O coração da região administrativa de Planaltina (DF) recebeu neste sábado (25) o evento cultural 'Poesia Nas Quebradas', que atraiu jovens de diversas partes do Distrito Federal para uma série de atividades na Praça do Estudante.
“Foi a primeira vez que eu participo de um evento como esse, aqui em Planaltina, porque sempre que tem alguma coisa cultural a gente tem que se descolar até o Plano e acaba desmotivando”, avaliou a estudante Jéssica Camargo, que participou do evento e recebeu o livro com as histórias de 58 escritores periféricos. “São pessoas pretas, da periferia que escreveram este livro. Então, a gente se identifica com as histórias”, acrescentou Jéssica ao se referir ao livro “Cartas para Adiar o Fim do Mundo”, que foi distribuído gratuitamente.
O professor Kamvula Dudu foi um dos autores do livro e falou durante o seminário sobre a importância do projeto que acabou possibilitando que vários jovens periféricos tivessem a oportunidade de serem escritores pela primeira vez e contar a sua vivencias para ficar para a história.
“Tenho oito anos de Secretaria de Educação e sempre tive muita dificuldade em formar leitores. O pessoal de periferia, normalmente não tem leitores em casa. Então, é muito difícil para eles se apaixonarem pela leitura”, relatou Kamvula, acrescentando: “Esse tipo de proposta contribui muito para que os jovens de periferia, em sua maioria negros, se sintam representando e tenham interesse pela leitura”.
Durante a mesa, um dos depoimentos mais emocionantes, que levou várias pessoas às lagrimas foi do MC Favelinha, que cresceu com mãe solo, começou a trabalhar aos 7 anos e aos 15 enfrentou o sistema socioeducativo. “Esse tipo de trabalho [sociocultural] faz toda diferença na vida de adolescente e também para quem está dentro do sistema socioeducativo, como eu estive por ano. E graças a isso hoje eu voltei sistema socioeducativo como socioeducador”, começou MC Favelinha.
A também estudante Renata [preferiu não falar o sobrenome] foi uma das que se emocionou muito com os relatos do MC Favelina, pois tem um irmão no sistema socioeducativo e deseja que sua vida tenha um bom desfecho. “Eu chorei porque lembrei do meu irmão e fico preocupada com a vida dele lá [sistema socioeducativo]”, desabafou a estudante, que também levou seu filho de cinco anos para participar das atividades do Espaço Cria. “É isso que o jovem de periferia precisa. De eventos como esse e relatos assim”, acrescentou Renata.
“É a primeira vez que a gente consegue, enquanto ‘Poesia nas Quebradas’ fazer um evento como este, ocupando as ruas e a praça”, contou a ativista social Ravena Carmo, que foi uma das organizadoras do evento, com uma voz emocionada. “É uma conquista muito grande conseguir chegar, conseguir recurso, divulgação e trazer tanta gente com conteúdo legal para falar”, descreveu Ravena.
Ao falar sobre o livro, Cartas para Adiar o Fim do Mundo, em que é uma das organizadores, Ravena destacou sobretudo a importância da iniciativa.
“O livro consegue reunir vários eixos da nossa quebrada, de vários públicos e hoje a gente publicou 57 artista e escritores em um livro que tem esse título provocativo, porque hoje o fim do mundo foi adiado, mais uma vez, porque mais uma vez estamos dizendo para mundo que vamos continuar ocupando também os espaços de literatura e produção de conhecimento”.
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Edição: Márcia Silva