O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou, nesta sexta-feira (3), uma ação de distribuição de alimentos na praça central de Vila Boa de Goiás (GO), onde o movimento ocupou uma área falida de 8 mil hectares da Usina Companhia Bioenergética Brasileira (CBB), em abril.
A distribuição foi uma resposta às notícias falsas que os interlocutores da empresa estavam espalhando sobre o movimento na cidade, inclusive por meio de um carro de som. O MST doou três toneladas de alimentos saudáveis, sem veneno, para 500 famílias da cidade. "São alimentos produzidos pelos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária do MST no Distrito Federal e Entorno", destacou o movimento em nota.
O MST denunciou ao Brasil de Fato DF que, durante a ação desta sexta, duas viaturas da Polícia Militar de Goiás (PMGO) estiveram no local e tentaram impedir a distribuição de alimentos.
“[Foi] truculência mesmo da polícia. Eles queriam impedir de toda forma a gente de fazer a atividade. Mas a gente disse que não ia sair de lá porque estávamos ali para fazer um ato de solidariedade e as famílias já estavam aguardando o caminhão chegar para receber as doações. Ficou um clima meio chato, ficaram pressionando, mas saíram e aí a gente fez a entrega. Mas no final da entrega eles já estavam lá de novo”, contou Adonilton Rodrigues, do MST-DFE.
Além disso, uma dirigente do movimento foi intimada pela delegacia de Formosa (GO) para prestar esclarecimentos a respeito da distribuição de alimentos na cidade.
“Prestar esclarecimentos de que? A ação é legítima, democrática, a partir da livre manifestação! É um absurdo o que ocorre, a polícia de Goiás, o governo do Estado, agem como autoridades da ditadura. A democracia no nordeste do Estado de Goiás está em risco. A polícia age sob comando de latifundiários, que se acham donos do poder e que estão acima da lei”, afirmou a direção do MST do Distrito Federal e Entorno (DFE).
A reportagem entrou em contato com a PMGO a respeito da ação, mas ainda não obteve resposta. Caso a corporação se manifeste, a matéria será atualizada.
A ocupação
No dia 15 de abril, cerca de mil famílias ocuparam uma área falida de 8 mil hectares da Usina CBB, em Vila Boa de Goiás. A empresa deve mais de R$ 300 milhões em dívidas trabalhistas, previdenciárias, tributárias, ambientais e embargos, segundo o MST.
O movimento afirma ainda que a empresa vem, há muitos anos, explorando mão de obra barata na região, pagando diárias muito abaixo do estabelecido pelas leis trabalhistas. Em alguns casos, o valor pago teria sido de R$ 27, configurando trabalho análogo a escravidão.
Uma reportagem da Agência Brasil de junho de 2016 mostrou que cerca de 100 empregados da Usina estavam com salários e férias atrasados. Os trabalhadores afirmaram que estavam há sete meses sem receber pagamento. “Teve trabalhador precisando de ajuda de parentes para não ver a família passando fome. Passamos natal e ano novo sem receber nada. Alguns faziam comida em fogão a lenha porque não tinham dinheiro para comprar gás”, lembrou um dos entrevistados.
De acordo com o MST-DFE, a Usina já foi oferecida ao patrimônio da União para quitar dívida milionária e ser incorporada ao Programa Nacional de Reforma Agrária.
O objetivo é que 800 famílias sejam assentadas na área, gerando renda, trabalho digno e movimentando a economia do município através da produção de alimentos saudáveis.
Despejo forçado
Algumas horas depois da ocupação no dia 15 de abril, a Polícia Militar de Goiás (PM-GO) chegou ao local e realizou um “despejo forçado” sem ordem judicial. Cinco pessoas foram presas.
De acordo com o MST-DFE, as famílias passaram por uma ação de despejo violenta, sem amparo judicial e os detidos sofreram maus-tratos.
Segundo Marco Baratto, que integra a coordenação distrital do MST e foi detido durante a ação policial, as forças de segurança do estado de Goiás chegaram no local com cerca de 15 viaturas das polícias civil, militar e do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
“O Caiado [governador de GO] tem uma lei que qualquer ocupação, que eles chamam de invasão, tem a ordem para acionar as forças de segurança e tirar na hora e se o comandante das forças não tirar vai ser exonerado”, afirmou Barratto, chamando atenção para necessidade de se discutir essa legislação.
O representante do MST afirmou ainda que houve uma ação coordenada entre as forças de segurança do Goiás e o pessoal da fazenda. “Não apresentaram documentos de reintegração de posse. Chegaram lá na força bruta e nós estávamos em muita gente, resistimos e houve as detenções, inclusive a minha. Ficamos algemados mais de 4 horas, fomos para a delegacia e no final do dia saímos”, acrescentou.
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Edição: Flávia Quirino