Mais do que resgate da memória, nos fala sobre escolhas embasadas na unidade das lutas
Esse é o título da peça protagonizada pela Cia Burlesca que esteve em cartaz entre os dias 01 e 03 de março aqui em Brasília. A peça narra duas histórias em paralelo, o percurso das artistas aos acampamentos e assentamentos do Sul e Nordeste, mais precisamente para as visitas realizadas no assentamento Annoni, Rio Grande do Sul e na cidade de Alagoa Grande, Paraíba, em busca das histórias de luta e vida de duas mulheres: Roseli Nunes e Margarida Alves.
A peça nos envolve e nos convida a entrar naquelas histórias, do começo ao fim, fazendo-nos experimentar ao que as artistas relatam do que vivenciaram, ouviram e do que viram quando estiveram nas visitas. Sim, eu me senti dirigindo os carros que os levaram até os acampamentos e assentamentos, talvez fosse essa a ideia do trio, quando encenavam estar dentro dos carros no percurso do caminho, falavam com os motoristas, mas eles não estavam lá, apenas os três passageiros. Lembrei-me das minhas viagens de militância. A história somos nós!
No retorno de cada visita, voltavam carregados de materiais de áudio e imagem e com isso, reproduziram o mais fiel possível, a trajetória dessas mulheres e de tantas outras que conviveram com elas, como Elizabeth Teixeira e até mesmo em outras trincheiras, como Marielle Franco, Dilma Ferreira, irmã Dorothy Stang e tantas outras, que de vários lugares e épocas, se somaram à mesma luta. Mulheres como a gente. A história somos nós!
O respeito e a fidelidade da representação de momentos históricos e decisivos vividos por aquelas mulheres, foi de arrepiar e um convite para não deixarmos tantos legados morrerem no esquecimento. Olhar para o passado com atenção nos faz sentir as riquezas que as organizações já conseguiram fazer em tempos tão adversos e que deram tantos frutos.
E o mais importante: mais do que resgate da memória, nos fala sobre escolhas embasadas na unidade das lutas de sul a nordeste deste país. A história somos nós!
“É melhor morrer na luta, do que morrer de fome”, essa frase foi dita durante a encenação, e foi proferida originalmente por Elizabeth Teixeira, mulher que, como muitos sabem, assumiu a luta em defesa dos trabalhadores rurais após a morte do marido, João Pedro nas Ligas Camponesas do nordeste.
Em 2017 eu a usei também para finalizar a minha apresentação de conclusão de curso, que tratava sobre o direito humano à alimentação, e quantos outros direitos humanos precisam das nossas vozes ativas e sem medo, como na saúde, moradia, emprego… Ainda temos muitas trincheiras a vencer. Somos esse mesmo povo, ou sementes dele - a história somos nós!
Grata à Companhia Burlesca pelo desprendimento, criação e injeção de ânimo neste mês, que continua dedicado à luta das mulheres!
O convite final é: vamos ao Teatro, principalmente os que são promovidos pelos nossos pares e sobre as nossas histórias de lutas. A história somos nós!
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*Adriana Dantas é educadora popular e graduanda em Filosofia pela Universidade de Brasília.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino