Ao comparar os percentuais de desmatamento de outros estados do país, o Distrito Federal apresentou o maior índice de área devastada, de acordo com dados do novo Relatório Anual de Desmatamento (RAD), divulgados nesta terça-feira (28) pela rede MapBiomas. Pela primeira vez, o Cerrado foi o bioma que apresentou o maior desmatamento, com um aumento de 67,7% em 2023, na comparação com o ano anterior e no DF este aumento foi de 612,5%. Em 2022, foram 90 hectares de áreas desmatadas no DF, mas esse número subiu para 638 hectares em 2023.
De acordo com a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Roberta Rocha, que atuou na elaboração do RAD, nos dados relacionados ao Cerrado, houve em 2023 uma melhoria na capacidade de detectar o desmatamento, com emprego de mais tecnologia. No entanto, a pesquisadora destacou o aumento real no desmatamento no DF. “A gente sabe que no contexto do Distrito Federal tem a questão da grilagem de terra e o desmatamento para especulação imobiliária”, ressaltou Roberta.
“Desde que o MapBiomas realiza o levantamento, em 2019, é a primeira vez que o Cerrado apresenta a maior área desmatada do Brasil e assume um lugar que antes era ocupado pela Amazônia”, destacou Roberta Rocha, durante sua apresentação no lançamento do RAD de 2023, que ocorreu nesta terça-feira em Brasília.
A área desmatada no Cerrado equivale a 1.110.326 hectares, que corresponde principalmente a locais na região do Matopiba entre Bahia, Piauí, Tocantins e Maranhão.
A pesquisadora chamou atenção, que diferente do que ocorreu nos outros biomas, no Cerrado o aumento do desmatamento também foi registrado em territórios indígenas e áreas de proteção ambiental.
Nos dados gerais do RAD 2023 foi detectado desmatamento de uma área de 1,8 milhão de hectares devastados em todo Brasil, o que significou uma redução de 12% no desmatamento na comparação com 2022.
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O secretário Extraordinário de Controle dos Desmatamentos e Ordenamento Ambiental e Territorial Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), André Lima, destacou as ações do governo federal para diminuição do desmatamento, mas ressaltou que é preciso avançar mais. “Desmatamento ilegal é consenso. Não dá para a gente [governo federal] financiar desmatamento ilegal”, afirmou o secretário, destacando que haverá um mecanismo para acelerar o processo de suspensão de cadastro dos produtores que provocarem desmatadores ilegais e impedir o acesso ao crédito governamental, conforme já prevê o código florestal.
O evento de lançamento também contou com a presença do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, que falou sobre o trabalho concentrado em municípios brasileiros que já apresentavam altos índices, diante da falta de profissionais no órgão que passou por um sucateamento nas gestões anteriores.
“Existem diferentes realidades do Brasil e apenas o Comando e Controle [Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento] não vai ser suficiente. Precisamos desse sistema, mas também precisamos voltar a criar áreas protegidas”, defendeu Agostinho. Segundo ele, está previsto concurso público para contratação de novos servidores para o órgão.
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O representante da Coalizão Brasil Clima Floresta e Agricultura, Fernando Sampaio, reforçou a importância de o governo vetar o financiamento daqueles que promovem desmatamento e acredita que essa ação pode interromper a situação grave do Cerrado. “Eu tenho a impressão de que esses dados são fruto de um sentimento de alguns de que precisam desmatar tudo enquanto dá, porque daqui a pouco não vai dá mais”, analisou o representante da Coalizão, que alertou sobre a necessidade de intensificação das ações contra o desmatamento no Cerrado.
Governo do Distrito Federal
Em nota, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo do Distrito Federal (GDF) destacou os dados absolutos de área desmatada para minimizar o crescimento do desmatamento no DF, que tem o menor território entre as unidades da federação.
“A área técnica do Brasília Ambiental explica que a interpretação dos dados do desmatamento por estado do MapBiomas, no que se refere ao Distrito Federal, deve ser diferenciada, devido à escala territorial, que é que compara o tamanho do DF com a extensão de todos os outros entes federativos”, destacou a nota, ressaltando os dados absolutos em que o DF aparece o quarto ente federativo que menos desmata.
“Em 2022, por exemplo, foi detectada uma área desmatada de 90 hectares, e em 2023, 638 hectares, o que representa um crescimento de 612,5%, que pode até parecer muito, porém significa apenas 0,27% de perda de vegetação nativa no DF”, destacou a nota da Secom.
Ainda na nota, o governo do DF pontuou que “no que se refere a medidas de proteção ambiental para o Cerrado, o Instituto Brasília Ambiental informa que, dentro do que lhe compete, está criando novas unidades de conservação, espaços protegidos como as Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN) e servidão ambiental”.
A Secom também apresentou ações que vem sendo desenvolvidas, como a contratação de 150 brigadistas destinados ao combate dos incêndios florestais nas UC’s sob a gestão do Brasília Ambiental, no período de junho a novembro e a publicação do Decreto de Emergência, que declara o estado de Emergência Ambiental no DF com relação aos incêndios florestais.
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Edição: Flávia Quirino