Movidos pelo lema “Nosso Marco é Ancestral: Sempre Estivemos Aqui!”, milhares de indígenas marcharam pela Esplanada dos Ministérios nesta quinta-feira (25) em defesa dos territórios e dos direitos dos povos originários do Brasil.
“São 524 anos de resistência, de luta dos povos indígenas, e estar aqui é um momento muito simbólico para poder falar das lutas dos territórios, das demandas que nós temos. A mineração mata, a falta de visibilidade com os povos indígenas também mata. Estar aqui representando vários povos do Brasil é um ato forte de dizer que somos vivos. Ainda lutamos contra grandes empresas e dizemos não ao marco temporal e sim à vida dos povos indígenas”, disse ao Brasil de Fato DF a indígena Wakrewa Krenak, de Minas Gerais.
É a quinta vez que Wakrewa participa do Acampamento Terra Livre (ATL), desta vez acompanhada de sua filha de três anos. “Não existe ser ativista para os povos indígenas, ser indígena é nascer na luta desde pequeno”, acrescentou.
Com gritos de "demarcação já!", indígenas cobraram mais estrutura e orçamento para o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e maior comprometimento de outras pastas, especialmente do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), com os direitos originários.
Além dos representantes de mais de 200 povos indígenas de todos os biomas do país, outras organizações que também lutam por terra e território se juntaram à marcha em Brasília: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
“A luta pela terra não é só dos povos indígenas”, afirmou Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). “O que estamos pedindo é o direito ao acesso à terra e ao território, não só dos povos indígenas, mas também de outros segmentos que fazem essa luta. Essa marcha marca um momento histórico dessa união de forças que lutam pela vida, que são todos os movimentos sociais que estão lutando e militando em favor da vida”.
Os participantes marcharam do Complexo Cultural Funarte, onde acontece a 20ª edição do ATL, em direção à Praça dos Três Poderes. A expectativa era de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descesse a rampa para saudar os indígenas, o que não aconteceu.
Uma comitiva de 35 lideranças indígenas foi recebida pelo chefe do executivo após a marcha. O intuito é apresentar a carta de reivindicações do movimento com 25 demandas endereçadas ao governo, dentre elas a celeridade na demarcação de terras indígenas. Também participaram da reunião o chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Funai), Joenia Wapichana, e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.
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“É muito importante nós estarmos aqui novamente, unidos, todos os povos do Brasil”, celebrou Nimon Oroeu, vice-coordenador da Organização dos Povos Indígenas de Rondônia e Nordeste do Mato-Grosso (OPRIONA), que participa do ATL pela terceira vez.
“Eu não falo que eu já estou com missão cumprida, porque a luta continua. A luta não para. As nossas principais reivindicações são que esses governos, esses deputados que tentam violar nossos direitos, nos respeitem, porque nós somos o verdadeiro povo brasileiro. Na verdade, o Brasil não foi descoberto, o Brasil foi invadido”, defendeu o indígena do povo Uru-Eu-Wau-Wau de Rondônia.
Mulheres indígenas sofrem com garimpo ilegal
Para Raquel Tupinambá, coordenadora do Conselho Indígena do Povo Tupinambá do Baixo Tapajós (Citup), o sentimento de estar participando pela quinta vez do ATL é de luta e agilidade em defesa de direitos, mas também de angústia. Segundo ela, a emergência climática tem imputado grande pressão sobre os territórios indígenas, as florestas e os rios.
“Os governantes e a sociedade em geral ainda não conseguem entender a importância de se preservar a vida. Então, a gente fica muito angustiado, porque a gente sabe que somos nós que seremos os primeiros impactados. Como já estamos sendo”, lamentou.
O território em que ela habita, no Baixo Tapajós na Amazônia, sofre com os efeitos da mineração e é ameaçado pela construção da Ferrogrão, um megaprojeto de ferrovia do agronegócio com quase mil quilômetros, que pretende ligar Sinop, em Mato Grosso, até Miritituba, no Pará, passando por Itaituba (PA).
O trem cortará ao menos seis terras indígenas, onde vivem aproximadamente 2,6 mil pessoas, além de 17 unidades de conservação. Na rota da área desmatada estão ainda três povos indígenas isolados, que não têm contato com não indígenas. “Um projeto de morte”, definiu Raquel.
A coordenadora do Citup destacou ainda que as mulheres indígenas sofrem diversos impactos do garimpo ilegal. Um deles afeta um dos períodos mais sensíveis, a amamentação, por meio da contaminação do leite materno por mercúrio. “Imagina você mãe saber que ao invés de estar dando saúde, está dando veneno para o seu filho?”, questionou.
A violência e a exploração sexual também assombram as mulheres indígenas em áreas de mineração. Comumente, mães perdem seus filhos para a “vida de garimpagem” e para doenças trazidas pelos garimpeiros.
“Mulheres sofrem de várias formas quando se fala de mineração. Além, claro, da terra, do solo, do rio, da floresta, dos nossos corpos estarem sendo destruídos e devastados pela mineração”, completou Raquel Tupinambá.
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Edição: Flávia Quirino