A 2ª Vara da Fazenda Pública do DF condenou o Governo do Distrito Federal a pagar indenização de R$ 100 mil à mãe de Gustavo Henrique Soares Gomes, jovem de 17 anos assassinado por um sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) em janeiro 2022. No processo, consta que a sentença é do dia 03 de abril de 2023 e foi disponibilizada no Diário de Justiça Eletrônico em 05 de abril de 2024. Segundo informações da 2ª Vara da Fazenda Pública, o GDF tem prazo de 30 dias para recorrer e que, no caso, já foi apresentada a Apelação (recurso) por parte do Distrito Federal em face da decisão.
Suely dos Santos Oliveira era mãe adotiva de Gustavo e relata que entrou em estado de forte sofrimento e depressão após o ocorrido, motivo pelo qual buscou a reparação dos danos sofridos.
O adolescente foi morto após perseguição policial em Samambaia. Gustavo estava na garupa de uma motocicleta quando foi alvo de tiros disparados pelo sargento Edimilson Dias Ferreira Júnior.
A defesa do GDF alega que não há provas concretas de como ocorreram os fatos que levou à execução sumária de Gustavo pelo policial, nem provas de vínculo socioafetivo entre Suely e o jovem executado. Ainda podem entrar com recurso para reverter a multa.
Na decisão, o juiz Daniel Eduardo Branco Carnacchioni pontuou que testemunhas e documentos, como relatório do Conselho Tutelar e fotos, demonstram a existência do vínculo entre Suely e Gustavo e a responsabilidade dela pelo jovem. Diante das provas que desmentem a defesa do GDF e do fato de que o assassino era um policial em serviço, o juiz finalizou afirmando que “estão presentes os requisitos da responsabilidade objetiva do Estado, motivo pelo qual o ente público deve responder pelos danos causados à autora”.
Na avaliação de Samuel Vitor Gonzaga, advogado e coordenador do coletivo Pelas Vidas Negras - DF que acompanhou de perto a família de Gustavo Henrique após o trauma, o resultado do julgamento sobre indenização do Estado é um valor irrisório para a perda de um jovem que trabalhava e ajudava a família. "Ele também estudava e tinha planos para construir sua vida até o momento em que sua trajetória foi ceifada. Não vai ser 100 mil reais que vai trazer valor dele de volta. Essa quantia pode simbolizar que o estado errou ali, mas mesmo que fosse um milhão de reais também não traria o valor da vida dele de volta. De qualquer forma, essa quantia é suficiente? Também não. É uma indenização que pode ajudar por agora, mas não por um longo prazo pelos custos de saúde mental e sofrimento no esforço para se conseguir um mínimo de justiça”.
O caso Gustavo Henrique
Com 17 anos de idade, Gustavo estudava de manhã e trabalhava como chapeiro numa hamburgueria. No dia da execução, estava na garupa de uma moto conduzida por um amigo e xará, Gustavo Matheus Santana da Silva, de 18 anos de idade. Na ocasião da morte do jovem, a PMDF informou que duas motos furaram um bloqueio policial operando na quadra 609 de Samambaia, a vítima estava no passageiro da segunda moto.
Os policiais chamaram o Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) para prestar socorro ao adolescente, que foi levado para a UPA de Samambaia, mas o jovem não resistiu. Depois da morte, a família de Gustavo Henrique, amigos de escola e organizou um protesto para denunciar a ação policial que resultou na morte do adolescente por PM com motivações racistas, já que o adolescente era negro.
Na época, o coletivo Pelas Vidas Negras DF, observou que "os laudos, perícias, testemunhas e desdobramentos do caso comprovaram que não havia simulacro, eliminando a possibilidade de Gustavo representar qualquer ameaça. Foi comprovado que o policial não seguiu o procedimento padrão, disparou e reconheceu o erro imediatamente".
Em julho de 2023, o policial assassino foi indiciado por homicídio doloso. Para alegar legítima defesa, a PMDF afirmou que o sargento reagiu ao ser provocado, que a vítima teria feito menção em sacar uma arma e depois acrescentaram que o rapaz portava um simulacro de arma de fogo. A corporação indicou que a suposta arma falsa havia sido encontrada num matagal próximo do ocorrido. Porém as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) descartaram a tese de legítima defesa do militar, pois, entre outras incoerências, as digitais do adolescente não foram encontradas no objeto.
:: Caso de jovem negro morto pela polícia faz 1 ano sem denúncia aceita pela Justiça do DF ::
Em novembro de 2023, o Tribunal do Júri absolveu o policial que puxou o gatilho. Segundo o advogado da família da vítima, quatro dos sete jurados decidiram absorver o policial e outros dois votaram pela condenação e, com maioria já formada, o último voto foi ignorado. A decisão frustrou a família da vítima Gustavo Henrique Soares e ativistas contra a violência policial no distrito federal.
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Edição: Márcia Silva