Distrito Federal

CAOS NO SUS DO DF

Fala de Celina sobre pacientes do Entorno para explicar crise na Saúde gera repercussão negativa

Vice-governadora afirma que 49% dos atendimentos do DF são da região do Entorno; ex-prefeita de Valparaíso discorda

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Vice-governadora, Celina Leal, não apresentou dados para comprovar fala sobre Entorno - Renan Lisboa (estagiário)/CLDF

As falas da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), minimizando a crise na saúde e culpando os pacientes do Entorno pela situação caótica têm causado forte repercussão negativa. Já o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), apesar de aparecer em eventos públicos na última semana, tem ignorado o tema e chegou a dizer que não há crise na saúde, apesar das filas nos postos de atendimento e das mortes de crianças com suspeita de negligência no atendimento.

"Hoje, 49% dos nossos atendimentos são frutos da região do Entorno”, afirmou Celina, em entrevista ao Correio Braziliense, na última sexta-feira (31). No entanto, a vice-governadora não apresentou dados para comprovar essa afirmação nem explicou a relação do atendimento das pessoas do Entorno com as longas filas de espera no atendimento do SUS no DF e as mortes das crianças.

Historicamente, parte dos moradores do Entorno busca atendimento de saúde no DF. Porém, a população da região é menor que a do Distrito Federal, o que não justificaria a declaração da vice-governadora. De acordo com o Censo 2022, o DF possui 2,8 milhões de habitantes, enquanto o Entorno (municípios da Periferia Metropolitana de Brasília-PMB) tem aproximadamente 1,3 milhão, ou seja, menos da metade dos residentes do Distrito Federal.

“Essa afirmação de que a metade dos pacientes do DF são do Entorno não para em pé. Primeiro, porque nossa população é menor e, por mais que as pessoas daqui precisem sair para conseguir atendimento de saúde, existem os hospitais do Entorno”, lembrou Lucimar Nascimento, ex-prefeita de Valparaíso, pelo PT, entre 2013 e 2016. Segundo ela, o estado de Goiás precisa investir mais na saúde do Entorno, com a construção de mais hospitais regionais e fazer parcerias com o DF.

“Os governos de Goiás e do DF ficam nesse empurra-empurra e não resolvem o problema, mas é fato que a estrutura de saúde no Entorno melhorou muitos nas últimas décadas, graças parcerias dos municípios com o governo federal que resultaram na criação de UPAs e unidades básicas de Saúde”, destacou Lucimar. “O caos da saúde no DF atualmente é culpa da privatização e da má gestão e não dos pacientes do Entorno”, acrescentou a ex-prefeita.

Secretária de Saúde do DF presta contas durante audiência pública na Câmara Legislativa

Para o líder da oposição na Câmara Legislativa do DF (CLDF), Gabriel Magno (PT), a fala de Celina é mais um "desastre" do Governo do Distrito Federal (GDF), que age "muito mal" diante da crise na saúde, além de negar sua existência. “Ela [Celina] tenta botar a culpa nessa questão do Entorno e isso não é verdade e nem é a causa da crise. Primeiro, que já era assim e é assim em todas as capitais do Brasil. Essa lógica do funcionamento do SUS, que é universal. Os grandes centros concentram os serviços de atendimento e as cidades menores encaminham pacientes, mas isso sempre foi assim e não explica a crise”, disse Magno.

O deputado distrital lembrou, ainda, que Ibaneis não sentou para dialogar com os prefeitos do Entorno, nem com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que, apesar de também ser do campo bolsonarista, estaria “brigado” com o gestor do DF. “Falta estruturar consórcios para compartilhar serviços e recursos”, destacou Magno.

O parlamentar também avalia que um dos grandes problemas é a constante expansão do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), pelo GDF, para terceirizar as responsabilidades, o que tem sido alvo de várias denúncias de corrupção. “Por isso a CPI para investigar o IGES e a saúde no DF é importante", avaliou.


Deputados de oposição protocolam requerimento para instaurar CPI para investigar o Iges-DF / Marcos Tavares/ Agência CLDF

Governo de Goiás

Por meio de uma nota, o governo de Goiás respondeu que a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) disponibiliza para a população do Entorno do DF dois hospitais estaduais localizados nos municípios de Formosa e de Luziânia, além de anunciar a inauguração de uma terceira unidade hospitalar em Águas Lindas de Goiás. Segundo a nota, os dois hospitais estaduais em funcionamento no Entorno oferecem 146 leitos gerais destinados à internação, 30 em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e capacidade de realização de cirurgias e exames, e prestam atendimento prioritário, que deve ser ampliado com o hospital de Águas Lindas.

"A SES-GO também disponibiliza para a população dois leitos conveniados no Hospital Municipal Chaud Salles, em Cristalina de Goiás, e 3 leitos cirúrgicos no Hospital Municipal de Padre Bernardo Dra. Maria Márcia Gonzaga. Além disso, disponibiliza serviços ambulatoriais e de pequena cirurgia em outros municípios do Entorno”, informou a pasta. Outros municípios do Entorno também contam com hospitais municipais e UPAs de atendimento 24 horas, de acordo com a SES-GO.

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Edição: Rafaela Ferreira