país. 

A assentada ainda falou sobre a função da terra na Reforma Agrária Popular: “não é só sobre ser produtiva, mas também produzir comida”, disse, criticando a forma de atuação do setor do agronegócio, que se concentra na produção de commodities como soja, café e milho para exportação. 

“Não se faz reforma agrária popular sem a participação de mulheres, jovens e crianças. Não existe alimento saudável onde a violência contra mulheres e jovens. A reforma agrária popular não é um problema dos camponeses, é um problema de toda sociedade e a resposta está na sociedade”, concluiu. 


Debate sobre reforma agrária popular com Neném, do MST, e análise de conjuntura com Mateus Quevedo, do MPA / Camila Araujo

A programação continua na próxima quarta-feira (27), com uma aula sobre Teatro e Reforma Agrária, ministrada pelo professor da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Villas Bôas, e a celebração de um ano do grupo.

Latera 

O Latera surgiu como uma ação da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF), que mantém atividades na cidade desde 2017. Após período de isolamento social causado pela pandemia, o grupo nasceu durante a campanha presidencial de 2022. Com cenas e banquinha de vira voto, o grupo contribuiu no diálogo com a população de diversas regiões administrativas do DF.

Inspiradas por processos revolucionários em que o teatro foi um forte mecanismo de influência junto à classe trabalhadora; movimentos sociais populares e grupos de teatro se reuniram para se manter em estudo, formação e experimentação em teatro político. 

Assim, o Laboratório surge com o intuito de estudar e lutar pela Reforma Agrária Popular (RAP) enquanto projeto urgente e inicial para a sociedade brasileira.

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Edição: Márcia Silva