A greve da Educação Superior tem caráter democrático, de luta por direitos
A greve nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) chega ao seu segundo mês, no que se refere às servidoras e servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAE), e completa um mês para a categoria docente. Embora o movimento paredista continue firme e avançando, entende-se como fundamental apontar, desde já, os seus resultados.
São mais de 50 Universidades Federais e mais de 80 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), resultando em mais de 500 campi pelo país e centenas de milhares de servidoras, servidores e estudantes que paralisaram suas atividades para lutar por melhores condições de trabalho, mas especialmente para lutar em defesa da educação pública. Este mote dialoga com as demandas da classe trabalhadora e em especial com a juventude, que sabem a importância das instituições públicas de ensino, pois é um fato fundamental de acesso ao Direito à Educação . Segundo pesquisa da QUAEST, publicada no jornal O Globo no dia 11 de maio, 78% da população brasileira apoia a greve na Educação Superior, considerando-a justa, o que demonstra uma compreensão social sobre a defesa do ensino público no nosso país.
A greve da Educação Superior tem caráter democrático, de luta por direitos, pois restabelece na prática o direito de greve, mas também o direito de lutar por melhores condições salariais e de trabalho. Trabalho este que significa a defesa do aparato público a serviço da classe trabalhadora, do acesso e produção do conhecimento, com recursos públicos e para o público. Este é o princípio da defesa da Educação Pública, seja no nível Básico e Superior. Não custa lembrar que o Golpe de 2016 e os anos que se seguiram foram de negacionismo, de caça às Instituições de ensino, de sucateamento das universidades e institutos. Essa greve reafirma o compromisso com a defesa de um direito de todos e todas, e que não deve ser apropriado privativamente e para o lucro.
O que está em disputa?
O movimento paredista coloca no cerne do debate a disputa pelo Orçamento Público, num contexto em que o capital financeiro, representado no Congresso Nacional pela extrema direita golpista e rentista, e também por grupos dentro governo de frente ampla, que disputa palmo a palmo os recursos públicos.
A greve recoloca no debate a serviço de quem deve estar o Estado Democráatico de Direito, e que se faz necessário disputar cada recurso para assegurar direitos da classe trabalhadora. A greve faz um enfrentamento direto com a estrutura estatal que cooptou os bens produzidos pela sociedade em benefício de uma pequena parcela de rentistas e politiqueiros que se mantém no poder. O movimento paredista está em disputa pelo orçamento para a Educação Federal pública, que tem se reduzido a cada ano.
A greve de servidoras e servidores da educação superior, numa construção conjunta, em unidade, demonstra sua capacidade e força coletivas, bem como o caráter pedagógico e formativo da luta.
Dessa forma, a greve tem servido como um instrumento coletivo, solidário, politizador e de resistência à uma dinâmica social que cada vez mais nos segrega, paralisa e, nisso, nos enfraquece.
Depois de muito tempo, temos assembleias novamente cheias, com a vida sindical pulsando; a política voltou a ocupar o centro dos debates, rememorando a própria natureza política das IFES e da educação pública; há (mais uma vez) um conjunto de demonstrações concretas de que quem tem sindicato não está só; há, também, o enriquecimento dos laços e o fortalecimento da identidade coletiva entre servidoras e servidores.
Ausência de reajuste em 2024 é inaceitável
Do ponto de vista concreto na vida das e dos servidores tem-se impactos positivos nas condições de trabalho e de vida de servidores, conquistando o reajuste de benefícios (auxílio alimentação, valor do per capita da saúde suplementar e da assistência pré-escolar). Sabemos que não é suficiente, afinal, reivindicamos, até o ano de 2026, a equiparação de tais benefícios com as e os servidores dos três Poderes da República, garantindo um cenário de isonomia, mas as pequenas vitórias, são passos importantes para as grandes conquistas do movimento paredista.
Do ponto de vista das negociações, pode-se afirmar que a greve já garantiu a melhoria na proposta de reajuste salarial para a categoria docente, saindo de um patamar de 9% (com 0 em 2024, 4,5% em 2025 e 4,5% em 2026), para o de 12,5% (0 em 2024, 9% em 2025 e 3,5% em 2026). Há ainda mudanças positivas na carreira docente, referentes ao reajuste de steps (degraus), embora muito tímidas, são importantes . Os pequenos avanços não atendem a reivindicação de reajuste proposta pela categoria (de 22,71%). Para a categoria a ausência de reajuste em 2024 é inaceitável.
Contudo, mesmo sendo bastante insuficientes, tais propostas, do ponto de vista do movimento paredista, devem ser entendidas como avanços, como conquistas - a impulsionar a continuidade de mobilização da categoria não só no decorrer da greve, mas após o seu fim. É graças ao movimento paredista e à força da greve que foi possível, em primeiro lugar, o avanço no processo de negociação, que se arrastava sem avanços desde 2023.
Por fim, ressaltamos outra conquista do movimento paredista, que se refere à recomposição orçamentária das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). No dia 10 de maio, foram publicadas duas portarias, nas quais o Ministério da Educação (MEC) recebe um crédito suplementar de R$347 milhões, para recompor os orçamentos das IFES. Sabemos que o referido valor é também bastante insuficiente, ficando abaixo do próprio corte que havia sido feito pelo MEC no ano de 2024 às IFES e muito distante dos R$2,5 bilhões demandados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Contudo, mais uma vez, da perspectiva do movimento paredista, representa um avanço.
Temos ainda muito a avançar. O caminho mostra a importância da luta feita e de permanecermos mobilizados, sendo a greve não só um instrumento de luta importante, mas também um meio, e não o fim em si. Só a luta muda a vida!
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* Comando Local de Greve da Universidade de Brasília - ADUnB-S.Sind.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Márcia Silva