Distrito Federal

Luta por direitos

Visibilidade e implementação de políticas públicas foram mote central da 1ª Parada do Orgulho PCD em Brasília

Mobilização foi realizada neste domingo (26); próximas paradas acontecem ao longo do ano em outras capitais

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Organizadores da 1ª Parada do Orgulho da Pessoa com Deficiência em Brasília - Bruna Adelaide

A cidade de Brasília (DF) recebeu na tarde deste domingo (26) a 1ª edição da Parada do Orgulho de Pessoas com Deficiência (PCD). O evento, já realizado em algumas capitais como  São Paulo no ano passado, Salvador (BA) em janeiro e Recife (PE) em abril, marca um avanço significativo na promoção da inclusão e da conscientização das pessoas com deficiência em todo o país.

Em uma tenda montada na Torre de TV, localizada na região central da capital federal, diversas atrações foram realizadas, incluindo apresentações de dança street em cadeira de rodas, performances musicais - como uma banda de percussão compostas por pessoas surdas-, teatro e poesia.

O objetivo principal das atividades foi o de promover a visibilidade à luta do movimento PCD pela equidade de direitos, acessibilidade e implementação de políticas públicas efetivas para a comunidade. Além dessas atrações, foi entregue a cartilha “Combata o Capacitismo”, disponibilizada pela Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Para Pedro Maron, de 13 anos, que é cego e autista, o evento foi muito importante para mostrar à sociedade a importância das pessoas com deficiência. “Estou aqui para prestigiar este evento, que é muito especial para mim, porque fala da necessidade do respeito às pessoas com deficiência e também das pessoas se conhecerem”, contou. Pedro ficou conhecido na última Copa do Mundo de 2022 por ter inventado o Álbum da Copa em Braille. O braille é um sistema de escrita e leitura tátil desenvolvido para pessoas cegas.


Pedro Maron, de 13 anos, em troca com participantes da 1ª Parada do Orgulho da PcD em Brasília / Bruna Adelaide

Mariana Guedes, jornalista e dançarina do grupo Street Cadeirante, que se apresentou na Parada, destacou a importância da acessibilidade como uma das principais pautas do movimento. Ela compartilhou sua experiência de nove anos como cadeirante, enfatizando que encara a deficiência como uma oportunidade de perceber o mundo de uma maneira diferente.

“A deficiência surgiu na minha vida e eu a encaro como um presente, uma possibilidade de enxergar o mundo com outra perspectiva. Só que existem muitos desafios, ainda somos muito invisibilizados, não temos o essencial, que é o acesso a todos os lugares. As pessoas, infelizmente, não nos respeitam em várias situações, seja em relação às vagas preferenciais ou  a outros direitos fundamentais. Mas quando nos unimos a outras pessoas com deficiências, ganhamos força, potência para conquistar a visibilidade que tanto precisamos”, disse.


A jornalista Mariana Guedes destaca a acessibilidade com uma das principais pautas para PcD / Bruna Adelaide

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi criada apenas em 2015, com a Lei 13.146. Para a jornalista, a questão da acessibilidade não deveria se restringir apenas às pessoas com deficiência. “Idosos, crianças, pessoas com carrinhos de bebê precisam de acessibilidade. E, da mesma forma como eu me tornei uma pessoa com deficiência, outras pessoas também podem se tornar”, enfatizou Mariana.

Geovanna Neves, uma das integrantes do grupo Pegada Black, que se apresentou no início da Parada, afirmou se sentir representada no dia de hoje.  “Estou muito feliz por participar da 1ª Parada do Orgulho PCD e me apresentar com o meu grupo, porque eu também sou uma pessoa com deficiência. Estar neste evento ao lado de tantas outras pessoas com deficiência mostra que é possível correr atrás dos nossos sonhos”, afirmou.


Cartilha de orientações para combate ao capacitismo / Bruna Adelaide

Segundo uma das coordenadoras da Parada, Júlia Piccolomini, organizar a 1ª Parada do Orgulho PCD foi um desafio.

“A preparação para a Parada começa muito antes do próprio dia. São voluntários, todos com deficiência, demonstrando como elas são incríveis em termos de design, estrutura, projetos e de tudo que envolve a organização de um grande evento. A ideia é que a gente continue crescendo, atraindo mais pessoas e que elas também se sintam cada vez mais à vontade e felizes. É importante entender que o problema não está em nossos corpos, mas sim na sociedade que ainda não está preparada para nós. São essas barreiras que precisamos quebrar para alcançarmos a equidade e garantirmos que os nossos corpos tenham o acesso necessário para viver nessa sociedade”.

Agenda na CLDF

Na próxima terça-feira (28), às 10h, ocorrerá uma sessão solene na Câmara Legislativa do Distrito Federal em homenagem ao Orgulho das Pessoas com Deficiência. Além disso, a Parada do Orgulho PCD deve acontecer ainda este ano em outras capitais do país: Belo Horizonte (MG) em julho, São Paulo em setembro, e no Rio de Janeiro em novembro.

População PCD no DF

De acordo com o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPE-DF), em 2022 a população de pessoas com deficiência era de 113.642, equivalente a 3,8% da população local.

O Instituto apontou a desigualdade em relação à renda e ao acesso ao mercado de trabalho. A renda média do trabalho principal das PCDs é de R$ 2.246,96, enquanto a das pessoas sem deficiência chega a R$ 3.817,52.

A situação se agrava quando se observa o acesso ao trabalho. Apenas 54,3% das PCDs estão na força de trabalho, contra 72,5% da população em geral. Entre as PCDs que trabalham, 27,1% estão em situação de subocupação, ou seja, trabalham menos horas do que gostariam ou poderiam.

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Edição: Márcia Silva