O Comitê de Solidariedade à Palestina (CSP) realizou nesta terça-feira (7) um ato público em frente ao Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, na Esplanada dos Ministérios. Além da denúncia à ofensiva israelense que já matou mais de 30 mil pessoas, a manifestação também reivindicou a necessidade do fim das relações diplomáticas e econômicas que o Brasil mantém com o estado de Israel.
Uma das motivações da manifestação foi a notícia de que o Exército brasileiro encomendou a compra de 36 obuseiros, veículos blindados de combate, da empresa israelense Elbit Systems.
O valor total da compra dos obuseiros é estimado em cerca de R$ 1 bilhão. No processo licitatório, a Elbit Systems foi a escolhida pela Defesa brasileira mesmo com opções mais baratas de países como França, China e Eslováquia. A decisão do Exército brasileiro gerou críticas de entidades de defesa dos direitos humanos e de parlamentares, que questionam a compra de armamentos de uma empresa envolvida no processo considerado genocida.
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“Nossos impostos devem pagar por vida, não por genocídio. Nossos impostos não vão financiar estados genocidas. Nossos impostos são para tecnologia limpa, não genocida nem ecocida. Nossos impostos devem financiar tecnologia competente e não covarde”, destacavam cartazes da manifestação em frente ao Itamaraty.
Desde 7 de outubro do ano passado, o número de vítimas fatais ultrapassou 35 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças. Durante a manifestação em solidariedade ao povo palestino, um grupo formado por 12 mulheres simbolizaram mães palestinas carregando corpos de crianças mortas.
"Eu faço parte de um comitê de anistia internacional que reivindica o corte de relações com Israel, há muito tempo lutamos por essa pauta. Isso tem que ser pra ontem. Já estamos atrasados nesse sentido, não temos o que somar em relação a Israel. Nós não precisamos deles e não queremos levar essa guerra pra frente. Eu não falo contra judeus, mas sim contra o governo de Israel que vem praticando um massacre diário”, ressaltou Isa Soares Oliveira.
O ativista Thiago Ávila acrescenta que a posição brasileira de comércio com o militarismo sionista é contraditória. “O Brasil sempre teve uma história de solidariedade com o povo palestino, inclusive o governo brasileiro durante o mandato presidente Lula foi o primeiro a reconhecer o estado palestino e abriu uma embaixada da Palestina em Brasília. Temos relações históricas de solidariedade com esse povo que é vítima há mais de 76 anos de genocídio, um processo violento de limpeza étnica executado pelo estado sionista que foi instituído por meio de colonização e apartheid”.
Ávila ressalta que a compra do armamento pode significar que o Brasil é conivente com o genocídio do povo palestino. "As forças armadas alegam que foi uma compra legal, que seguiu os procedimentos legais. Porém a verdade é que o Brasil é signatário de convenções internacionais sobre genocídio e apartheid. Portanto, o Brasil está agindo contra o direito internacional ao executar essa compra de armas de uma empresa que na prática é a principal responsável pela máquina de guerra sionista. Estamos aqui para cobrar esse gesto do governo brasileiro de interromper imediatamente a compra desses blindados e interromper todos os outros acordos militares, acadêmicos e comerciais com Israel, e inclusive pressionar o Mercosul para fazer o mesmo”.
O movimento global BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que defende o boicote econômico ao Estado de Israel. A organização pede um "embargo total" de armas a Israel, seguindo o exemplo da Colômbia sob o governo de Gustavo Petro.
"O Brasil está se tornando um cúmplice feroz ao financiar indiretamente o genocídio israelense através dessas contratações", destacou Andressa Soares, representante do BDS no Brasil. A Elbit Systems é uma das maiores fabricantes de armas e sistemas militares de Israel e tem sido acusada de fornecer tecnologia para os ataques israelenses contra a Palestina, que resultaram na morte de milhares de civis.
"O Brasil tem a responsabilidade de defender os direitos humanos e a paz no mundo", disse Soares. "Comprar armas de uma empresa que é cúmplice de crimes de guerra é um ato inaceitável que mancha a imagem do nosso país."
Israel ataca Rafah
Localizada na fronteira sul da Faixa de Gaza, a cidade palestina de Rafah recebeu intensos bombardeios de Israel nesta terça (7) e a passagem que leva mantimentos para outras parte de Gaza foi fechada por tanques. Os bombardeios mataram ao menos 23 pessoas em Rafah, que desde o início da ofensiva se tornou um centro de refúgio para a população civil e uma porta de entrada para ajuda humanitária.
Cerca de 1,5 milhão de pessoas se refugiam na cidade, fugidas dos bombardeios em outras partes de Gaza.
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Edição: Márcia Silva