A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou, nesta sexta-feira (10), uma sessão solene em comemoração aos 51 anos da Frente Polisário, que representa a luta pela autodeterminação do povo da República Árabe Saaraui Democrática, conhecida como Saara Ocidental. Na ocasião, representantes da organização e parlamentares reivindicaram a criação de uma embaixada do país no Brasil.
Atualmente, 82 países reconhecem a independência do Saara Ocidental. Na América Latina, o Brasil é um dos poucos a manter uma posição de neutralidade, junto com a Argentina e o Chile. “Não faz sentido sermos um dos poucos países da América Latina a não reconhecer esses povos. Essa decisão vai além de um reconhecimento formal, é para reconhecer a luta desse povo pela sua libertação", disse o deputado distrital Max Maciel (Psol).
De iniciativa do parlamentar, ao Brasil de Fato DF, Maciel também informou que a sessão foi uma forma de chamar atenção para o Distrito Federal para uma situação internacional que acontece. Além de homenagear um movimento político ainda pouco conhecido no Brasil e lançar luz em um problema geopolítico.
“A nossa busca é fazer com que as Casas Legislativas, no Brasil, comecem a sensibilizar o conjunto dos parlamentares que são solidários às lutas internacionais e anticapitalistas para que o Brasil reconheça o povo saaraui e a República Democrática Saraui Ocidental”, disse. “Ter uma representação é um reconhecimento. Uma representação pode ser algo simbólico, do ponto de vista diplomático, mas para o povo, não. Ser reconhecido por um país é entrar na agenda internacional”.
Durante a sessão, também foi entregue ao embaixador Ahamed Mulay Ali Hamadin uma moção em sua homenagem. Em resposta, o representante internacional do Saara Ocidental deu, ao deputado, um diploma de reconhecimento pela sua “valiosa participação e contribuição nas atividades de solidariedade ao povo saraaui”. Além disso, também tomou posse, nesta manhã, a nova diretoria da Associação de Solidariedade e pela Autodeterminação do Povo Saaraui (ASAAURAUI).
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Segundo a ex-deputada distrital e federal e presidente da Associação de Solidariedade com o povo do Saara Ocidental, Maria José Conceição, conhecida como Maninha, a luta desta nação entrou em pauta em meados dos anos 1994 no Brasil. “A partir de 2002 e 2003 começamos a receber as representações da Saara e da Frente”, afirmou. Maninha ainda destacou a necessidade de uma rede de solidariedade para reconhecer como legítimo os representantes da nação.
A última colônia da África
Durante a sessão solene, Ahamed Mulay Ali Hamadi, também contextualizou a questão histórico-política da Saara Ociental. “Há 51 anos atrás, nasceu a Frente Polisário, movimento do povo saaraui que se viu obrigado a pegar as armas para combater, primeiro, o colonialismo espanhol. O nosso povo buscou fazer negociações com o colonialismo pela nossa independência. A resposta espanhola foi o massacre contra a pacífica manifestação de 1970, que deixou dezenas de mortos, centenas de feridos e encarcerados.”
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Em 1975, a República Saaraui foi fundada, após conquistar sua independência da Espanha. Depois de expulsar os espanhóis, o povo saaraui passou a lutar contra a invasão do Marrocos, que busca anexar seu território de cerca de 266 mil km², no norte da África, rico em fosfato e com vasta costa marítima voltada para o Atlântico.
Atualmente, cerca de 600 mil pessoas resistem à invasão do Marrocos na Saara Ocidental, sendo 260 mil nos acampamentos de refugiados na Argélia, 200 mil no território liberado e outros 100 mil no exílio.
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Para Maninha, o conflito no território ainda é ignorado pela sociedade. “Essa é uma guerra esquecida por todo mundo, se fala da guerra da Ucrânia e da questão na Palestina, mas o Saara Ocidental sempre se manteve esquecido”, disse.
Ao Brasil de Fato DF, o embaixador completou: “Temos falado sobre o trabalho para fazer com que o presidente Lula faça o mesmo para o povo saaraui como fez para o povo da Palestina, porque são as mesmas histórias. São as mesmas lutas. Nós, contra o Marrocos, e nossos irmãos palestinos contra Israel”.
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Edição: Márcia Silva